Bloomberg Línea — O setor de telecomunicações no Brasil é altamente fragmentado e ainda oferece oportunidades para empresas independentes, como os Provedores de Serviço de Internet (ISPs).
É o caso do grupo Alloha Fibra, provedor de fibra óptica e banda larga fixa controlado pela gestora eB Capital e comandado pelo executivo Lorival Luz desde julho de 2023.
A empresa “arrumou a casa para acelerar ainda mais a estratégia de crescimento sustentável”, com caixa reforçado e liquidez, disse Luz em entrevista à Bloomberg Línea.
“Saímos de uma empresa fragmentada para uma companhia única, que gera lucro e com governança estruturada. Eu durmo tranquilo e acredito que nossos sócios também”, disse Luz.
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Desde julho de 2023, o executivo conduziu um intenso processo de integração. O desafio envolveu a unificação de vinte empresas, nove marcas distintas, quase noventa sistemas diferentes e culturas organizacionais diversas na consolidação de uma única marca forte e estruturada: a Alloha.
A integração, segundo ele, foi realizada sem o apoio de consultorias externas, com a equipe interna desempenhando um papel essencial no projeto, que durou cerca de um ano.
O trabalho envolveu desde a padronização de sistemas e processos até a comunicação com clientes e funcionários para a transição.
Os resultados consolidados do ano passado, recém-divulgados, mostraram que a empresa reverteu um prejuízo de R$ 2,1 milhões em 2023 para um lucro líquido anual de R$ 44,9 milhões em 2024.
O Ebitda ajustado - uma métrica de geração de caixa operacional - do ano passado foi de R$ 806 milhões, um crescimento de 15,9% em relação a 2023.
A receita operacional líquida de 2024 atingiu R$ 1,7 bilhão, um aumento de 4% em relação ao ano anterior.
Esse crescimento da receita está diretamente ligado à expansão da base de clientes, que aumentou em 7,5% em 2024, com a adição de 117 mil novos contratos.
Além do aumento da receita, a melhora na rentabilidade também contribuiu significativamente para o resultado financeiro positivo, explicou o CEO da Alloha.
A disciplina na gestão do capital e a solidez financeira são fatores importantes na operação, afirmou Luz. A empresa encerrou 2024 com aproximadamente R$ 1 bilhão em caixa e aplicações financeiras - e mantém um múltiplo de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) de 2,8x.
A estratégia de crescimento, que incluiu a emissão de R$ 800 milhões em debêntures no ano passado e a obtenção de linhas de crédito de R$ 466 milhões, reforçou a confiança do mercado na empresa e forneceu recursos para futuras expansões.
“A competição precisa encontrar um equilíbrio sustentável. Não adianta baixar preços a ponto de inviabilizar os investimentos a longo prazo”, afirmou. Para ele, as aquisições são um movimento natural para manter a solidez do setor e a empresa avalia novos M&As para os próximos trimestres.
“Temos um pipeline robusto e seguimos focados no crescimento sustentável”, disse.
Em novembro de 2024, a empresa adquiriu a companhia maranhense Atex Telecom por R$ 73 milhões justamente com intuito de acelerar a presença no Nordeste.
Luz chegou ao comando da Alloha com a experiência de cargos de liderança em grandes empresas: entre 2019 e 2022, foi CEO global da BRF. Antes disso, foi CFO global da Votorantim e da CPFL Energia.
Atualmente, ele também é membro do conselho de administração da Citrosuco.

Estratégia de crescimento
Com uma presença já cativa no Nordeste, a Alloha planeja expandir a sua operação em áreas onde já possui presença: são 864 cidades brasileiras em 22 estados, com 1,7 milhão de clientes nos mercados B2B e B2C - a meta é chegar a 2 milhões.
De acordo com um relatório da XP Research, que cita dados de setembro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), as ISPs tem crescido de maneira acelerada no país e detêm o equivalente a 55% do mercado de banda larga fixa no Brasil e a 64% do mercado de fibra.
Apesar do crescimento, Claro, Vivo e Oi seguem como as maiores operadoras do país. Em quarto lugar está a Alloha. Entre as ISPS, a empresa ocupa o primeiro lugar, seguido por Brisanet, Vero, Desktop e Algar.
“Antes valia a pena entrar em uma nova cidade, mas hoje qualquer município já tem vários provedores. O custo de implantação de uma rede nova muitas vezes não compensa”, afirmou Luz.
O Ceará é o principal mercado da companhia, onde já detém 22% de participação de mercado, com quase 300 mil clientes.
A aquisição permite um aproveitamento eficiente de infraestrutura, equipe e suporte técnico, o que garante maior eficiência e sinergias, explicou Luz.
Desde o mês passado, a empresa passou a patrocinar, com sua marca Giga+, os times do Fortaleza e do Ceará, que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro.
O intuito, segundo Luz, é fortalecer a marca Giga+ nesses locais que são o principal mercado da empresa, além de se tornar uma marca mais “próxima” da base de clientes.
Em Minas Gerais, a Alloha patrocina o Uberaba Esporte Clube, que subiu para a segunda divisão do Campeonato Mineiro.
Na zona leste de São Paulo, a empresa patrocina um time do bairro de Cidade Tiradentes.
A empresa não divulga dados sobre os valores de patrocínio.

A empresa disse que disponibilizará promoções e terá preços de mercado competitivos para os sócios torcedores dos clubes Fortaleza e Ceará a partir de meados de abril.
Custos operacionais
Os custos operacionais da Alloha estão ligados principalmente à manutenção de rede e ao atendimento ao cliente.
Além disso, há um investimento contínuo na modernização dos equipamentos, como modens mais avançados, para garantir maior velocidade aos usuários.
Embora os dispositivos tenham um ciclo de vida de quatro a cinco anos, a demanda crescente por maior capacidade exige constantes atualizações. A rede da Alloha é predominantemente aérea, com postes para a distribuição da fibra óptica.
“Enterrar a fiação é complexo e caro, especialmente considerando a dimensão do Brasil. A instalação aérea é mais rápida e eficiente”, disse o CEO.
Além das grandes provedoras, a Starlink, empresa de internet via satélite de Elon Musk, tem avançado no país.
Para Lorival Luz, a relação é de complementaridade. “A Starlink tem uma operação forte, disponível em qualquer lugar. Mas, para grandes empresas com tráfego elevado, a fibra óptica ainda se destaca pela velocidade e pela menor latência”, explicou.
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