Bloomberg — A Airbus alertou na segunda-feira (24) que enfrenta uma escassez de milhões de peças que compõem suas aeronaves comerciais, como motores, estruturas aeronáuticas e interiores de cabine, o que afeta os planos de entrega da empresa.
Como resultado, a companhia reduziu uma série de metas de longo prazo – desde lucro operacional, geração de caixa e entrega de jatos até taxas de produção mensal de seu modelo A320.
Os desafios enfrentados pela Airbus e pela rival Boeing não são causados pela baixa demanda por seus produtos, mas por uma cadeia de suprimentos que vem sendo esticada há anos.
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A Airbus já vinha alertando sobre o problema há muito tempo, depois que a pandemia abalou o setor de aviação global e a deixou despreparada quando as viagens aéreas voltaram a crescer.
O que há de novo é a amplitude do problema, com o CEO Guillaume Faury dizendo que a escassez de motores está surgindo agora como o mais recente ponto de atrito. “Essa é uma situação nova que não esperávamos”, disse ele em teleconferência com analistas.
A empresa agora espera entregar 770 aeronaves em vez de 800 unidades em 2024. O lucro ajustado antes de juros e impostos chegará a 5,5 bilhões de euros (US$ 5,9 bilhões) este ano, abaixo da meta anterior de até 7 bilhões de euros.
A empresa também reduziu sua perspectiva de fluxo de caixa livre antes do financiamento ao cliente para cerca de 3,5 bilhões de euros.
As revisões para baixo levaram as ações da Airbus a caírem até 12,4% em Paris, arrastando os papéis para uma perda de 5% no período acumulado do ano. O movimento contaminou empresas como a fornecedora Safran, que caiu até 5%, enquanto a MTU Aero Engines caiu 7,9%.
“A poeira precisa baixar antes que possamos ficar novamente construtivos”, disse Christophe Menard, analista do Deutsche Bank, que chamou o alerta da Airbus de “impressionante”.
“As entregas de junho estão devagar e não há garantia, neste momento, de que a nova meta de entrega será fácil de ser atingida até o final do ano.”
Faury disse aos repórteres que a situação não está melhorando, exigindo que a empresa ajuste suas metas.
A Airbus também adiou sua meta de produzir 75 de seus jatos A320 de corredor único por mês em um ano, para 2027. Essa abordagem mais conservadora pode intensificar ainda mais o déficit de novos jatos, uma vez que a Boeing também está produzindo seu modelo 737 a uma taxa mensal significativamente reduzida.
Esta é a segunda vez desde 2022 que a Airbus reduziu a meta de entrega anual. Mais recentemente, a fabricante de jatos reiterou seu desejo de 800 unidades no final de abril, quando divulgou os números do primeiro trimestre.
Falta de peças
Faury disse que as peças da cabine, por exemplo, estão em falta porque as companhias aéreas estão reformando aviões mais antigos, o que significa que as remessas para a Airbus estão limitadas.
Muitas companhias aéreas reclamaram de atraso nas entregas de aeronaves, forçando-as a voar com estruturas mais antigas por mais tempo.
O CEO disse em uma entrevista no início de junho que qualquer problema de fornecimento poderia persistir nos próximos 2 a 3 anos. Faury advertiu na segunda que os desafios econômicos e geopolíticos estão contribuindo para a situação e vieram para ficar “por um tempo”.
Para agravar os problemas da Airbus, há ainda questões que afetam os motores de seu modelo mais vendido, o A320, equipado com o modelo Pratt & Whitney da RTX ou com a variante Leap fabricada pelo consórcio CFM International.
Faury disse durante a teleconferência que a situação “piorou significativamente” nas últimas semanas e que a empresa terá aviões de asa delta até o final do trimestre – linguagem do setor para aviões sem turbinas.
Os problemas com os motores estão se tornando mais predominantes, depois de parecerem estar mais sob controle em 2023 e no início deste ano, disse o CEO.
A Airbus teve uma primeira metade do ano relativamente calma, enquanto a Boeing entrou em uma crise profunda após um acidente no início de janeiro.
Como resultado, a empresa norte-americana foi forçada a reduzir a produção de seu 737, o que pode dar à Airbus uma oportunidade de conquistar os negócios dos fiéis da Boeing.
Ao mesmo tempo, ambas as empresas estão com seus produtos mais vendidos em grande parte esgotados, o que dá à Airbus apenas uma margem limitada para capitalizar sobre os problemas da Boeing.
Momento desafiador
Segundo a Airbus, a nova previsão exclui quaisquer possíveis aquisições. A empresa está se aproximando de um acordo com a Spirit AeroSystems Holdings para assumir partes dos negócios do fornecedor aeroespacial, informou a Bloomberg News na semana passada.
Faury disse que as discussões continuam, mas ele se recusou a comentar sobre uma possível conclusão do acordo. “A situação da Spirit é difícil do ponto de vista industrial”, disse o executivo. “É parte das dificuldades que estão desencadeando essa revisão nas projeções.”
A Airbus disse que também sofrerá encargos de cerca de 900 milhões de euros relacionados a alguns programas espaciais, citando “produtos complexos e sofisticados” que criaram riscos de desenvolvimento.
Como resultado, a Airbus disse que "avaliará todas as opções estratégicas, tais como reestruturação potencial, modelos de cooperação, revisão de portfólio e opções de fusões e aquisições".
Essa revisão dos programas espaciais problemáticos está cerca de 70% concluída, disse a Airbus em outra coletiva.
A revisão ocorre pouco antes do final do segundo trimestre da Airbus. A empresa sediada em Toulouse, na França, deve divulgar os resultados completos do semestre em 30 de julho.
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