Azul busca opções para pagar dívida enquanto negocia com a Gol, dizem fontes

Segundo fontes à Bloomberg News, follow-on é a opção preferida, enquanto um pedido no Chapter 11 nos EUA seria uma alternativa a ser evitada. Empresa diz que busca ‘solução amigável’

Aviões da Azul e da Gol no aeroporto de Congonhas, em São Paulo
Por Rachel Gamarski - Giovanna Bellotti Azevedo
29 de Agosto, 2024 | 09:52 AM

Bloomberg — A companhia aérea Azul (AZUL4) avalia opções que vão desde uma oferta de ações a um pedido de proteção contra credores nos Estados Unidos, pelo Chapter 11, enquanto luta para cumprir obrigações de dívida com vencimento iminente, disseram à Bloomberg News pessoas com conhecimento do assunto sob condição de anonimato.

As ações da Azul caíram 24% nesta quinta, para uma mínima histórica, com a negociação sendo repetidamente interrompida.

Embora um pedido no Chapter 11 esteja em consideração, a Azul pretende evitá-lo e trabalha com o Citigroup (C) para uma potencial oferta de ações, disse uma das pessoas. A companhia também trabalha com o Citi como assessor sobre o potencial contrato de fusão com a Gol (GOLL4).

Outra opção que vem sendo estudada é a emissão de novas dívidas por meio da unidade de carga da Azul. Representantes do banco americano e da Azul não comentaram inicialmente à Bloomberg News. Posteriormente, a Azul diz que busca uma “solução amigável” (veja mais abaixo).

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A aérea também trabalha para acelerar a eventual fusão com a Gol, para assim convencer os credores de que uma nova companhia combinada teria níveis mais baixos de dívida e melhores perspectivas de crescimento, disse uma das pessoas.

Mas essa abordagem é vista como menos atraente, considerando as urgentes necessidades de caixa da Azul e os fracos resultados financeiros.

Azul: busca por ‘soluções amigáveis’

Mais tarde nesta quinta, a Azul disse em comunicado que tem analisado opções para cumprir suas obrigações e observou que poderia levantar US$ 800 milhões por meio de sua unidade de transporte de carga e que está ativamente em conversas com as partes interessadas para encontrar o “melhor resultado”. No comunicado regulatório, afirmou que sempre prefere soluções amigáveis e comerciais.

A Gol entrou com pedido de proteção no Chapter 11 dos EUA em janeiro, tendo que lidar com US$ 2,7 bilhões em passivos de curto prazo e realizar mais de uma dezena de trocas de dívidas.

Três outras companhias aéreas da região – Avianca, Latam Airlines e Grupo Aeromexico – entraram com o pedido em 2020, com seus respectivos processos se arrastando por anos. Desde então, transportadoras menores como a InterJet, do México, e a Viva Air, da Colômbia, encerraram operações.

A Azul foi o única entre o trio de companhias aéreas dominantes do Brasil que não pediu proteção contra credores após a pandemia de covid-19, que dizimou a indústria de viagens.

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Em vez disso, a empresa conseguiu alongar os vencimentos por meio de uma troca de títulos em junho de 2023. Mas ainda enfrenta obrigações de leasing e altos pagamentos de juros sobre sua elevada dívida.

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Com o real mais fraco, as despesas da companhia foram infladas, incluindo pagamentos de leasing em dólares e custos de combustível atrelados à moeda americana. A empresa possui R$ 382 milhões de títulos de 2024 a serem pagos neste ano, além de US$ 550 milhões a serem pagos nos próximos quatro anos.

As ações da Azul caíram depois que a companhia registrou perdas líquidas de R$ 3,87 bilhões no segundo trimestre, além de um aumento em sua dívida líquida.

O nível de alavancagem da empresa subiu para 4,5 vezes seus ganhos antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), ante 3,7 vezes no trimestre anterior, de acordo com suas mais recentes informações financeiras publicadas.

A companhia aérea, que também elevou sua previsão de alavancagem para o final do ano, culpou a moeda brasileira mais fraca e as inundações catastróficas em maio que paralisaram os negócios no estado do Rio Grande do Sul, onde o principal aeroporto em Porto Alegre permanece fechado.

O Congresso aprovou, na noite de quarta-feira (28), um plano de resgate para as companhias aéreas, que inclui empréstimos apoiados pelo Estado por meio do BNDES. A linha de crédito também poderá ajudar a aliviar a pressão sobre a Azul, que se qualificaria desde que não peça proteção contra credores.

- Matéria atualizada às 18h20 de quinta-feira (29) com o fechamento da ação no pregão da B3 e com o posicionamento da Azul em comunicado divulgado ao mercado.

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