Bloomberg Línea — A demanda por equipamentos e soluções voltadas para a Inteligência Artificial (IA) deve acelerar os investimentos em tecnologia e é uma das apostas da Dell Technologies (DELL) para voltar a crescer depois de um ano de retração em 2023, segundo Diego Puerta, presidente da empresa para o Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.
A gigante conhecida do público consumidor pelos seus computadores pessoais tem se posicionado como um fornecedor de produtos e serviços de tecnologia da informação (TI) de ponta a ponta há alguns anos, algo que, segundo o executivo, ajuda a companhia a capturar a demanda gerada pelo movimento de IA generativa.
“No final do dia, o que a IA utiliza? Dados. E isso a Dell tem, até pela aquisição da EMC, a empresa líder em gestão, processamento, armazenamento e segurança de dados”, afirmou Puerta. Uma das soluções é uma linha de servidores específicos desenvolvida em conjunto com a Nvidia (NVDA) para rodar aplicações de inteligência artificial.
“Estou otimista de que a demanda por tecnologia vai continuar alta. Isso não quer dizer que vamos ter um mercado fácil. Mas a demanda vai continuar alta e nós estamos muito bem posicionados”, afirmou.
Depois de anos de crescimento, impulsionado pela maior demanda por tecnologia durante a pandemia, a Dell tem registrado resultados trimestrais mais fracos. No terceiro trimestre de 2023, a empresa teve queda de 10% na receita total em relação ao mesmo período do ano anterior, para US$ 24,7 bilhões.
Apesar da retração, a área de servidores e equipamentos de rede teve crescimento trimestral de 9%, somando US$ 4,7 bilhões. Segundo a empresa, o aumento foi puxado justamente pelos servidores otimizados para inteligência artificial.
As ações da companhia têm se beneficiado das expectativas de maiores vendas impulsionadas por IA. Os papéis se valorizaram 90% em 2023, recuperando-se de uma queda de 28% em 2022. O desempenho supera o avanço de 43% do índice Nasdaq 100, com grande peso das empresas de tecnologia, no mesmo período em 2023.
Embora seja mais conhecida pelo negócio de PCs e equipamentos de informática, a Dell também atua no segmento de TI, fornecendo soluções e componentes para servidores, armazenamento de dados e serviços de nuvem – áreas em que ela compete com outros gigantes da tecnologia como IBM (IBM), Hewlett Packard Enterprise (HPE), Microsoft (MSFT), Google (GOOGL) e Amazon Web Services, da Amazon (AMZN).
Vendas no Brasil
Sem abrir os números, Puerta disse que o Brasil tem puxado a média para melhor nos últimos anos, apesar dos resultados globais mais fracos recentes.
O executivo afirmou que a demanda por tecnologia segue alta, mas que notou uma maior cautela dos clientes em 2023, principalmente no primeiro semestre. Ele atribuiu a cautela ao cenário de juros ainda elevados e às turbulências na economia ao longo do ano, o que levaram alguns clientes a adiar o fechamento de negócios maiores.
“Foi um ano mais difícil do mercado. Os próprios números públicos da Dell e dos concorrentes mostram uma retração sobre o ano anterior. Principalmente porque os grandes negócios foram postergados”, disse.
Sobre a demanda de soluções de IA no Brasil, o executivo afirmou que tem trabalhado com clientes em casos de uso de aplicações de inteligência artificial generativa. O que não foi visto ainda no Brasil são grandes empresas que demandam servidores especializados e com alta capacidade de processamento, com GPUs (chips gráficos), que representam os maiores negócios no segmento de IA.
Já no mercado de PCs, em que a Dell é líder de market share no Brasil, Puerta disse que a empresa mantém a estratégia de se posicionar mais no segmento premium, com máquinas mais avançadas, o que permite ter uma margem de lucro maior. Hoje 90% dos produtos vendidos no país são feitos no Brasil, o que, segundo ele, permite ter um preço competitivo.
“No mercado de consumo, para pessoa física, não disputamos volume. Não vou ter a máquina mais barata. Nós colocamos foco em adicionar valor ao usuário. Essa é a nossa fortaleza”, afirmou.
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