Amazon se aproxima de US$ 100 bi em caixa e mercado debate dividendos

Big tech fundada por Jeff Bezos prefere historicamente reinvestir os ganhos, mas aumento das reservas leva investidores a especular se não seguirá o caminho de pares como Meta, Apple e Alphabet

Painel com cotações da Amazon: ação subiu perto de 20% neste ano e investidores anseiam por mais retorno (Foto: Jeenah Moon/Bloomberg)
Por Ryan Vlastelica
29 de Julho, 2024 | 01:56 PM

Bloomberg — Com uma reserva de caixa que deve ultrapassar US$ 100 bilhões neste ano, a Amazon nunca desfrutou de condições tão favoráveis para se juntar aos seus pares de megacaps de tecnologia para devolver parte do dinheiro aos acionistas, inclusive com a possibilidade de romper o limite de dividendos.

A gigante de tecnologia fundada por Jeff Bezos é rica em dinheiro, mas econômica em comparação com o restante das grandes empresas do setor, tendo resistido por muito tempo a adotar um programa sustentado de retorno de capital e optado, em vez disso, por reinvestir os lucros em seus negócios.

Qualquer indício de mudança nesse sentido poderia gerar novos ganhos nas ações, que subiram perto de 20% neste ano, superando o ganho de 13% do índice Nasdaq 100 no período.

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É possível que o anúncio não ocorra na próxima quinta-feira (1º de agosto), quando a Amazon divulgará os resultados do segundo trimestre. Mas muitos, inclusive Andrew Zamfotis, gestor de portfólio da Ami Asset Management, acham que isso acontecerá nos próximos trimestres.

“A distribuição de dividendos pode ser inevitável e seria um sinal de que a empresa vai se concentrar mais nos gastos e no crescimento lucrativo”, disse Zamfotis.

“A Amazon certamente pode pagar por isso e, devido à sua relutância em gerar retornos de capital mesmo em tempos de expansão, acho que seria muito significativo se ela seguisse seus pares com um dividendo ou acelerasse o ritmo com recompras.”

Mesmo com recente queda, ação da Amazon subiu cerca de 20% em 2024 e superou o benchmark da Nasdaq no período

Um porta-voz da empresa apontou para a teleconferência de resultados do último trimestre, quando o diretor financeiro (CFO), Brian Olsavsky, disse que a Amazon (AMZN) continuaria a priorizar o capex (investimento produtivo) e o pagamento da dívida em detrimento dos retornos de capital.

Mas, com o fluxo de caixa livre projetado para quase dobrar neste ano, muitos investidores entendem que a empresa poderia começar a fazer mais pelos acionistas.

Aumentar a anêmica autorização de recompra da empresa seria um caminho para o retorno de capital, mas alguns investidores têm especulado sobre a perspectiva do pagamento do primeiro dividendo da Amazon, especialmente porque outras big techs têm feito isso ultimamente.

Recompensar os acionistas tem sido uma tendência entre as megacaps neste ano.

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A Meta Platforms (META) e a Alphabet (GOOG) introduziram dividendos neste ano, assim como a Salesforce e a Booking Holdings. A Nvidia (NVDA), fabricante de chips com foco em IA cuja ação subiu mais de 130% neste ano, aumentou seus dividendos em 150%, para 10 centavos de dólar por ação.

Leia mais: Dividendos globais alcançam recorde de US$ 1,66 trilhão em 2023

Embora os rendimentos dos dividendos em tecnologia tendam a ser baixos, eles são um sinal de que as empresas estão confiantes em sua geração de caixa de longo prazo e em suas perspectivas de negócios.

As recompras, por sua vez, são uma forma de aumentar os lucros por ação, e muitos dos anúncios de dividendos foram acompanhados por grandes recompras de ações.

A Meta anunciou um programa de US$ 50 bilhões em fevereiro, enquanto a Alphabet autorizou US$ 70 bilhões. A Apple aprovou uma recompra de US$ 110 bilhões, a maior da história.

Enquanto isso, o programa de recompra de US$ 10 bilhões da Amazon, aprovado no início de 2022, foi concluído com menos da metade previsto até o final de março. Na verdade, a empresa não recomprou nenhuma ação nos últimos 21 meses (veja gráfico abaixo).

Amazon continua sem adotar programas de recompras de ações, diferentemente de outras big techs geradoras de caixa

A ausência de dividendos sobressalta cada vez mais; a Tesla é a única outra empresa das “Sete Magníficas” sem dividendos e, entre os componentes da Dow Jones, a fabricante de aviões Boeing é a única outra companhia que não paga dividendos, tendo suspendido no início da pandemia.

A Amazon tinha mais de US$ 86 bilhões em caixa no fim de 2023 e gerou US$ 32,2 bilhões em fluxo de caixa livre no ano passado; os analistas esperam que esse valor suba para US$ 61,2 bilhões neste ano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

No entanto, além de despejar dinheiro em iniciativas de IA, a empresa pode enfrentar dificuldades para encontrar outros usos para seu dinheiro no ambiente corrente. O maior escrutínio regulatório sobre fusões e aquisições do setor de tecnologia significa que as opções de aquisição são limitadas.

Portanto, sem um programa mais agressivo de retorno de capital, os saldos de caixa da Amazon “poderiam chegar a um excesso ineficiente”, de acordo com a Bloomberg Intelligence.

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Ainda assim, há um fator crucial que poderia impedir a Amazon de oferecer dividendos no curto prazo - suas margens são menores do que as de outras big techs devido a seu negócio de varejo.

“Para começar a pagar dividendos, a Amazon teria que pagar um percentual maior de seu fluxo de caixa do que as outras empresas que já começaram a fazê-lo, o que significa que pagar dividendos agora é prematuro e não seria uma boa gestão”, disse Brian Szytel, diretor administrativo e sócio do Bahnsen Group.

“Eles chegarão a esse ponto”, disse Sytel, que espera que as margens continuem a melhorar.

- Com a colaboração de Subrat Patnaik.

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