Companhias aéreas têm perdas com real mais fraco e enchentes no Rio Grande do Sul

Queda da ordem de 11% do real versus o dólar pesou sobre as empresas, que enfrentam adversidades como o aumento dos custos de combustível e os altos juros sobre as dívidas

Por

Bloomberg — As companhias aéreas brasileiras, que já enfrentam dificuldades com as altas taxas de juros e a volatilidade dos custos de combustível, estão sendo atingidas por mais perdas, à medida que uma maior depreciação do real e os desafios climáticos testam a resiliência operacional do setor.

A Azul (AZUL4) e a Gol (GOLL4), duas das maiores companhias aéreas do país, registraram contratempos no segundo trimestre, uma vez que o enfraquecimento do real e o fechamento de um importante aeroporto após chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul do país prejudicaram seus lucros, segundo relatórios trimestrais divulgados nesta semana.

A queda do real em relação ao dólar, em particular – cerca de 11% neste ano –, pesou sobre as companhias aéreas, que enfrentaram o aumento dos custos de combustível e os altos pagamentos de juros sobre suas pesadas dívidas.

Leia também: Vale, Rio Tinto e BHP: como a fraqueza da China deve impactar o preço do minério

A moeda mais fraca elevou ainda mais os custos de combustível atrelados ao dólar e os pagamentos de arrendamento denominados em dólares no último trimestre.

As enchentes catastróficas de maio agravaram as dificuldades, paralisando o principal aeroporto do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, que continua fechado.

"A taxa de câmbio e as interrupções operacionais em Porto Alegre afetaram os custos e a oferta de voos tanto da Gol quanto da Azul, levando a um impacto negativo em seu desempenho operacional no trimestre", disse Carolina Chimenti, analista da Moody's Ratings.

As ações da Gol chegaram a cair 7,8% em São Paulo na quinta-feira (15), a maior queda desde maio, depois que a empresa divulgou um prejuízo líquido de R$ 3,91 bilhões, revertendo o lucro registrado no mesmo período do ano passado.

A companhia aérea disse que a variação cambial fez com que sua dívida bruta aumentasse em R$ 2,7 bilhões, e citou o impacto de uma queda na demanda e na capacidade de passageiros em meio ao fechamento do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

Em seu balanço trimestral, a Gol estimou que o fechamento do Salgado Filho foi responsável por perdas de receita no valor de aproximadamente R$ 120 milhões.

A empresa sediada em São Paulo, que enfrentou dificuldades durante a pandemia de covid, entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos em janeiro, após uma dúzia de tentativas de reestruturar sua dívida.

O fechamento do aeroporto de Porto Alegre também afetou severamente os ganhos da Azul, que estimou que a redução da capacidade impactou os resultados do segundo trimestre em pelo menos R$ 200 milhões.

“O Rio Grande do Sul é o quarto maior estado do Brasil em termos de atividade econômica e representava mais de 10% da nossa capacidade total”, disse o presidente-executivo da companhia aérea, John Rodgerson, a analistas em teleconferência na segunda-feira (12).

“A relevância para nós é equivalente à de Los Angeles para uma grande companhia aérea dos EUA.”

As ações da Azul despencaram 12% na segunda-feira (12), depois que a empresa divulgou prejuízo líquido de R$ 3,87 bilhões para o segundo trimestre e aumentou sua previsão de dívida líquida.

As ações recuperaram parte da queda com a valorização das ações brasileiras, embora ainda estejam em baixa na semana. Os títulos da companhia aérea são os de pior desempenho entre as empresas de mercados emergentes neste trimestre, de acordo com um indicador da Bloomberg.

Rodgerson citou a fraqueza do real, bem como os preços mais altos dos combustíveis observados no trimestre. Sobre Porto Alegre, ele disse que o aeroporto deve reabrir parcialmente em 21 de outubro, e a Azul já abriu as vendas com quase 80% de sua capacidade antes das enchentes.

"Operacionalmente, esse foi provavelmente o fundo do poço, porque houve o impacto de Porto Alegre. Mas eles também precisam gerenciar sua liquidez", disse Chimenti da Moody's sobre a Azul. Embora a empresa tenha mencionado algumas iniciativas de corte de custos, ela ainda tem "algum dever de casa a fazer", acrescentou.

A Azul foi a única entre o trio de companhias aéreas dominantes do Brasil – que também inclui a Gol e a Latam – que não pediu recuperação judicial depois que a pandemia de covid-19 abalou o setor de viagens.

Em vez disso, a empresa conseguiu adiar os vencimentos por meio de uma oferta de troca de títulos em junho de 2023.

--Com a colaboração de Leda Alvim.

Veja mais em bloomberg.com