Além do ‘super atleta’: as razões por trás da febre de corredores amadores no Brasil

País já conta com 13 milhões de pessoas que correm ao menos uma vez por semana, revela pesquisa da consultoria Box 1824, a pedido da Olympikus; redes sociais ajudaram a dar um impulso ao fenômeno

Mais do que performance, a corrida virou um espaço de socialização. 50% das pessoas concordando com a ideia de que fazer amigos é a melhor coisa do esporte
Por Marcos Bonfim
02 de Fevereiro, 2025 | 10:43 AM

Bloomberg Linea — A corrida de rua no Brasil deixou de ser uma prática restrita a atletas e ganha força como fenômeno cultural e social. Impulsionada no pós-pandemia pelo efeito multiplicador das redes sociais, a modalidade já soma 13 milhões de praticantes no país, segundo um levantamento recém-concluído pela consultoria Box 1824, encomendado pela Olympikus.

A explosão no número de corredores se reflete não apenas nas ruas e nos parques mas também no mercado esportivo e nas interações digitais, em que a jornada se tornou conteúdo frequente.

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O passo a passo dos treinos, dos iniciantes aos mais avançados, e o desempenho em provas são acompanhados e documentados em postagens, stories e memes. Só que, para além da simples observação, muitos dos seguidores desses usuários resolveram sair das telas e ir para as ruas.

“Um primeiro fator para essa explosão foi o ‘efeito TikTok’, que começou a mostrar para todo mundo que qualquer um poderia correr. Que não precisaria ser alguém com um super porte físico, com grande resistência física”, afirmou Luísa Bettio, diretora executiva de estratégia da Box 1824.

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“E a presença da corrida em outras frentes, como o cardio [de práticas que promovem a melhora cardiovascular], acabou também trazendo muita gente para a corrida.”

Segundo os dados da pesquisa, 23% das pessoas que correm já participaram de uma prova - o percentual é equivalente a quase 3 milhões de pessoas. Esse número mostra o potencial de crescimento tanto em termos de experiências quanto na criação de novos negócios relacionados ao esporte.

Na conta de corredores, a pesquisa - batizada de “Por dentro do Corre” - considerou pessoas que afirmaram correr pelo menos uma vez por semana. Por essa métrica, o corredor brasileiro corre em média em 9,2 km semanalmente e 84% estão satisfeitos com as suas distâncias.

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Quem são os corredores

Essa “nação” de corredores no Brasil, que supera a população de países como Bélgica, Grécia e Portugal, ganhou força a partir da pandemia em 2020.

Três em cada quatro (75%) dos praticantes disseram que colocaram os tênis de corrida pela primeira vez de forma recorrente entre 2021 e 2022 e não mais pararam. Entre as mulheres, 56% adotaram o esporte há menos de um ano - o número ficou em 38% no caso dos homens.

A fotografia da pesquisa também revela que o Sudeste responde por metade dos corredores (51%), seguido das regiões Nordeste (20%) e Sul (15%). As regiões Norte e Centro-Oeste ficaram com 7% cada uma.

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Ao todo, 58% se identificam como homens, e 42%, como mulheres. Etnicamente, 47% se autodeclararam brancos, 37% são pardos, 11% ão negros, 2% são amarelos e 1% são indígenas. A classe predominante na corrida é a B (49%). Na sequência, aparecem a C (36%) e A (15%).

Por fase etária, o grupo majoritário tem entre 25 e 45 anos, com 46% do total, acompanhado de perto por quem tem mais de 45 anos, com 42%. A Geração Z, corredores entre 18 e 24 anos, soma 12% do total.

Os dados também revelam outras perspectivas para além dos números “macro”. Diferentemente de outras gerações de corredores, focada puramente em atletas profissionais ou de performance, o grupo que cresceu ao longo dos últimos quatro anos procura uma relação diferente com o esporte.

O cuidado com a saúde, seja ela física ou mental, aparece como a principal motivação para a prática: 60% começaram a correr pensando em melhorar a condição física, e 47%, atentos às questões psicológicas. Quem entrou por “moda” representou apenas 4% entre as participantes do estudo.

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E a corrida se tornou um espaço também de socialização e de encontros: 50% das pessoas entrevistadas concordando com a ideia de que fazer novos amigos é o melhor aspecto da corrida. Não à toa, os grupos de corrida - ou crews -, muitos formados nas redes sociais, se espalham por algumas regiões do país.

Os dados da pesquisa levaram a Olympikus repensar e remodelar a sua estratégia de patrocinar 50 provas, como parte do plano de marketing dos 50 anos da marca em 2025.

“Algumas das 50 corridas não são provas, são justamente essas corridas celebrativas à noite para conhecer a galera e se aproximar”, afirmou Márcio Callage, CMO da Vulcabras, holding dona da Olympikus.

A Olympikus é apontada como especialistas de mercado como uma das “vencedoras” do movimento de expansão do número de corredores no Brasil - dado o crescimento em vendas e do awareness.

Outras marcas de alcance global também têm capitalizado em cima do mercado crescente, seja com patrocínio a provas e treinos a grupos de corrida, de Nike e Adidas a Asics, New Balance, On e Fila.

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A linha Corre da Olympikus - com os modelos Corre, Vento, Grafeno e Supra - tem atraído há pelo menos dois anos um contingente crescente de usuários. No ano passado, pela segunda vez consecutiva, o modelo Corre apareceu como o tênis mais usado pelos brasileiros no levantamento anual do Strava.

A Vulcabras, que detém também os direitos da Mizuno e da Under Armour no Brasil, acumula 17 trimestres consecutivos de crescimento de receita - a Olympikus tem a maior em participação entre o trio.

“Tiramos da pesquisa os insights para grande parte do que vamos comunicar neste ano, que é o poder de transformação da corrida. Que é o cara que não se imaginava correr e agora disputa uma maratona. A pessoa que começou a correr e está com saúde”, afirmou o chefe de marketing da Vulcabras.

“Vamos contar essas histórias, e não só a do super atleta, do chegar em primeiro lugar e coisas assim.”

A pesquisa contou com uma base de 2.000 entrevistas online com corredores das cinco regiões do país, de diferentes classes sociais e etnias. Envolveu também acompanhamento in loco de espaços de treinos em São Paulo e no Rio de Janeiro e entrevistas ao vivo.

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Marcos Bonfim

Marcos Bonfim

Jornalista brasileiro especializado na cobertura de startups, inovação e tecnologia. Formado em jornalismo pela PUC-SP e com pós em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, acumula passagens por veículos como Exame, UOL, Meio & Mensagem e Propmark