Bloomberg — O anúncio do acordo para a venda do controle do Banco Master ao BRB chamou a atenção de autoridades brasileiras, que afirmam que investigam tanto a transação em si quanto como o banco conseguiu se expandir tão rapidamente nos últimos anos - a carteira cresceu em média 86% ao ano.
As investigações iniciadas por tribunais de contas e pelo Ministério Público Federal ainda são preliminares e podem durar vários meses. Mas podem, em última análise, resultar em pedidos de suspensão judicial do plano de compra do Master pelo BRB, banco de propriedade do governo de Brasília.
Críticos do negócio, como Fabio Alperowitch, cofundador e diretor de investimento da gestora Fama Re.capital, dizem que ele equivale a um resgate governamental de um banco que foi autorizado a assumir riscos excessivos por muito tempo.
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O rápido crescimento do Master dependeu fortemente de um incentivo oferecido pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que garante depósitos e que tem como contribuidores os maiores bancos do país.
O Master emprestou dinheiro a pessoas físicas com seguro do FGC e investiu em ativos de risco, como precatórios e ações de pequenas e médias empresas, algumas das quais enfrentavam dificuldades financeiras.
Mas uma mudança nas regras do Banco Central em dezembro de 2023 tornou esse plano de negócios insustentável, persuadindo os executivos do Master a buscar um comprador.
Pelo menos quatro investigações estão em andamento.
O Tribunal de Contas da União, por exemplo, está analisando, entre outras coisas, se o Banco Central - em boa parte sob o comando de Roberto Campos Neto - deixou de cumprir seu dever de supervisionar as instituições financeiras e como protege bancos públicos dos riscos potenciais associados ao FGC.
O Ministério Público Federal também iniciou uma investigação.
E as autoridades na capital brasileira, incluindo o Tribunal de Contas do DF, analisam se a compra do Master seria do melhor interesse de fato do BRB.
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O Banco Central também analisa o negócio, anunciado em 28 de março, mas aguarda que o BRB conclua a análise de quais ativos do Master poderiam fazer parte da fusão, de acordo com uma pessoa com conhecimento do assunto que pediu para não ser identificada por discutir informações não públicas.
As investigações e a complexidade da proposta de venda são um teste inicial para o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que assumiu o cargo em janeiro.
Nas duas últimas semanas, ele se reuniu com importantes banqueiros para discutir o futuro do Master e as potenciais consequências para o FGC. A venda ainda precisa da aprovação do Banco Central e das autoridades antitruste do Brasil.
Analistas do setor e gestores de recursos acompanham de perto o caso, especialmente o potencial impacto que ele pode ter sobre bancos menores, bem como quaisquer mudanças nas regras que possam afetar todo o setor.
A gestora Ibiuna Investimentos afirmou em sua carta mensal de crédito a clientes que está monitorando possíveis mudanças nas regras atuais do FGC, bem como o impacto nos preços dos ativos de bancos menores e a reprecificação de debêntures de empresas das quais o Banco Master é acionista.
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“Uma preocupação é que possa haver outros bancos pequenos que tenham tido uma estratégia semelhante à do Banco Master, e eles podem se ver em apuros”, disse William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics.
Outra preocupação é sobre quanto do seguro de depósitos do FGC pode ser necessário para o Banco Master e se ele seria capaz de atender à demanda caso mais bancos enfrentem problemas.
Ainda assim, analistas afirmam que o caso parece estar contido e que consequências mais amplas para o setor bancário ou o mercado de crédito parecem improváveis.
“Pela maioria dos indicadores, o setor bancário como um todo parece estar em boa forma”, escreveram analistas da Capital Economics em um relatório. “Os bancos estão bem posicionados para enfrentar qualquer tempestade.”
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