Aura Minerals revisa guidance após queda na produção, mas CEO prevê retomada

Ebitda ajustado e receitas recuam no 2º trimestre, mas CEO Rodrigo Barbosa diz à Bloomberg Línea que recuperação já ocorre e aponta impacto de valorização do ouro e do cobre

Instalação de tratamento de ouro da Aura Minerals em Apoema, no estado de Mato Grosso (Foto: Divulgação)
08 de Agosto, 2023 | 09:51 AM

Bloomberg Línea — Como CEO da única mineradora de ouro listada na B3, a Aura Minerals (AURA33), o executivo Rodrigo Barbosa tem como uma de suas missões explicar a investidores e a analistas a dinâmica particular da operação do setor. É um trabalho cuja relevância ganha ainda mais peso em momentos como o atual, com a divulgação dos resultados do segundo trimestre, em que a retração de indicadores como receitas, Ebitda e produção - esta antecipada na prévia operacional - foi acima da esperada.

“O segundo trimestre, como era previsto, foi o de menor produção do ano. Particularmente no Brasil, ficou bem abaixo do período anterior”, disse Barbosa em entrevista à Bloomberg Línea. “Mas esperamos uma recuperação forte no terceiro trimestre e mais acentuada ainda no quarto”, afirmou.

A queda nos resultados já era de certa forma esperada depois da divulgação da prévia operacional um mês atrás. A produção ficou em 48.552 onças, ou 13% abaixo dos três primeiros meses.

A mineradora brasileira prevê acelerar a produção e melhorar os números neste segundo semestre, mas acabou revisando o guidance do intervalo de 254 mil a 292 mil para 245 mil a 273 mil onças neste ano de 2023 - uma queda da ordem de 5% no ponto médio da faixa esperada.

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As receitas líquidas ficaram em US$ 85 milhões no segundo trimestre, com queda de 8,6% na base anual e de 12% na comparação com os três primeiros meses do ano.

O Ebitda ajustado (indicador de geração de caixa operacional) totalizou US$ 27 milhões. Isso representou um decréscimo de 10% nas mesmas comparações acima, respectivamente.

No período desde a prévia, a ação negociada na Bolsa de Toronto e o BDR listado na B3 caíram mais de 1% no pregão depois da divulgação, mas se recuperaram e acumulam alta desde então.

Os BDRs acumulam valorização da ordem de 20% tanto em 12 meses como no acumulado de 2023. Na Bolsa de Toronto, os ganhos estão perto de 40% e 30%, respectivamente, na mesma comparação.

O resultado foi apontado como “em linha com o esperado” pelo analista Daniel Sasson, da equipe de research para mineração e siderurgia do Itaú BBA. O banco tem preço-alvo para o fim de 2023 de R$ 50 para o BDR, o que implica um upside (potencial de valorização) de 39% sobre o fechamento na segunda.

Houve ainda efeito da valorização do câmbio no Brasil e no México, dois dos países em que a Aura tem operação, e da queda da produção nos indicadores de custos, somando 9% de impacto. O custo caixa total (AISC, na sigla em inglês) subiu de US$ 1.156 para US$ 1.384 por onça em razão da menor produção e do efeito cambial desfavorável, o que também levou à revisão do guidance do ano para cima.

Esse efeito acabou sendo compensado em parte pelos preços mais altos de seu principal produto.

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“Quando olhamos para os preços de commodities, entendemos que o mercado reagiu como esperado: quando há uma desvalorização do dólar, as cotações sobem. Houve uma valorização de 11% do preço do ouro em relação à nossa expectativa”, disse o CEO. “Isso significa que conseguimos manter as nossas margens ou até melhoramos, apesar dos custos mais altos em dólar e da desvalorização cambial.”

EPP e San Andrés: impacto na produção

A queda nos indicadores foi resultado principalmente dos números da operação conhecida como EPP (Ernesto/Pau-a-Pique), em Mato Grosso, em que a produção passou de 13.000 onças para 7.000 do primeiro para o segundo trimestre, em razão ao processo de sequenciamento de mina. A expectativa é que haja melhora do teor de ouro nos próximos meses, o que justificou a manutenção do guidance para o ano.

Na operação de San Andrés, em Honduras, a produção tem se recuperado gradualmente do que o executivo descreveu como “níveis muito baixos” do fim de 2022, quando atingiu 12.000 onças. Chegou a 16.400 no segundo trimestre e deve alcançar de 18.000 a 20.000 neste segundo semestre, com aumento da produtividade. No entanto, houve uma revisão do guidance de San Andrés para o ano, o que levou à mudança da projeção total.

As mudanças abruptas se devem, segundo o executivo, ao fato de que a mineração do ouro não é uma atividade caracterizada pela constância da produção - diferentemente do minério de ferro, por exemplo -, em razão da variação do teor do ouro presente nas extrações.

Há também o impacto da valorização do câmbio sobre os custos, algo novo no radar - a empresa está listada na B3 há cerca de três anos - por causa da tendência mais longa de ganho de valor do dólar, afirmou.

Segundo o executivo, tamanha variação também acontece para cima, a exemplo do quarto trimestre do ano passado.

Projeto Almas e transição energética

Ao comentar as perspectivas para os próximos trimestres, Barbosa destacou que a Aura deve se beneficiar do cenário esperado de demanda acima da oferta disponível para o cobre, seu segundo produto explorado, diante da aceleração da transição energética. Os preços do cobre subiram 8% acima das projeções com as quais a mineradora havia inicialmente trabalhado.

Uma prioridade da companhia é o projeto Almas. “A Aura mostrou ao mercado que sabe operar de forma eficiente minas que estavam paradas, como fizemos no México [com Arazanzu]. E agora estamos no caminho para mostrar o mesmo com o nosso primeiro projeto greenfield [do zero]”, disse o CEO.

Segundo ele, depois de cumprir o prazo e o budget previstos para a construção em março e o ramp-up a partir de abril, a expectativa é declarar a operação comercial neste terceiro trimestre, como sinalizado ao mercado anteriormente. “Isso significa que atingimos níveis satisfatórios de produção e recuperação. A operação, portanto, começa a gerar receitas e Ebitda para a companhia.”

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.