Americanas demite 1.400 pessoas em uma semana em meio a impasse com credores

Varejista demite 4% do quadro de pessoal na semana passada, aponta relatório; CFO confirma objeções de credores ao plano de recuperação

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Bloomberg Línea — Em meio a um impasse nas negociações com os bancos credores em torno do seu plano de recuperação judicial (RJ), a Americanas (AMER3) informou ter demitido 1.404 funcionários entre os dias 17 e 24 deste mês, de acordo com relatório publicado na noite de quarta-feira (26). O número de cortes representa cerca de 4% do seu quadro de funcionários.

No novo relatório a companhia afirmou ter 35.741 funcionários contratados em regime CLT (com carteira do trabalho). O número indica uma redução de 7.382 trabalhadores (-17%) desde janeiro, quando a empresa entrou em recuperação judicial. Na época, a Americanas afirmava ter 43.123 colaboradores.

No início da RJ, a varejista afirmava a intenção de evitar demissões em massa após a revelação de uma fraude contábil de R$ 20 bilhões, ainda sob investigação tanto interna como de autoridades.

O grupo, que tem como acionistas de referência o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, da 3G Capital, ainda não fechou acordo com os principais credores.

Bancos como Bradesco (BBDC4), Itaú (ITUB4) e Santander Brasil (SANB11) estão entre os maiores credores da Americanas no processo de recuperação judicial. Na quarta-feira (26), o CEO do Santander Brasil, Mario Leão, confirmou que a varejista ainda não fechou acordo com as instituições, durante entrevista a jornalistas referente à apresentação do resultado financeiro do segundo trimestre.

Em abril, o executivo havia sinalizado a expectativa de que um entendimento entre a Americanas e as principais instituições financeiras do país seria possível até o mês de junho.

“Eu indiquei que se esperava que até junho poderia ter um acordo. Para não correr o mesmo risco, não vou indicar nenhuma data. Seguimos dedicando tempo a isso, eu e outros CEOs. As conversas seguem construtivas. Não chegamos ainda ao desenho final”, respondeu o executivo à Bloomberg Línea.

“Naturalmente, quando houver uma AGC [Assembleia Geral de Credores], vamos ter o formalismo de os credores votarem se são a favor ou não do plano [Plano de Recuperação Judicial]. Não vou estimar uma data, mas deveria ocorrer nos próximos meses”, disse o CEO do Santander Brasil.

Na quarta-feira (26), a CFO da Americanas, Camille Loyo Faria, respondeu a pedido de esclarecimentos sobre o andamento do processo, em correspondência enviada à B3 e à CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Há objeções de alguns credores aos valores das dívidas calculadas pela Americanas.

“Foram apresentadas, por diversos credores, tanto impugnações aos créditos apontados na relação de credores da AJ (Administração Judicial) quanto objeções ao PRJ”, informou a CFO, sem nomear os credores.

A PagSeguro (PAGS) e outras cinco empresas do Grupo UOL (Universo Online, Ciatech Tecnologia Educacional, Web Jump Design em Informática, Compass UOL e Digital Services UOL) manifestaram sua objeção ao plano de recuperação judicial apresentado pela Americanas, segundo o jornal Valor Econômico no último dia 5.

Em sua correspondência à B3 e à CVM, a CFO da Americanas disse que será necessária a convocação da AGC para deliberar sobre o plano apresentado, tendo em vista a apresentação de objeções pelos credores.

“As impugnações de crédito são distribuídas como incidentes à recuperação judicial e tramitam de forma independente, de modo a não impactar o andamento do processo principal. Eventuais alterações quanto à existência, quantificação ou classificação dos créditos não invalidarão o resultado das deliberações em AGC”, esclareceu Faria.

Inicialmente, a expectativa dos credores era que a assembleia fosse convocada para o mês de agosto. Em março, a varejista apresentou proposta de oferecer aos credores um desconto de até 80% sobre o valor das dívidas, exigindo ainda a desistência de ações judiciais contra a companhia.

Com dívida de R$ 43 bilhões, a Americanas quer ficar com um passivo de apenas R$ 4,9 bilhões, com intenção de vender ativos também, como as redes Natural da Terra, Puket e Imaginarium, além de um jatinho.

Debenturistas também já expressaram rejeição aos termos da proposta da varejista, enquanto o trio de acionistas da 3G Capital se propôs a fazer um aporte de R$ 10 bilhões no grupo.

Loja esvaziada

A reportagem visitou uma unidade da Americanas na rua Augusta, no Jardim Paulista, na manhã desta quinta-feira (27), e conversou com funcionários, que confirmaram as demissões. A loja tinha pouco movimento tanto de clientes como de empregados. No balcão de pagamento, só havia um caixa, que falou sobre o remanejamento de um gerente para reforçar a unidade após os cortes.

Em nota enviada à Bloomberg Línea, a Americanas confirmou os últimos cortes de pessoal. “Diante da reestruturação de algumas frentes de negócio a partir de seu plano de transformação, [a empresa] realizou o desligamento de colaboradores. A companhia segue com foco na manutenção de suas operações e no aumento de sua eficiência”, informou a varejista.

A companhia disse que vai cumprir obrigações trabalhistas.

“A Americanas reforça seu comprometimento com a transparência na relação com os sindicatos, mantendo-os informados dos movimentos de reestruturação, assim como garante o cumprimento integral e tempestivo de suas obrigações trabalhistas, na forma da legislação vigente”, concluiu na nota.

- Matéria atualizada às 14h05 com informações sobre situação de lojas e comunicado da Americanas.

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