Bloomberg Línea — Em seu melhor resultado em dois anos, o Santander Brasil teve um lucro de R$ 3,85 bilhões no quarto trimestre – acima das expectativas dos analistas. No acumulado de 2024, o lucro foi de R$ 13,87 bilhões.
“A mensagem principal é que 2024 foi o ano da consolidação da transformação do banco”, definiu o CEO do Santander Brasil, Mario Leão. O período foi marcado pela recuperação dos números do banco depois do tombo causado pelo repique da inadimplência no último ciclo de alta de juros entre 2021 e 2022.
Apesar da surpresa positiva da última linha do balanço, o banco reforçou que sua prioridade é ser rentável. O ROE (retorno sobre o patrimônio líquido), principal indicador de rentabilidade de um banco e um dos mais observados pelos analistas, subiu para 17,6% no último trimestre de 2024.
Foi o segundo resultado consecutivo de ROE acima dos 17%, o que foi bem avaliado por investidores. Sem definir uma data, Leão reforçou que a meta é retomar o patamar dos 20% que foi perdido nos últimos anos.
As units do Santander (SANB11) saltaram 6,20% no pregão desta quarta-feira (5) e ficaram entre as maiores altas do dia do Ibovespa.
“Entre ser maior ou mais rentável, vou escolher ser mais rentável primeiro”, afirmou Leão em entrevista coletiva com jornalistas para comentar os resultados do banco espanhol no país.
O Santander foi o primeiro dos grandes bancos a “tirar o pé do acelerador” na concessão de crédito de olho no cenário macroeconômico corrente. A carteira avançou 6,2% na base anual, contra um crescimento do mercado no patamar de 11% nas estimativas do CEO.
A estratégia é privilegiar opções mais rentáveis e nas quais o banco tem maior expertise. Um dos exemplos é o crédito consignado para beneficiários do INSS. A avaliação do Santander é que o teto de 1,80% ao mês da taxa não é suficiente para rentabilizar a operação. O resultado foi uma redução de esforços no segmento, que caiu 2,7% na comparação trimestral.
Questionado sobre o consignado privado, cujo modelo está em desenvolvimento pelo governo, Leão defendeu a opção como uma ferramenta que “pode ser para o crédito o que o Pix foi para os pagamentos”. Mas isso se não houver um teto de juros para a modalidade. “O teto, na prática, limita o público alvo”, disse.
Leia mais: Santander Brasil tem lucro acima da projeção do mercado e avanço da rentabilidade
Macro como desafio
A recuperação do Santander fecha o ciclo em um momento em que outro desafio macroeconômico bate à porta dos bancos. Inflação e juros continuam altos: o Banco Central sinalizou em sua última ata que a inflação deve estourar a meta de 3%, enquanto a taxa básica de juros, a Selic, segue em dois dígitos, em 13,25% ao ano. E em trajetória de elevação.
O CEO do Santander Brasil disse que o cenário traz desafios, mas não projetou uma crise nos mesmos moldes da que atingiu o setor no último ciclo de alta de juros. “Nenhum banco é imune ao cenário macroeconômico. Mas não acho que estamos enfrentando uma crise de crédito mais profunda.”
O Santander não forneceu projeção de números - um guidance - para 2025, mas Leão reforçou que deve manter a toada de crescimento no crédito vista no ano passado. “Provavelmente vamos crescer alguns basis points abaixo do mercado.”
A inadimplência, que foi o grande detrator do resultado do banco nos últimos anos, é um tópico de atenção para o Santander Brasil mas ainda não mostrou sinais de deterioração. Os índices de inadimplência acima de 90 dias ficaram em 3,2% – resultado estável no trimestre e de leve alta ante os 3,1% apurados em 2023.
“Estamos atentos à evolução da inadimplência e ao cenário macro mais desafiador, tanto na gestão do portfólio quanto para nova concessão de crédito”, disse Leão.
Gustavo Alejo, CFO do Santander, completou: “Ajustamos o portfólio durante os últimos dois anos. O banco se preparou. Não dá para chegar em 2025 sem estar preparado.”
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