Asics mira crescer em LatAm para além da corrida e vê potencial no tênis, diz CEO

Marca japonesa reforça a atuação na região com novas edições de provas de rua e com abertura de lojas, conta Alexandre Fiorati, CEO da Asics para a América Latina, em entrevista à Bloomberg Línea

Número de novos inscritos em eventos esportivos cresceu 35% nos primeiros meses do ano, segundo a Ticket Sports
28 de Março, 2025 | 06:44 AM

Bloomberg Línea — O crescimento das corridas de rua no Brasil e em outros países da América Latina tem impulsionado as vendas de fabricantes de calçados e artigos esportivos. Um reflexo natural desse fenômeno tem sido o aumento de investimentos globais na região.

É o caso da Asics, marca esportiva japonesa que é referência no segmento e que encerrou o ano de 2024 com crescimento de 48,6% do lucro nos países classificados em “Outras Regiões”, do qual o Brasil faz parte.

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O ganho, que somou 6,541 bilhões de ienes (cerca de R$ 248,3 milhões) no ano inteiro, foi impulsionado principalmente pelas vendas na América Latina, segundo a empresa.

Nesse contexto, a companhia prevê aumentar a presença na região e expandir a atuação em outros segmentos, como o tênis, segundo Alexandre Fiorati, CEO da marca para a América Latina.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Fioratti disse que entre os planos da empresa está aumentar em 60% o número de lojas na região. Hoje são 29 no total, distribuídas por Chile, Colômbia, Argentina, Peru e Brasil, que concentra a maior parte, com 17 unidades. Isso levaria o total para 46 lojas.

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“A América Latina vai crescer muito em relação à média global. É o que esperamos. Estamos, obviamente, muito focados em crescer em running, mas temos um trabalho muito forte também em tênis no Brasil”, disse o executivo líder da marca para a região.

A marca é patrocinadora de Bia Haddad, tenista atualmente na 18ª posição do ranking da WTA, que representa o circuito feminino de tênis profissional.

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A modalidade esportiva tem retomado níveis de engajamento e interesse não vistos desde o início dos anos 2000, quando Gustavo Kuerten, o Guga, chegou ao topo do ranking mundial.

Desta vez, além de Bia Haddad, que está entre as melhores do mundo há cerca de dois anos, e outros atletas, o interesse no Brasil é alavancado também pela ascensão de João Fonseca, 18 anos, que tem sido apontado como um dos jovens talentos mais promissores do circuito da ATP.

Globalmente, as vendas diretas da marca ao consumidor em todos os esportes, que somam as lojas físicas e o canal digital, estão em torno de 40%. Na América Latina, o percentual é menor. Segundo Fiorati, isso demonstra o potencial de expansão.

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Buscar esses resultados significa colocar em prática estratégias para se aproximar dos consumidores e capturar os novos entrantes e adeptos das práticas esportivas.

No ano passado, a marca foi patrocinadora de provas como a Ayrton Senna Racing Day e a Golden Run, de sua propriedade desde o começo dos anos 2010, além da tradicional São Silvestre, no último dia de dezembro.

A operação brasileira também patrocinou o Comitê Paralímpico Brasileiro (CBP) na Paraolímpiada de Paris, lançou as plataformas de fidelidade OneASICS e ASICSPro e criou a “ASICS House na Pista”, uma versão móvel da “Asics House”, em São Paulo, para circular pelo país.

Com essas e outras iniciativas, Fiorati considera que 2024 foi “ano mais importante da história” para a marca na América Latina.

“Foi o ano em que nós tivemos resultados muito significativos para a companhia”, afirmou o executivo. “E 2025 tem que ser uma continuação disso. Internamente, brincamos que, na verdade, é um biênio porque nós não paramos.”

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Em 2024, as vendas globais da marca japonesa cresceram 18,9% para 678,5 bilhões de ienes (R$ 25,8 bilhões), depois de já ter avançado 17,7% em 2023.

Para o ano de 2025, a estimativa é a de uma alta de 15%, para encerrar os 12 meses com 780 bilhões de ienes (R$ 29,7 bilhões).

A expansão da Asics se dá em todas as categorias, com alta acentuada da SportStyle e da Onitsuka Tiger, que estão posicionadas agora na segunda e na terceira posições, respectivamente, logo atrás da linha performance de corrida.

“Corrida é a grande parte do nosso faturamento. Ela é o carro-chefe e cresce muito no Brasil e nas subsidiárias que temos no Chile e na Colômbia. E também com expansão em países como a Argentina, mesmo com uma situação econômica não tão interessante”, disse o executivo.

Alexandre Fioratti, CEO da Asics: Corrida é a grande parte do nosso faturamento. Ela é o carro-chefe e cresce muito no Brasil e nas subsidiárias que temos no Chile e na Colômbia

Rejuvenescimento da marca

Nos últimos anos, a marca japonesa repaginou famílias dos seus tênis clássicos, como o Nimbus, conhecido pelo amortecimento, e o Kayano, pela estabilidade, que receberam novas tecnologias e um design mais arrojado. E introduziu linhas como o Novablast e o Superblast, hoje no gosto dos corredores.

Os investimentos na região estão associados também à expansão de experiências como a Golden Run, que contará com edições em outros países vizinhos a partir deste ano. Além de Brasil e Argentina, a tradicional meia-maratona (21,1 km) ganhará versões na Colômbia e no Chile.

“Como temos uma participação de mercado menor nesses mercados, vemos uma possibilidade de alavancar bastante a marca também”, afirmou Fiorati.

A Asics também estuda ampliar o alcance da prova no Brasil, com a criação de outras edições. No passado, a Golden Run foi organizada em cidades como Brasília e Fortaleza.

Os investimentos da marca em provas procuram ampliar o público e trazer um novo perfil. Por um longo período, a Asics tem um reconhecimento forte de marca com a geração acima dos 30 anos. O boom atual de corridas trouxe a Geração Z, que começa a participar com idade cada vez menor.

Provas como a Ayrton Senna Racing Day e a própria São Silvestre entram nesse pacote. “Nós começamos a conversar com públicos mais amplos, no que chamamos de jornada do corredor. O corredor não começa correndo 21 km, mas, sim, com 5 km e vai avançando para 10 km etc”, disse Fiorati.

O interesse da marca é mostrar que tem produtos para todos os momentos e todos os bolsos, com modelos de tênis que vão desde R$ 299,90 até R$ 2.199,00, caso da linha Metaspeed, com placa de carbono.

A Asics também vê espaço para se inserir em outros momentos do dia a dia dos atletas amadores, quando não estão correndo. O crescimento da linha SportStyle pelo mundo é um exemplo.

“Conseguimos falar com o público abaixo de 30 anos. Buscamos ter o contato com o indivíduo de uma maneira mais ampla e isso tem se tornado cada vez mais firme na companhia”, afirmou o CEO.

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Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark