Bloomberg Línea — A Certisign, uma das maiores empresas no mercado de certificação e identificação digital no país, vive uma nova fase, com a consolidação de um posicionamento que tem se traduzido em crescimento acelerado e no aumento da venda cruzada - cross sell - de soluções de tecnologia.
Os planos de expansão preveem que a companhia, que atua com plataformas de certificação e assinatura digitais e de identificação biométrica, dobre de tamanho até 2027. Esse é um dos mandatos do atual CEO, Marco Americo Antonio, que chegou há pouco mais de um ano e meio, em maio de 2023.
Neste ano, a Certisign deve crescer 20%, o que levará as receitas para perto de R$ 320 milhões.
“O que temos feito ao longo destes mais de vinte anos de história, e vamos continuar a fazer, é cuidar da identidade das pessoas, mas agora de uma maneira mais abrangente como uma autoridade certificadora, algo que nos Estados Unidos é chamado de Trust Services Provider. São plataformas complementares que oferecemos aos nossos clientes”, disse o CEO da Certisign à Bloomberg Línea.
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“Temos um roadmap extenso de desenvolvimento para tornar as soluções cada vez mais sofisticadas e nos diferenciar com essa proposta mais abrangente, dado que nossos concorrentes em geral oferecem alguns dos serviços, mas não todos como fazemos”, disse o executivo.
É um segmento da economia que cresce na esteira de preocupação crescente de empresas e pessoas com as tentativas de fraudes digitais e do mundo físico e com a sustentabilidade, dado o consumo de energia, água e papel de um mundo que ainda tem ampla presença de documentos físicos.
“Há mais clientes que pedem recursos adicionais de segurança para validar uma operação, com duplo ou até triplo fatores de autenticação, incluindo um que seja por biometria”, disse.
O executivo, com uma carreira extensa na área de tecnologia e em provedores de soluções, chegou com experiência no segmento, pois comandou de 2015 a 2019 a operação no Brasil da Docusign, uma das empresas líderes globais, listada na Nasdaq.
No fim do dia, a Certisign e outras concorrentes atuam para atestar que diferentes transações foram de fato realizadas entre as partes relacionadas e esses contratos ou operações são válidos. Os certificados, explicou, são chaves criptográficas guardadas sob amplo esquema de segurança.
A Certisign emite de 120 mil a 130 mil de certificados digitais por mês, para uma base de 2,5 milhões a 2,7 milhões de clientes ativos, entre empresas e pessoas físicas.
Nessa vertical de negócios, a empresa conta com cerca de 450 revendedores parceiros espalhados pelo país, em uma rede de distribuição que se traduz em algo como 1.800 a 2.000 pontos de venda.
Esse mercado, que responde pela maior parte das receitas da Certisign, se encontra em um estágio mais maduro e é altamente competitivo, com players já consolidados. No geral, esse segmento cresce de 7% a 9% ao ano no país, segundo o executivo.
“As nossas avenidas de crescimento estão na plataforma de formalização e de identificação, porque tanto assinaturas como biometrias vão crescer de 25% a 30% ao ano até 2030″, disse o CEO.
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Na frente de assinaturas digitais, Marco Americo Antonio explicou que, de certa forma, a Certisign acaba atuando como uma espécie de cartório digital.
Isso porque, para efeitos de lei brasileira, um documento assinado digitalmente com certificação tem o mesmo efeito de comprovação do que se tivesse sido realizado com uma caneta na frente de um escrivão. São mais de 5 milhões de assinaturas digitais por mês pela empresa.
Entre os principais clientes dessa plataforma estão instituições de saúde que precisam de assinaturas digitais com o certificado chamado ICP-Brasil para atestar as autorizações de pacientes para exames e procedimentos, explicou o executivo.
Em identificação biométrica, uma tecnologia muito demandada por instituições financeiras que precisam atestar a veracidade de clientes que realizam transações como pagamentos e transferências, a Certisign atua como um agente de segurança em uma das áreas que mais sofrem tentativas de fraude. São mais de 20 milhões de transações verificadas por mês, segundo o executivo.
Trata-se de um mercado em que o Brasil é um dos cinco países do mundo em fraudes digitais, disse, citando diferentes fontes. Isso se traduz, por outro lado, em mais oportunidades de negócios do que em economias em que o número de tentativas de fraudes é mais baixo.
“Hoje existem bancos no Brasil com equipes antifraude especializadas por casos de uso: uma que investiga tentativas de fraude em crédito consignado, outra, de financiamento de veículos, e por aí vai”, disse o executivo, que citou ainda a questão dos furtos de celulares nas cidades do país.
O avanço da tecnologia de IA (Inteligência Artificial) para simular vozes e aparências de pessoas - o chamado deepfake - tem ampliado a necessidade de soluções cada vez mais avançadas, segundo ele.
“Temos parcerias com empresas americanas que possuem modelos com algoritmos especializados para biometria”, afirmou.
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No atendimento de empresas, a Certisign fecha em geral contratos que têm de um a três anos de duração, com pagamento de franquias mensais ou anuais.
Os planos em execução pelo CEO vão além dos resultados em si. O executivo disse que tem promovido alterações em “cultura, propósitos e valores”, associadas à questão da confiança. A empresa também acabou de passar por um processo de rebranding, com um novo logo.
A Certisign é considerada uma das empresas pioneiras e que protagonizaram a evolução da indústria da certificação digital, que, por sua vez, está diretamente ligada ao desenvolvimento da internet.
Fundada em 1996, na época com a venda de certificação de servidores e browsers, chamada de SSL, que faz a criptografia da conexão para que a aplicação se torne segure. A companhia ainda oferece tais soluções, mas agora também na versão chamada TSL (Transport Layer Security).
A Certisign tem capital fechado no Brasil e é controlada por uma holding nos EUA, com três famílias brasileiras que fundaram a companhia e três sócios americanos: a DigiCert, uma empresa do Vale do Silício que herdou uma participação da Symantec, que, por sua vez, havia ficado com o capital da VeriSign na empresa brasileira; a Intel Capital e o fundo Darby Oversees, da Franklin Templeton.
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