Após ano de cautela, IA alimenta demanda por equipamentos, diz presidente da Dell

Diego Puerta, que comanda a operação no Brasil, diz em entrevista à Bloomberg Línea que a empresa tem buscado servir o mercado com produtos e serviços que captam onda de IA generativa

Dell Technologies headquarters in Round Rock, Texas, US
09 de Janeiro, 2024 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — A demanda por equipamentos e soluções voltadas para a Inteligência Artificial (IA) deve acelerar os investimentos em tecnologia e é uma das apostas da Dell Technologies (DELL) para voltar a crescer depois de um ano de retração em 2023, segundo Diego Puerta, presidente da empresa para o Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.

A gigante conhecida do público consumidor pelos seus computadores pessoais tem se posicionado como um fornecedor de produtos e serviços de tecnologia da informação (TI) de ponta a ponta há alguns anos, algo que, segundo o executivo, ajuda a companhia a capturar a demanda gerada pelo movimento de IA generativa.

“No final do dia, o que a IA utiliza? Dados. E isso a Dell tem, até pela aquisição da EMC, a empresa líder em gestão, processamento, armazenamento e segurança de dados”, afirmou Puerta. Uma das soluções é uma linha de servidores específicos desenvolvida em conjunto com a Nvidia (NVDA) para rodar aplicações de inteligência artificial.

“Estou otimista de que a demanda por tecnologia vai continuar alta. Isso não quer dizer que vamos ter um mercado fácil. Mas a demanda vai continuar alta e nós estamos muito bem posicionados”, afirmou.

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Depois de anos de crescimento, impulsionado pela maior demanda por tecnologia durante a pandemia, a Dell tem registrado resultados trimestrais mais fracos. No terceiro trimestre de 2023, a empresa teve queda de 10% na receita total em relação ao mesmo período do ano anterior, para US$ 24,7 bilhões.

Apesar da retração, a área de servidores e equipamentos de rede teve crescimento trimestral de 9%, somando US$ 4,7 bilhões. Segundo a empresa, o aumento foi puxado justamente pelos servidores otimizados para inteligência artificial.

Diego Puerta, presidente da Dell no Brasil

As ações da companhia têm se beneficiado das expectativas de maiores vendas impulsionadas por IA. Os papéis se valorizaram 90% em 2023, recuperando-se de uma queda de 28% em 2022. O desempenho supera o avanço de 43% do índice Nasdaq 100, com grande peso das empresas de tecnologia, no mesmo período em 2023.

Embora seja mais conhecida pelo negócio de PCs e equipamentos de informática, a Dell também atua no segmento de TI, fornecendo soluções e componentes para servidores, armazenamento de dados e serviços de nuvem – áreas em que ela compete com outros gigantes da tecnologia como IBM (IBM), Hewlett Packard Enterprise (HPE), Microsoft (MSFT), Google (GOOGL) e Amazon Web Services, da Amazon (AMZN).

Vendas no Brasil

Sem abrir os números, Puerta disse que o Brasil tem puxado a média para melhor nos últimos anos, apesar dos resultados globais mais fracos recentes.

O executivo afirmou que a demanda por tecnologia segue alta, mas que notou uma maior cautela dos clientes em 2023, principalmente no primeiro semestre. Ele atribuiu a cautela ao cenário de juros ainda elevados e às turbulências na economia ao longo do ano, o que levaram alguns clientes a adiar o fechamento de negócios maiores.

“Foi um ano mais difícil do mercado. Os próprios números públicos da Dell e dos concorrentes mostram uma retração sobre o ano anterior. Principalmente porque os grandes negócios foram postergados”, disse.

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Sobre a demanda de soluções de IA no Brasil, o executivo afirmou que tem trabalhado com clientes em casos de uso de aplicações de inteligência artificial generativa. O que não foi visto ainda no Brasil são grandes empresas que demandam servidores especializados e com alta capacidade de processamento, com GPUs (chips gráficos), que representam os maiores negócios no segmento de IA.

Já no mercado de PCs, em que a Dell é líder de market share no Brasil, Puerta disse que a empresa mantém a estratégia de se posicionar mais no segmento premium, com máquinas mais avançadas, o que permite ter uma margem de lucro maior. Hoje 90% dos produtos vendidos no país são feitos no Brasil, o que, segundo ele, permite ter um preço competitivo.

“No mercado de consumo, para pessoa física, não disputamos volume. Não vou ter a máquina mais barata. Nós colocamos foco em adicionar valor ao usuário. Essa é a nossa fortaleza”, afirmou.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.