As estratégias da Vale para reduzir a exposição à China

Além dos metais básicos, mineradora concentra esforços em soluções com mais valor agregado para contribuir com a descarbonização e a diversificação de clientes

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Bloomberg Línea — A Vale (VALE3) está trabalhando para reduzir a exposição à China, responsável por metade da demanda global de commodities e o maior destino do minério de ferro da companhia. A estratégia inclui aumentar a capacidade de produção dos insumos de maior qualidade - o que traz mais prêmios - e estar mais próximo a outros mercados consumidores, em meio a temores de desaceleração da economia chinesa.

Segundo o vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores da Vale, Gustavo Pimenta, o aumento de capacidade de produção de minério de ferro com mais qualidade deve beneficiar o breakeven da companhia nos próximos anos.

“A habilidade de vender para mercados mais próximos das nossas operações também vai nos ajudar”, disse o executivo em teleconferência com investidores nesta sexta-feira (27).

Executivos disseram que a companhia deve continuar apostando nos navios de grande capacidade, como os “Valemax”, para disputar mais o mercado internacional, com competitividade.

O vice-presidente executivo de Soluções de Minério de Ferro, Marcello Spinelli, afirmou que a estratégia com base na descarbonização, com foco principalmente no Brasil, Europa, Estados Unidos e Oriente Médio, deve trazer melhores condições à companhia no mercado transoceânico.

“Consequência disso é que devemos ter uma redução da nossa exposição à China. Teremos os benefícios advindos dessas ações, principalmente prêmios”, explicou.

Spinelli acrescentou que a visão de longo prazo permanece “intacta”, principalmente em relação aos prêmios. “A [busca pela] eficiência energética é inevitável, precisamos de minério com alto teor de ferro para apoiar a rota de descarbonização. Essa é nossa estratégia de longo prazo e acreditamos nela.”

O executivo afirmou que a produção de pelotas está indo muito bem, obtendo “altos prêmios”, bem como a produção da mina de Carajás. “Se o mercado demandar mais eficiência para melhorar a produção, poderemos oferecer. Temos um mercado forte, numa fase de transição para minimizar custos”, esclareceu.

Redução do ‘gap’

O CEO da Vale, Eduardo Bartolomeo, disse que a companhia conseguiu reduzir o “gap” entre produção e vendas no terceiro trimestre e que no negócio de metais básicos voltado para soluções de transição energética o ramp up (subida de produção) está “conforme o esperado”.

O executivo acrescentou que, desde 2021, a Vale já recomprou cerca de 16% da sua base acionária, cumprindo com o compromisso de gerar valor para seus acionistas. A companhia deve investir cerca de R$ 10 bilhões no novo programa de recompra de ações.

Em relatório, analistas do BTG Pactual alertaram que a Vale registrou um fluxo de caixa fraco no trimestre e que o Ebitda de metais básicos “permanece abaixo da média (sem qualquer indicação de uma reviravolta)”. “Nossa tese sobre o trimestre é que haveria aceleração dos lucros, especialmente porque o minério de ferro permanece firme e a China está finalmente liberando apoio fiscal.”

Por outro lado, o banco apontou com destaque para a distribuição de dividendos e o novo programa de recompra de ações. “É mais um indício de que a empresa está no caminho certo na alocação de capital, apesar dos reveses operacionais recorrentes.”

Analistas da XP disseram em relatório que o desempenho da Vale no terceiro trimestre atenua “parcialmente as preocupações com custos”, com o novo anúncio de dividendos “refletindo o conforto da empresa na geração de fluxo de caixa e na conclusão da transação da Vale Metais Básicos”.

A análise acrescentou que, diante das expectativas mais baixas para os preços do minério de ferro no futuro, a Vale já está precificando as cotações menores para o insumo a partir de agora.

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