Após follow-on de R$ 1,2 bi, Viveo quer acelerar expansão orgânica e serviços

Flávia Carvalho, diretora de RI e M&A, diz à Bloomberg Línea que empresa de medicamentos e serviços em saúde prevê crescimento maior em soluções de gestão para hospitais

Flávia Carvalho, diretora de Relações com Investidores e M&A da Viveo: pipeline 'robusto' de aquisições (Foto: Divulgação)
17 de Agosto, 2023 | 05:20 AM

Bloomberg Línea — Duas semanas depois de concluir um follow-on que movimentou R$ 1,2 bilhão, dos quais R$ 778 milhões em oferta primária - em que os recursos vão reforçar o caixa -, a Viveo (VVEO3) detalha nesta quinta-feira (17) para investidores e analistas os próximos passos da empresa que opera a maior plataforma de produtos e serviços do segmento médico-hospitalar. O roteiro prevê informações sobre novos negócios e foco em outros já existentes, como serviços de gestão para hospitais e clínicas, segundo contou Flávia Carvalho, diretora de Relações com Investidores e M&A, em entrevista à Bloomberg Línea.

“Vamos contar com mais detalhes como pretendemos utilizar os recursos captados, com as oportunidades e as avenidas de crescimento, principalmente de forma orgânica”, disse a executiva.

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São oportunidades que a companhia enxerga nas quatro áreas de atuação em que divide os seus negócios: hospitais e clínicas; laboratórios e vacinas; varejo; e serviços.

“Se por um lado temos 20% de market share em distribuição de medicamentos, vemos oportunidades de crescer em outros em que temos participação menor, às vezes no mesmo cliente. Entramos agora em junho em um segmento novo que é o chamado OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais), um mercado de R$ 16 bilhões. Ou seja, é um em que esperamos um crescimento acelerado”, explicou.

No varejo, a executiva disse que a empresa avançou de maneira mais relevante no chamado canal alimentar, como supermercados, em uma estratégia para ir além de farmácias para a venda de materiais como algodão. “Estamos desenvolvendo a categoria de primeiros socorros dentro do canal alimentar. Já estamos com 50 mil pontos de venda em um movimento recente que deve crescer mais.”

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Segundo ela, a Viveo já assumiu a liderança na venda de produtos como curativos. O desafio é ampliar o portfólio no segmento de farmácias e entrar em novos em canais de distribuição, além de novas categorias, como foi o caso recente de acessórios para a prática de esportes.

O maior potencial de crescimento, no entanto, vem do segmento de serviços, segundo a executiva, que disse que o momento mais desafiador para os clientes, em razão de pressão de custos, cria oportunidades. “Há uma necessidade de ganho de eficiência de hospitais e clínicas para liberar capital de giro”, disse.

Um exemplo é a gestão de estoques de medicamentos ou de bolsas para quimioterapia, que chegam a custar mais de R$ 15.000 cada uma, algo que hoje muitas vezes é administrado pelos próprios hospitais.

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É um mercado endereçável estimado em R$ 122 bilhões, segundo a companhia, o maior entre os quatro segmentos, mas que hoje representa ainda 10% das receitas totais.

“Costumamos dizer que somos um one-stop-shop, mas temos nos tornado também um one-stop-solution, pois temos um amplo portfólio de materiais de que o hospital precisa e também serviços para a gestão. Trabalhamos em ecossistema, em que uma unidade de negócios gera lead [informações que levam para a conversão posterior em venda] para outra unidade”, disse a executiva.

Embora os planos de crescimento orgânico estejam entre os destaques do Investor Day nesta quinta, a Viveo segue com o plano de fusões e aquisições que caracterizaram até aqui o seu crescimento. “Estamos com um pipeline muito robusto com muitos ativos interessantes, mas o foco em 2023 tem sido a integração e a extração de sinergias dos M&A que fizemos”, destacou Flávia Carvalho.

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A Viveo realizou 25 aquisições em três anos e prevê a captura de R$ 111 milhões em sinergias em Ebitda no período de 2022 até o fim de 2024, dos quais R$ 44,1 milhões foram alcançados até junho.

O Ebitda ajustado deve encerrar 2023 com um total aproximado de R$ 1 bilhão, segundo projeções de analistas, o que representaria 3 vezes o valor de 2020, no ano anterior ao IPO.

Atenção ao caixa

O momento de pressão financeira sobre clientes, se por um lado representa uma oportunidade, por outro também requer atenção, com ciclos de conversão em caixa mais longos. Esse foi um dos principais temas de perguntas de investidores em road show recente que a companhia promoveu.

Os R$ 778 milhões captados na oferta subsequente primária vão ajudar a reduzir a alavancagem, que encerrou junho em 2,67x o Ebitda ajustado proforma (consolidando as aquisições) nos últimos 12 meses. Contando o reforço líquido previsto, a alavancagem cairia para 1,82x, segundo a empresa.

Segundo o analista Vinicius Figueiredo, do time de equity research do Itaú BBA, os recursos do follow-on devem não só ajudar a reduzir a alavancagem financeira como a suportar o crescimento orgânico em muitos segmentos.

No primeiro caso, o analista apontou ainda em relatório que a alavancagem “também deve diminuir nos próximos trimestres, quando a empresa espera gerar caixa organicamente, à medida que suas iniciativas para normalizar o capital de giro começam a render frutos”.

A Viveo tem sido uma das exceções na “safra” de dezenas de empresas que abriram o capital na bolsa brasileira em 2020 e 2021, no momento de taxa de juros na casa de um dígito, mas que enfrentam expressiva desvalorização de seus papéis. As ações da companhia têm sido negociadas próximas do patamar de precificação para o IPO em agosto de 2021.

“Tivemos um follow-on muito demandado em que conseguimos atrair investidores de qualidade, que são fundos long only [com estratégia de aposta na valorização de ações no médio e no longo prazos] tanto do Brasil como do exterior”, disse a executiva, que destacou o fato de que a oferta saiu a um preço superior ao do IPO realizado exatamente dois anos antes: R$ 21,21, versus R$ 19,92 na estreia.

A empresa é controlada pela DNA Capital, a gestora da família Bueno, com mais de 37% de participação, e conta com o GIC, fundo soberano de Cingapura, e a gestora Dynamo como acionistas relevantes.

No resultado do segundo trimestre divulgado na segunda-feira (14), a companhia reportou receita líquida de R$ 2,534 bilhões, com crescimento de 30,1% na base anual, enquanto o Ebitda ajustado ficou em R$ 251,1 milhões, com avanço de 46,2% na mesma comparação.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.