Azul busca levantar recursos adicionais após fechar acordo com arrendadores

Segundo fontes disseram à Bloomberg News, empresa busca um financiamento que pode incluir a captação de até US$ 400 milhões em dívida por meio de sua unidade de carga

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Bloomberg — A Azul (AZUL4) busca levantar recursos como parte de um acordo fechado na semana passada com seus arrendadores de aeronaves, um passo fundamental na tentativa da companhia aérea brasileira de lidar com suas obrigações de dívida.

A empresa conseguiu fechar um acordo com arrendadores e fornecedores de peças que reduz sua dívida em R$ 3 bilhões em troca de 100 milhões de novas ações preferenciais. O anúncio fez com que as ações subissem até 22%.

Mas o impulso provou ter vida curta. O papel teve alta de menos de 1% na semana passada e continua com queda de mais de 60% neste ano, o pior desempenho do Ibovespa (IBOV).

Embora bem-vindo pelos investidores, o acordo não fornece o capital novo de que a Azul precisa para reforçar a sua liquidez. E o acordo em si depende da obtenção de novos recursos pela empresa, disse Carolina Chimenti, analista da Moody’s Ratings.

“O dinheiro continua sendo essencial”, disse. “Essa renegociação foi o primeiro passo para evitar o Chapter 11 e a empresa continua trabalhando.”

Leia também: Azul fecha acordo com arrendadores para reduzir dívida em R$ 3 bilhões

A situação ressalta a delicada posição financeira da Azul.

A empresa é a única companhia aérea das três que dominam o mercado da América Latina que evitou pedir proteção contra credores durante a pandemia.

Mas a Azul tem lutado para fortalecer o seu balanço e lidar com o impacto da alta do dólar, apesar de ter renegociado com os arrendadores e realizado uma troca de dívida que empurrou seus vencimentos para frente.

Neste mês, vencem cerca de US$ 68 milhões em pagamentos de títulos, de acordo com a Moody’s. Analistas dizem que a empresa pode administrar esse compromisso.

Em 30 de junho, a Azul tinha R$ 1,5 bilhão em dívidas com vencimento no curto prazo e cerca de R$ 1,4 bilhão em caixa prontamente disponível, segundo a Fitch Ratings.

Os títulos em dólar com vencimento em 2030 entregaram aos investidores algumas das piores perdas entre as dívidas corporativas dos mercados emergentes neste ano.

Os bonds com vencimento em 2028 ganharam 2,7% ao contabilizar mudanças de preço e pagamentos de juros, mas ainda estão atrás de seus pares, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Ao realizar a troca de dívida por equity com arrendadores e fornecedores, a Azul pretende abrir a porta para financiamento adicional, incluindo a captação de até US$ 400 milhões em dívidas por meio de sua unidade de carga, disseram pessoas familiarizadas com o assunto ouvidas pela Bloomberg News.

Essas tentativas, no entanto, encontraram obstáculos devido a questões sobre o que pode ser usado como garantia, disseram as pessoas, que pediram anonimato porque a informação não é pública.

Enquanto isso, a empresa continua a conversar com seus detentores de títulos em dólares, ou bondholders, para financiamento adicional, acrescentaram as pessoas.

A companhia poderia também recorrer a um programa do governo brasileiro recentemente aprovado, destinado a ajudar as companhias aéreas.

A Azul não quis comentar o seu caso com a Bloomberg News.

Pedro Bruno, analista da XP Investimentos, disse que o acordo com os arrendadores é um ponto positivo que permite à Azul evitar uma oferta subsequente de ações, o que “tira a obrigação de uma diluição muito mais relevante [para os acionistas]”.

Ainda assim, Amalia Bulacios, analista da S&P Global Ratings, disse que a empresa precisa melhorar a sua liquidez, o que será um desafio em um mercado apertado.

A S&P reduziu a nota da Azul para CCC+ em setembro, um dos três rebaixamentos de rating no mês passado devido em grande parte à fraca liquidez e aos riscos de refinanciamento.

“A estrutura de capital da empresa é um pouco pesada”, disse ela.

A Bloomberg News reportou em agosto que a Azul avaliou algumas opções, incluindo uma oferta subsequente de ações e um pedido de proteção contra credores pelo Chapter 11.

A empresa disse em um documento regulatório que estava analisando opções, incluindo a venda de dívida através de sua unidade de carga e que prefere “soluções comerciais”.

“Eles não querem entrar no Chapter 11, mas, se a empresa não conseguir levantar o dinheiro, não posso descartar que seja uma opção”, disse Josseline Jenssen, analista de crédito da Lucror Analytics.

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