Bloomberg Línea — Ele tem sido chamado de novo dating app, em substituição a Tinder, Bumble e similares. E tem se tornado cada vez mais uma plataforma que vai além do registro e da consolidação de seus tempos de treinos e provas em atividades de corrida, ciclismo e natação - e de triatlo para quem pratica todos.
Em 2024, o Strava superou a marca de 19 milhões de usuários - essencialmente atletas amadadores - no Brasil, como reflexo de um crescimento contínuo. Em 2019, a base era de 4 milhões.
A startup fundada em 2009 na Califórnia, nos Estados Unidos, recebeu mais de 3 milhões de novos usuários no Brasil no último ano, o que representou o segundo maior contingente de inscritos no mundo, atrás apenas do país de origem.
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2024 ficou marcado também por ser um ano em que os treinos de corrida superaram os registros de ciclismo, algo que não acontecia, pelo menos, desde 2019 - o ano pré-pandemia.
“Isso não significa que a bike declinou, e, sim, que a corrida teve um boom e esses novos usuários entraram na plataforma via corrida”, afirmou Rosana Fortes, CEO da Strava no Brasil desde o fim de 2019, à Bloomberg Línea. Globalmente, a corrida já ostentava a primeira posição.
A potencialização do Strava como uma plataforma social, o que inclui pelos usuários os objetivos de conhecer novas pessoas e eventuais crushes, “ficantes” e potenciais namorado(a)s, é atestada pelos números.
No recém-lançado relatório “Year in Sport” relativo a 2024, o Strava apontou a corrida como o esporte social que mais cresceu também, com uma expansão de 109% dos grupos de corrida no país, quase o dobro do percebido mundialmente. Em clubes com mais de dez pessoas, a alta foi de 30%.
Esses novos hábitos, quando praticados em grupo com mais de dez pessoas, têm ampliado a média das atividades físicas (corridas, pedaladas e trilhas) em 40%, na comparação com atividades em que os usuários treinam sozinhos. Ou seja: treinar acompanhado serve como um estímulo poderoso.
O relatório, apresentado anualmente pela plataforma, combina dados registrados pelos usuários no aplicativo com uma pesquisa com mais de 5.000 pessoas, incluindo assinantes ou não da plataforma.
O Strava tem uma base de mais de 135 milhões de pessoas, distribuída por mais de 190 países.
Mais do que dados sobre indivíduos, as informações refletem e projetam uma mudança social. O número de quem prefere conhecer novas pessoas em grupos fitness é quatro vezes o percentual dos que citam o tradicional encontro em bares, com 59% versus 14% mundialmente - segundo a pesquisa.
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Trata-se de um fenômeno já detectado e acompanhado com apreensão e subsequente busca de novas estratégias por marcas de bebidas, que lançam versões com menor ou nenhum teor alcoólico e com menos calorias, de olho em um público que abrange principalmente a Geração Z mas também millennials.
Segundo o relatório, para alcançar as metas fitness, 93% dos usuários locais disseram que pretendem diminuir a ingestão de bebidas com teor alcoólico. Na Geração Z, o percentual é de 95%.
No Brasil, a tendência comportamental é exacerbada: 66% para quem deseja conhecer novas pessoas em grupos fitness, contra 18% em bares.
Um em cada cinco jovens afirmou já ter saído com alguém que conheceu em grupo de atividade física - o movimento é facilmente testemunhado em redes sociais como o Threads, em que usuários fazem perguntas sobre treinos e pedem por informações sobre locais e buscam por novos colegas.
O modelo de negócios do Strava
É de posse de informações como essas que o Strava tem se tornado uma espécie de advisor estratégico para marcas que querem dialogar com um público crescente que encontra nas atividades esportivas outra forma de conexão, em especial no mundo pós-pandemia.
E isso especialmente para marcas que não são nativas do esporte.
“Todo mundo quer beber dessa fonte. Não é só o mercado endêmico, com empresas de suplementação e quem fabrica tênis para as atividades. Todo mundo agora quer participar”, afirmou Fortes.
“Nós estamos ajudando, por exemplo, bancos que querem investir em corridas, mas não sabem como. E entramos sugerindo algumas opções”, disse a country manager do Strava no Brasil.
De acordo com a executiva, semanalmente ela se reúne com agências publicitárias e anunciantes que desejam abrir canais de conversa com esse novo pelotão de atletas amadores.
É um trabalho de consultoria que, segundo ela, abre portas para o que traz dinheiro e faz o próprio negócio original do Strava girar.
A empresa se posiciona como uma comunidade de adeptos da vida saudável e, apesar de funcionalidades como redes sociais, como a possibilidade de envio de mensagens e postagens de fotos e vídeos de treinos, o Strava - por ora - não vende mídia, como o Facebook e o Instagram.
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A maior parte da receita do negócio hoje vem da assinatura dos usuários, com a oferta de diferentes funcionalidades para acompanhamento dos resultados de treinos e a criação de rotas.
“A operação aqui no Brasil é muito ‘topo do funil’, é a aquisição de base”, disse em referência ao termo do marketing que descreve a fase inicial do processo de venda, em que o cliente potencial busca informações sobre produtos ou serviços.
“Isso significa trazer mais usuários e conversar para converter. O brasileiro tem uma dificuldade em pagar assinatura de qualquer coisa.”
Sem revelar o número de usuários pagantes nem o ritmo em que essa base avança no país, a executiva disse apenas que esse grupo “aumenta gradativamente”.
A conexão com marcas, porém, tem o potencial de acelerar uma segunda vertente do Strava, o patrocínio aos desafios, que são propostas para que os usuários cumpram determinada distância a cada mês, como “corra 100 km em janeiro”.
No exterior, grandes maratonas como algumas Majors - a de Londres ou a de Nova York, por exemplo - oferecem tais desafios com direito até a medalhas mediante inscrição e conclusão.
“Nós temos feito eventos compartilhados por meio da criação de identidade das marcas dentro do Strava, que são os clubes. E temos muitos planos em 2025 para contar com novas marcas que ajudem a fomentar essa história”, afirmou a CEO.
Globalmente, a Strava opera no positivo operacional desde 2020, mesmo período em que recebeu o seu último aporte financeiro, uma rodada Série F de US$ 110 milhões liderada pelo TCV, também investidor no Spotify e no Hotmart, e pela Sequoia. O investimento contou com a participação de Dragoneer Group, Madrone Capital Partners, Jackson Square Ventures e Go4it Capital.
No período, a base de usuários quase duplicou, de 70 milhões para os atuais 135 milhões.
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