Bloomberg Línea — O maior escândalo da história recente do capitalismo brasileiro, a fraude contábil da ordem de R$ 25 bilhões da Americanas (AMER3), ganhou novo capítulo nesta quinta-feira (27), quase um ano e meio desde a sua revelação ao público em janeiro de 2023.
Nesta manhã, cerca de 80 policiais federais foram mobilizados para cumprir dois mandados de prisão preventiva e 15 mandados de busca e apreensão nas residências no Rio de Janeiro de ex-diretores da Americanas no período de alegada prática das fraudes, segundo nota da Polícia Federal.
Além disso, a Justiça Federal determinou o sequestro de bens e valores de ex-diretores que somam mais de R$ 500 milhões, acrescentou a PF, que não citou nomes, como de praxe.
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Os mandados de prisão tiveram como alvo o ex-CEO Miguel Gutierrez e a ex-diretora Ana Christina Ramos Saicali, que comandava a Ame Digital, fintech do grupo, segundo informações do jornal O Globo. Os dois executivos não foram encontrados porque estão no exterior e seus nomes serão incluídos na lista de mais procurados do mundo - foragidos - pela Interpol, ainda de acordo com O Globo.
A Americanas e a defesa de um dos ex-diretores (José Timotheo de Barros) divulgaram notas sobre a operação (veja mais abaixo).
A revelação da fraude levou a empresa a pedir recuperação judicial ainda em janeiro de 2023, com dívidas declaradas acima de R$ 40 bilhões e milhares de credores, de grandes empresas a pequenos fornecedores.
Os mandados da Operação Disclosure foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.
O objetivo da operação, deflagrada em conjunto com o Ministério Público Federal, é “buscar elucidar a participação dos ex-diretores da empresa Americanas em fraudes contábeis que, conforme Fato Relevante divulgado pela própria empresa, chegam ao montante de R$ 25,3 bilhões”. A investigação contou ainda com o apoio técnico da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
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PF: manipulação de mercado, insider trading e lavagem de dinheiro
“Segundo as investigações, que contam com a colaboração da atual diretoria da empresa Americanas, os ex-diretores praticaram fraudes contábeis relacionadas a operações de risco sacado, que consiste em uma operação na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos”, apontou a nota da PF sobre a Operação Disclosure.
Também foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que consistem em incentivos comerciais que geralmente são utilizados no setor, mas, no presente caso, foram contabilizadas VPCs que nunca existiram, acrescentou o órgão policial.
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“A investigação revelou ainda fortes indícios da prática do crime de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, também conhecido como insider trading, associação criminosa e lavagem de dinheiro”, disse a PF na nota sobre a operação.
Neste primeiro semestre, a varejista começou a pagar seus credores após a aprovação do plano de reestruturação pelos credores e a posterior homologação pela justiça.
No mês passado, como parte do plano de recuperação judicial, a companhia aprovou um aumento de capital de até R$ 40,733 bilhões, abrindo caminho para o aporte de R$ 12 bilhões pelo trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que são os principais acionistas.
O que dizem a Americanas e um dos ex-diretores
Em nota, o grupo Americanas informou que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”.
A companhia acrescentou que “acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”.
Ex-diretor de lojas físicas, logística e tecnologia da varejista, José Timotheo de Barros também se manifestou por meio de nota enviada à imprensa.
“A defesa considera desnecessária a operação de busca e de apreensão realizada pela PF em sua residência. Desde o início das apurações, documentos, informações econômicas e dados telemáticos foram colocados à disposição para a apuração do caso”, citou a nota assinada pelo escritório Moraes Pitombo Advogados.
O advogado Antonio Sérgio Pitombo, da defesa de Barros, acrescentou que “o fato de hoje é importante para que seja concedido pela Justiça o reiterado pedido de acesso às delações premiadas”.
Atualiza às 10h30 com notas da Americanas e do ex-diretor José Timotheo de Barros.
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