A Porsche apostou em elétricos no maior IPO da Europa. Mas o plano não funcionou

Marca alemã de luxo sofre com desconfiança de investidores dois anos e meio após o IPO e ações atingem seu menor patamar. Margem de lucros cairá pela metade neste ano

Foto de um carro azul petróleo
Por Craig Trudell - Monica Raymunt
07 de Fevereiro, 2025 | 01:57 PM

Bloomberg — A Porsche se distancia cada vez mais das metas estabelecidas durante a sua listagem de ações há dois anos e meio na Bolsa de Frankfurt, com o aumento dos custos decorrentes do fato de os executivos terem avaliado erroneamente o interesse dos compradores em carros esportivos elétricos.

Na estreia em setembro de 2022, a marca alemã protagonizou o IPO com o maior market cap da Europa, em 78 bilhões de euros. A meta era chegar a 2030 com 80% dos modelos vendidos movidos a baterias de elétricos. Mas a situação hoje contrasta com a euforia e o otimismo daquele momento.

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A margem de lucro do fabricante do mítico modelo 911 cairá para até 10% neste ano, metade do nível de 20% estabelecido pela administração antes de uma oferta pública inicial que levantou cerca de 9,4 bilhões de euros (US$ 9,8 bilhões). As ações caíram na sexta-feira (7) para um novo patamar mínimo desde a IPO, chegando a cair 8%.

Os veículos 100% elétricos responderam por cerca de 14% das vendas em 2024, e os que possuem algum grau de eletrificação, por 27%.

A "acentuada deterioração" das perspectivas é uma "grande preocupação", disse Stephen Reitman, analista da Bernstein, em uma nota. Ele pediu aos executivos da Porsche que convocassem uma reunião com os investidores "para explicar melhor e tranquilizar um mercado inevitavelmente febril".

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O valor de mercado da Porsche, de cerca de 50 bilhões de euro, é agora menos da metade do que chegou a ser no seu auge em maio de 2023. O declínio acentuado exerce mais pressão sobre o CEO Oliver Blume, que dirige tanto a Porsche quanto a Volkswagen.

A Porsche indicou no último fim de semana que o conselho de supervisão provavelmente destituirá tanto seu diretor financeiro quanto o chefe de vendas.

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A Porsche foi uma das principais montadoras a desistir da transição para veículos elétricos no ano passado, citando uma demanda abaixo do esperado. Os desafios de migrar para os veículos elétricos custaram caro à empresa na China, onde as entregas caíram 28% no ano passado.

A Porsche disse na quinta-feira (6) que sofrerá um impacto de 800 milhões de euros (831 milhões de dólares) neste ano, vinculado à expansão de seu portfólio de produtos com mais motores de combustão e modelos híbridos plug-in.

Embora o Taycan totalmente elétrico da empresa tenha apresentado um início considerado rápido em vendas após sua estreia em 2020, a demanda caiu no ano passado, e uma nova versão elétrica do veículo utilitário esportivo Macan não “engrenou” ainda.

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Espera-se que o retorno sobre as vendas para 2024 termine na extremidade inferior de sua faixa de previsão, ou seja, em torno de 14%. Essa projeção já havia sido reduzida em julho, quando os executivos culparam problemas da cadeia de suprimentos.

“A Porsche é uma marca de luxo e não está gerando lucratividade em linha com isso”, disse o analista Harald Hendrikse, do Citigroup em um relatório. “O valor de 800 milhões de euros não explica totalmente o déficit da Porsche, o que sugere algumas falhas de execução.”

Em um efeito indireto da perspectiva decepcionante da Porsche, a holding de propriedade majoritária da família bilionária Porsche-Piëch disse na quinta-feira que agora espera registrar uma redução ainda maior no valor contábil de seu investimento na montadora.

A Porsche Automobil Holding disse que o prejuízo poderia ser da ordem de 2,5 bilhões a 3,5 bilhões de euros. Em dezembro, a holding estava se preparando para um revés de 1 bilhão a 2 bilhões de euros.

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