Agenda de Trump abala as perspectivas de crescimento de fusões e aquisições

Imposição de tarifas comerciais e incertezas de conflitos geopolíticos têm afetado os negócios de M&A; globalmente, transações acumulam queda de 17% em 2025 até agora

Pouco mais de US$ 470 bilhões em transações globais foram anunciadas até agora em 2025. (Foto: Victor J. Blue/Bloomberg)
Por Fareed Sahloul - Lisa Abramowicz
05 de Março, 2025 | 03:05 PM

Bloomberg — O pior inimigo do mercado de fusões e aquisições sempre foi a incerteza. Isso é um problema para os profissionais do setor, que esperavam um ano promissor sob Donald Trump, mas, em vez disso, se chocaram com a dura realidade das guerras comerciais e dos conflitos geopolíticos do presidente que abalam o mercado.

Pouco mais de US$ 470 bilhões em transações globais foram anunciadas até agora em 2025, uma queda de cerca de 17% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

PUBLICIDADE

Isso não é um bom presságio para o resto do ano: nenhuma vez nas últimas duas décadas a negociação se recuperou de um primeiro trimestre negativo para superar o volume de negócios do ano anterior, mostram os dados.

“Há um novo normal de irracionalidade e não acho que isso seja útil para nossa economia”, disse Robert Rubin, que foi Secretário do Tesouro dos EUA durante o governo Clinton, para a Bloomberg Invest na terça-feira.

Rubin, agora conselheiro do banco de investimentos Centerview Partners, disse que as políticas econômicas de Trump alimentaram a “maior incerteza” em sua carreira de seis décadas.

PUBLICIDADE

Empresas famintas por negócios e seus consultores inicialmente previram que as políticas de Trump criariam melhores condições para comprar e vender, turbinando um mercado de fusões e aquisições (M&A) que acabou de se recuperar após um período de baixa.

Em vez disso, altas tarifas contra países, incluindo os vizinhos Canadá e México, bem como tensões com a Ucrânia sobre como avançar em direção às negociações de paz com a Rússia, assustaram os mercados e mantiveram os negociadores no modo de esperar para ver.

Leia também: Infraestrutura deve continuar a se destacar em M&As, apontam bancos e escritórios

PUBLICIDADE

O presidente do Federal Reserve Bank de Nova York, John Williams, disse na terça-feira (4) que espera que as tarifas contribuam para a inflação, e os dirigentes do banco central previram menos reduções nas taxas de juros este ano.

As empresas de private equity, cuja atividade é essencial para um mercado de M&A saudável, já estão sob pressão.

“As empresas estão sendo forçadas a contemplar variáveis que historicamente não eram contempladas”, disse Raymond McGuire, presidente da empresa de consultoria Lazard, durante uma entrevista com a Bloomberg Invest. “A imprevisibilidade que parece estar em jogo aqui não é algo que dê muita confiança aos conselhos e CEOs.”

PUBLICIDADE

Uma pesquisa recente com especialistas em M&A feita pela Gladstone Place Partners, publicada antes do encontro anual de profissionais de M&A do Instituto de Direito Corporativo da Universidade de Tulane, em Nova Orleans, esta semana, revelou que 63% veem o governo Trump como o fator macro que terá o maior impacto nas fusões e aquisições em 2025.

Rubin disse na terça-feira que as políticas tarifárias de Trump afetariam negativamente a inflação, o crescimento e a produtividade.

Apesar de os mercados de ações terem perdido os ganhos iniciais pós-eleição, a agenda América First, de Trump, está desencadeando certos tipos de negócios.

Na terça-feira, um consórcio liderado pela BlackRock concordou em comprar o controle de portos importantes perto do Canal do Panamá, do conglomerado CK Hutchison Holdings, sediado em Hong Kong, após pressão da Casa Branca para limitar a influência chinesa na região.

Outras grandes transações foram fechadas este ano, como o acordo da Constellation Energy para adquirir a Calpine, e a compra planejada da Intra-Cellular Therapies pela J&J, ambas anunciadas no início de janeiro.

Houve também sinais de um mercado de fusões e aquisições mais energético na Europa, onde uma série de acordos multibilionários foi anunciada nas últimas semanas.

McGuire disse à Bloomberg Invest que ainda havia trilhões de dólares em capital a serem investidos e que as empresas eventualmente teriam que colocar isso em prática para continuar a crescer.

“Faremos uma pausa por um tempo enquanto entendemos e interpretamos as implicações da dinâmica tarifária. Quando chegarmos a um novo normal, então em algum momento nos engajaremos novamente”, disse McGuire. “Será no nível em que nos engajamos historicamente? Ainda não está claro”, acrescentou ele.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Goldman lidera megavenda de portos de US$ 19 bi para consórcio da BlackRock

Brookfield busca levantar US$ 7 bi para novo fundo de infraestrutura, dizem fontes