Após aporte, QI Tech compra corretora Singulare para avançar no mercado de FIDC

Startup de tecnologia para serviços financeiros adiciona R$ 97 bi em ativos administrados em FIDCs, de olho em expansão do segmento; valor da transação não foi divulgado

Da esquerda para a direita, Marcelo Bentivoglio (CFO), Pedro Mac Dowell (CEO) e Marcelo Buosi (COO), co-fundadores da QI Tech (Foto: Divulgação)
14 de Novembro, 2023 | 05:00 AM

Bloomberg Línea — A QI Tech, startup de infraestrutura de tecnologia para serviços financeiros, anunciou nesta manhã de terça-feira (14) a aquisição de 100% da Singulare, uma corretora de valores mobiliários.

O valor da transação - cujo pagamento envolve apenas dinheiro - não foi divulgado. A compra faz parte do plano de expansão da empresa de tecnologia após um aporte de US$ 200 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) em rodada Series B liderada pela General Atlantic há duas semanas.

A companhia consolidada tem um valor maior, mas o novo valuation não foi divulgado.

A fintech pretende reforçar sua posição no mercado de capitais com o M&A, dado que a Singulare opera Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), com cerca de R$ 97 bilhões sob custódia em 960 fundos administrados, o maior número do segmento, segundo dados da Uqbar.

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A transação é a terceira realizada pela QI Tech e representa um movimento estratégico no cenário de consolidação do setor, dado que, segundo a empresa, a operação contribui para a sua expansão no mercado de FIDCs, segmento historicamente restrito a investidores profissionais.

Com a introdução do FIDC para o investidor de varejo, recém-autorizado pela Resolução 175 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), os sócios da QI Tech disseram esperar um significativo aumento no patrimônio dessa indústria.

A startup tem hoje, antes do negócio, cerca de 6.000 investidores diretos em sua base, o que, para fundos de varejo, seria algo “praticamente desprezível”, segundo seus executivos.

“Vislumbramos que esse mercado de FIDCs no médio a longo prazo vai para uma entrada bem grande de novos investidores, o que demanda maior nível de tecnologia”, disse o CEO da QI Tech, Pedro Mac Dowell.

“Poucas companhias de infraestrutura conseguem gerar o resultado que a Singulare gera”, disse o executivo, pontuando que a aquisição também amplia o know-how do time com aquisição de talentos e “traz a empresa mais próxima do sonho de IPO [oferta pública inicial].”

Há duas semanas, o CFO Marcelo Bentivoglio disse à Bloomberg Línea por ocasião do aporte recebido que a empresa se preparou para o IPO quando a janela do mercado reabrir em condições consideradas adequadas, mas que não há pressa. “Não precisamos de dinheiro. A QI Tech gera caixa, cresce bastante e tem fundamentos sólidos. Não precisamos aceitar qualquer proposta”, disse o CFO.

Os fundos administrados pela Singulare compram todos os meses cerca de R$ 14 bilhões em direitos creditórios. Toda receita e rentabilidade da gestora vem de um produto de processamento dos fundos.

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Para administrar os fundos é necessário uma licença de DTVM, distribuidora de títulos de valores mobiliários, o que foi obtido pela QI Tech recentemente.

Ambas as empresas possuem receitas recorrentes em sua maior parte, segundo os executivos, que não divulgaram números. Eles disseram que a Singulare tem “alguns números maiores do que o da QI Tech”, como a receita. “Na rentabilidade são coisas bem próximas”, acrescentou o CEO.

Mac Dowell explicou que a startup já se aproximava da corretora há mais de um ano porque trabalhavam juntos em produtos de investimento. “Buscamos um crescimento de mercado, um posicionamento de mercado nesse setor, que é um setor que acreditamos muito”, disse.

Álvaro Augusto de Freitas Vidigal, CEO e sócio-fundador da Singulare, casa com mais de 50 anos, disse que continuará no cargo até a conclusão do acordo e depois entregará “a caneta” para Mac Dowell.

“Em algum momento vai sair o Álvaro e entrar o Pedro”, disse.

“Somos uma corretora de valores que neste momento não faz corretagem, que é a única do Brasil lucrativa sem corretagem, fazendo apenas administração e custódia de fundos”, disse Vidigal. “Possivelmente até o final do ano ou o começo do ano que vem, passamos a barreira de 1.000 fundos.”

Segundo os executivos, a empresa consolidada não compete com bancos nem agentes autônomos “porque nós somos uma empresa de infraestrutura”.

“Continuamos focados em infraestrutura, começando em custódia e administração, e podendo seguir em outras [atividades] dali em diante.”

A QI Tech tem hoje 116 pessoas, enquanto a Singulare tem cerca de 300 funcionários.

Segundo Mac Dowell, o mercado pode esperar novos negócios da QI Tech nos próximos 12 meses. Na entrevista há duas semanas, Marcelo Bentivoglio disse que boa parte dos recursos seria utilizada justamente para M&As para reforçar ou agregar verticais de negócios e que seriam poucos cheques, ou seja, um número limitado de deals.

“Não temos pressa para realizar transações, mas estamos, obviamente, sempre de olho em boas oportunidades”, disse o CFO ontem.

A Vinci Partners e o escritório Freitas Leite Advogados cuidaram da assessoria financeira e jurídica para a QI Tech, respectivamente, e a BR Partners e o Vidigal Neto Advogados para a Singulare.

A conclusão da transação está sujeita à avaliação do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e à aprovação do Banco Central.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups