Adeus, primeira classe: como este grupo de catering se adequa à demanda das aéreas

Com menor oferta de primeira classe e maior de executiva e premium economy, a suíça Gategourmet tem reformulado as soluções, conta o CCO para LatAm, Rodrigo Decerega, à Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — Diante das mudanças na oferta de cabines por companhias aéreas, com a redução da primeira classe e a expansão da premium economy, fornecedores do setor vêm se adequando à nova realidade do mercado.

É o caso de empresas que fornecem refeições para o serviço de bordo (catering), como a suíça Gategourmet. “À medida que as companhias aéreas reformulam as propostas de primeira classe e executiva, nós nos preparamos para atender a essas novas demandas, seja na culinária, na tecnologia ou na operação”, disse o Chief Commercial Officer (CCO) da Gategourmet na América Latina, Rodrigo Decerega.

As mudanças na oferta de cabines por parte das companhias aéreas fizeram com que o grupo se dedicasse mais para a classe executiva. “À medida que a primeira classe é eliminada, nosso foco passa a ser a business. A reformulação de proposta das aéreas vira uma oportunidade de negócios para nós”, afirmou.

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O grupo tem uma equipe dedicada para desenhar cardápios de forma conjunta com as linhas aéreas, de forma totalmente personalizada.

Esse raciocínio também vale para a tendência de crescimento da premium economy. Decerega disse que, atualmente, existe um claro esforço por parte das aéreas de oferecer uma proposta diferenciada em todas as cabines. “As aéreas não deixaram de pensar em soluções para a classe econômica e para a premium economy.

Segundo ele, muitos clientes estão apostando na premium economy nas rotas regionais, ou seja, em voos de média distância. “Auxiliamos as companhias aéreas a acomodar essa nova proposta no espaço que antes era reservado apenas para a econômica, o que demanda mais etapas no serviço de bordo, além de novos elementos e itens servidos”, disse.

Em uma operação orquestrada, 36 caminhões saem todos os dias das docas da fábrica da empresa suíça em Guarulhos e percorrem cinco quilômetros até o Aeroporto Internacional de São Paulo, o maior do país. Os veículos transportam diariamente 18.000 refeições, que abastecem os aviões de 17 companhias aéreas.

O grupo produz todas as refeições fornecidas para as aéreas em suas fábricas próprias. Na América Latina, são 14 unidades em oito países: México, Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Equador, Peru e Panamá.

“Há uma demanda por padronização. Tudo que conseguimos padronizar acaba se traduzindo em qualidade melhor e custos mais baixos”, disse o presidente da Gategourmet na América Latina, Carlos Bittar.

Na unidade de Guarulhos, os números do grupo suíço são superlativos: diariamente, 400 litros de ovos pasteurizados são usados em diferentes receitas; 1.800 quilos de hortifruti; 70.000 pães produzidos internamente; 8.000 sobremesas diversas, entre outros.

A fábrica, assim como as outras unidades da Gategourmet, tem uma linha dedicada à produção de alimentos halal, cujo processo é feito de acordo com as rígidas regras do Islã. A unidade produz, por exemplo, 900 omeletes do tipo halal por dia. Segundo Bittar, esse é um importante diferencial. “As companhias aéreas estão buscando a fidelização do passageiro.”

O grupo atende, a partir de Guarulhos, cerca de 30 voos de longo curso (internacionais) por dia. Entre os clientes estão aéreas como Qatar, Emirates e Turkish. A equipe conta com chefs de cozinha dedicados a criar e replicar receitas personalizadas para os clientes.

Ele acrescentou que um dos investimentos mais significativos da operação é feito em veículos customizados. Para abastecer o maior avião do mundo em operação, o Airbus A380 da Emirates, a Gategourmet utiliza caminhões com capacidade de até oito toneladas de carga.

“Com o aumento da demanda de nossos clientes, também cresce a necessidade de investimentos em infraestrutura, como caminhões.”

Customização antes do voo

Uma das demandas em alta no segmento de catering para aviação é o chamado “pre-order”: quando o passageiro escolhe, no momento de fazer o check-in, a refeição que ele quer consumir durante o voo. A alternativa é oferecida por algumas companhias aéreas. “Essa é uma solução muito interessante e nós precisamos estar preparados para atender”, afirmou Decerega.

A empresa também tem mais de 20 tipos de refeições especiais, que vão de pratos vegetarianos a opções sem glúten e sem lactose. As refeições são produzidas e embaladas com o nome do passageiro para que não haja risco de troca no momento do consumo.

Segundo Decerega, a demanda das aéreas na América Latina voltou aos níveis pré-pandemia, o que impulsionou o segmento de catering de aviação.

Segundo o executivo, Brasil e México são mercados igualmente importantes para a Gategourmet na região, embora apresentem características distintas.

“No México, temos seis unidades, enquanto no Brasil operamos duas, com São Paulo sendo o centro de competência para a América Latina. O México, por sua vez, se beneficia de um grande fluxo de passageiros devido à proximidade com os Estados Unidos. Mas ambos são estratégicos e se complementam em nosso negócio”, disse.

Divisões

Além dos serviços de bordo das aéreas, a Gategourmet também atua nos segmentos de lounges -- as salas VIP dos aeroportos -- e trens (na Europa), além do setor de varejo.

Decerega disse que, após os impactos da pandemia, o grupo precisou se reinventar. “Com os aeroportos fechados, precisávamos nos tornar ainda mais criativos.”

O grupo passou a atuar no segmento de food solutions, que fornece para empresas do varejo como Starbucks, Casa Bauducco e China in Box. Entre os produtos estão sanduíches e rolinhos primavera.

“Aproveitamos nossa expertise em oferecer soluções com padronização, segurança e qualidade para atender outros clientes além do setor aéreo”, contou.

Globalmente, o grupo registrou um faturamento de 4,7 bilhões de francos suíços (cerca de US$ 5,1 bilhões) em 2023 (último dado anual divulgado), com mais de 300 clientes do setor de aviação. No Brasil, Decerega disse que a empresa vai crescer com novos clientes, de forma orgânica.

“Estamos investindo constantemente para acompanhar as necessidades do setor de catering. Para o Brasil, o avanço do mercado está nos trazendo aos níveis pré-pandemia e provavelmente devemos superar esse desempenho anterior”, disse.

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