Após ano recorde, Direcional adota cautela e amplia aposta no MCMV para 2025

Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO Ricardo Gontijo destacou o custo de capital e a inflação como os principais desafios do setor de construção e incorporação neste ano

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Bloomberg Línea — Para Ricardo Gontijo, CEO da Direcional, não há dúvidas de que 2024 foi “o melhor ano da história da empresa”. A construtora e incorporadora voltada para o público de baixa e média renda teve um lucro líquido de R$ 638 milhões no ano passado, um avanço de 93% sobre 2023.

No balanço do quarto trimestre, divulgado na noite de segunda-feira (10), a companhia registrou lucro líquido recorde de R$ 181 milhões, um avanço de 82% na comparação anual. O resultado ficou acima do consenso de analistas consultados pela Bloomberg, que estimava R$ 168,8 milhões na última linha do balanço.

O executivo afirmou, no entanto, que o ano de 2025 será mais desafiador para as construtoras. Para Gontijo, o ponto de maior atenção é o custo de capital, que está “proibitivo” com a taxa de juros em dois dígitos e que pode alcançar o patamar de 15% ainda neste ano.

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Em menor grau, a inflação também preocupa – especialmente a de mão-de-obra. A inflação do setor, medida pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), desacelerou em fevereiro, mas, ainda assim, atingiu 7,18% no acumulado de 12 meses, contra 3,23% no mesmo período do ano passado.

“Estamos operando em um nível maior de cautela devido a esses dois fatores”, afirmou Gontijo em entrevista à Bloomberg Línea. Ainda assim, o CEO não projeta um impacto negativo imediato na rentabilidade da empresa.

“Embora seja difícil dizer em um cenário de alta volatilidade, atualmente não tem algo que acenda uma luz amarela do ponto de vista da rentabilidade. Não estou vendo uma variável [de risco] que não esteja prevista na nossa operação.”

Para “driblar” o alto custo de capital, a Direcional tem sido mais seletiva sobre a alocação de recursos e a escolha dos projetos que sairão do papel. Já no campo da inflação, Gontijo disse estar mais confortável do que as projeções do mercado. E uma das razões está no processo construtivo da Direcional.

A construtora adota um método industrializado, que utiliza formas de alumínio para erguer paredes de concreto. A industrialização deixa a empresa menos suscetível às flutuações ligadas ao mercado de trabalho da construção civil. E, nos cálculos da Direcional, diminui pela metade o tempo de obra na fase de estruturação, o que também reduz a exposição à inflação.

“Se utilizássemos um processo construtivo mais artesanal, certamente o impacto dessa escassez de mão-de-obra seria maior do que é atualmente”, afirmou.

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MCMV ganha espaço na Direcional

Existe ainda a expectativa de que 2025 seja outro ano forte para o Minha Casa, Minha Vida (MCMV), mesmo com o cenário macroeconômico mais desafiador. Um dos trunfos do programa é a linha de financiamento atrelada ao FGTS, que tem remuneração fixa e não é afetada pela alta da taxa de juros.

Não por acaso, a Direcional pretende reforçar sua operação mais resiliente, justamente aquela voltada ao MCMV.

O grupo Direcional conta com duas companhias: a própria Direcional, voltada para a baixa renda, e a Riva, construtora de classe média que atende, no papel, a faixa imediatamente acima do MCMV e que responde por 37% dos lançamentos do grupo.

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Com a ampliação das faixas de renda do MCMV em julho de 2023, a companhia passou a enquadrar também alguns imóveis da Riva no programa habitacional federal. Hoje, quase metade dos lançamentos de Riva também se encaixam nos critérios de financiamento do MCMV.

“Queremos ter o maior número possível de unidades elegíveis ao programa Minha Casa, Minha Vida, que é no qual percebemos uma resiliência maior da demanda pelo nosso produto”, apontou o CEO.

A diferença entre a Riva e a Direcional está especialmente no preço do metro quadrado: com terrenos mais bem localizados, o produto Riva é proporcionalmente mais caro, ainda que o valor final do imóvel esteja mais próximo da Direcional.

Para contornar o desafio de funding do mercado e encaixar a Riva no MCMV, a construtora implementou ajustes de produto para reduzir o tíquete médio de suas unidades e deixá-lo mais competitivo.

Entre as alterações possíveis estão a redução de área de unidade, a mudança na especificação de acabamento ou a diminuição da quantidade de vagas de garagem.

“Ajustamos os produtos para a realidade que temos agora, mas não existe nenhuma mudança em termos de perspectiva de lançamentos”, disse Gontijo.

A Direcional não forneceu guidance para os números operacionais de 2025 nem para a distribuição de dividendos. Reconhecida como “boa pagadora” de proventos, a construtora teve um payout de 90% em 2024, com a distribuição de R$ 577 milhões em dividendos.

Entre analistas de bancos e corretoras que cobrem a empresa, segundo a Bloomberg, 12 recomendam a compra da ação e uma tem posição neutra. Em 12 meses, a ação da Direcional acumula alta de 21%.

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