Americanas aprova aumento de capital que abre caminho para aporte de Lemann

Operação anunciada em dezembro permite aporte da ordem de R$ 12 bilhões por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira e deve ser homologada pelo conselho em julho

Americananas varejista brasileira
22 de Maio, 2024 | 02:08 PM

Bloomberg Línea — A Americanas (AMER3) deu mais um passo previsto no plano de recuperação judicial aprovado pelos credores no final de 2023.

A varejista aprovou, em assembleia de acionistas, proposta de aumento de capital entre R$ 12,268 bilhões (subscrição mínima) e R$ 40,733 bilhões, segundo documentos registrados na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) na noite de terça-feira (21).

O preço da emissão da nova ação será de R$ 1,30, valor informado em dezembro. Também houve a aprovação de um grupamento de ações.

A medida, que já era esperada pelo mercado, vai permitir a injeção de cerca de R$ 12 bilhões pelo trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, acionistas de referência, na companhia - que não está no portfólio de investimentos da 3G Capital, que pertence a eles.

PUBLICIDADE

Eles assumiram esse compromisso no ano passado, após o grupo ter entrado em recuperação judicial em janeiro, após revelação de uma fraude contábil.

Os principais bancos credores, os maiores do país, também apoiaram o aumento de capital, o que vai resultar em assumir uma participação acionária na varejista, como previsto desde dezembro.

As instituições financeiras, como Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander Brasil (SANB11) e BTG Pactual (BPAC11), podem ficar com até 48,2% do capital, com lock-up (proibição de vender) de três anos, um dos cenários desenhados no final do ano passado.

O trio de bilionários pode aumentar sua fatia de 40,3% até 49,3%, caso haja um exercício do direito de preferência por 10% dos acionistas, estimou a companhia em dezembro.

Leia mais: Sergio Rial se junta à Crescera Capital em novo desafio após a Americanas

Em entrevista à Bloomberg Línea em 26 de fevereiro, a CFO da Americanas, Camille Faria, havia citado a expectativa de que executar o principal do plano de recuperação até o fim do primeiro semestre. Ela fazia referência ao aumento de capital e ao leilão reverso (compra da dívida com maior desconto, a partir de 70%) de R$ 2 bilhões.

“O aumento de capital é uma das medidas de recuperação judicial prevista no PRJ e visa promover a readequação da estrutura de capital da companhia, contribuindo para a equalização do passivo do Grupo Americanas relativo a créditos concursais, adequando-os à sua capacidade de pagamento e viabiliza novos investimentos como forma de superar a atual e momentânea crise econômico-financeira do Grupo Americanas”, disse a companhia no aviso aos acionistas enviado ontem à CVM.

PUBLICIDADE

O documento precisou o valor do aporte pelos acionistas de referência, que será feita por meio de suas afiliadas Cedar Trade, Sawdog Holdings e Samer Investment.

“Os acionistas de referência se comprometeram a subscrever e integralizar, de forma pro rata, o valor total de R$ 12.268.754.635,80, em moeda corrente nacional e mediante a capitalização de créditos oriundos dos financiamentos de caráter extraconcursal na modalidade financiamento DIP (debtor-in-possession)”, afirmou.

Leia mais: ‘No Stress’: fundo é alvo de disputa na Justiça entre Americanas e Planner

O prazo para exercício de direito de preferência começa hoje (22) e vai até 21 de junho. Já o prazo de subscrição de sobras e solicitação de sobras adicionais tem início no dia 27 de junho, indo até 3 de julho. A homologação do aumento de capital está prevista para reunião do conselho de administração no dia 11 de julho.

Já o início da negociação das novas ações emitidas no aumento de capital foi marcado para 12 de julho, enquanto a efetivação do grupamento será no dia 16 de julho. As ações passam a ser negociadas grupadas no dia 17 de julho, data também em que os bônus de subscrição são grupados e passam a ser negociados.

O grupamento foi aprovado na proporção de 100:1, de forma que cada lote de 100 ações ordinárias ou bônus de subscrição seja grupado em uma única ação ou bônus de subscrição da mesma espécie, sem modificação do valor do capital social.

A medida foi tomada após o papel sofrer sucessivas quedas ao longo de 2023, passando a valer menos de R$ 1 (penny stock). Ontem, fechou a R$ 0,53, acumulando desvalorização de 53% em 12 meses.

O papel da Americanas é negociado na B3 desde janeiro de 2022 após uma simplificação societária, quando houve uma incorporação da antiga Lojas Americanas S.A. pela Americanas S.A., um processo que visava eliminar o desconto de holding das extintas LAME3 e LAME4 e refletir a operação digital da companhia.

No final de 2021, o trio de investidores bilionários, presente na companhia desde os anos 1980, havia decidido deixar de controlar a varejista, tornando-se sócios de referência.

- Matéria atualizada às 9h de quinta-feira (23) com a exclusão da informação de que a injeção de capital de Lemann, Telles e Sicupira passaria pela 3G Capital. A Americanas não está no portfólio da empresa de investimentos.

Leia também

Como a humanização da IA colocou em lados opostos o CEO da Microsoft e a OpenAI

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.