Acionista da Gol enfrenta risco de diluição acima de 60%, estima BB Investimentos

Conversão de títulos de dívida de US$ 1,2 bilhão em poder do Abra Group, holding que controla a companhia aérea brasileira, traria diluição, calcula analista Luan Calimério

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Bloomberg Línea — Os cerca de 110 mil acionistas da Gol (GOLL4) correm risco de testemunhar uma ”destruição de valor” de seus investimentos, com diluição estimada acima de 60% devido ao processo de reestruturação financeira anunciado pela companhia aérea na última quinta-feira (25). O cálculo foi apresentado em relatório elaborado pela área de equity research do BB Investimentos.

Na ocasião, a empresa entrou com pedido de proteção contra credores no Chapter 11 no Tribunal de Falências dos EUA, processo semelhante à recuperação judicial no Brasil. Nesta segunda (29), a Gol obteve aval do juiz Martin Glenn para acessar US$ 950 milhões em financiamento na modalidade debtor in possession (DIP) para apoiar as operações, apesar de ressalva quanto ao custo.

A medida anunciada deve trazer um alto custo para os acionistas, afirmou o analista Luan Calimério, do BB Investimentos, dada a possibilidade de que parte da dívida seja convertida em ações. O controlador da Gol, o Abra Group, possui cerca de US$ 1,2 bilhão em títulos de dívida.

“Em um cenário base em que o controlador realize tal conversão, estimamos um fator de diluição acima de 60% para os acionistas correntes [...] Por isso, acreditamos que a relação risco/retorno neste momento é desfavorável ao investidor e, para evitar destruição de valor, sugerimos a saída do papel”, escreveu.

O BB alterou a recomendação da ação (GOLL4) para venda, com preço-alvo de R$ 2,40 para o final de 2024 ou até que novas informações referentes ao processo sejam disponibilizadas, o que significaria melhor visibilidade ao mercado. Neste ano, até o fechamento desta terça-feira (30), o papel acumula queda de 65,6%. Encerrou hoje a R$ 2,87, menor valor em 52 semanas.

O pedido da Gol no Chapter 11 tem por objetivo equalizar a situação financeira da empresa, que, conforme demonstrativos do terceiro trimestre passado (o mais recente divulgado), possui cerca de R$ 19,5 bilhões em dívidas (financeiras e de arrendamento), dos quais cerca de R$ 3 bilhões com vencimento no curto prazo; e caixa e equivalentes de caixa de aproximadamente R$ 900 milhões.

Manutenção de voos

Para Calimério, a entrada voluntária da Gol com o pedido de proteção no Chapter 11 da justiça americana tem razão objetiva, pois as condições para continuidade das operações e para a recuperação são, historicamente, mais favoráveis no processo americano do que no brasileiro.

“De modo geral, há maior preservação dos ativos essenciais às atividades da companhia (no caso da Gol, as aeronaves), o que proporcionaria manutenção da oferta de voos e maior probabilidade de geração de caixa para futura saída do processo”, avaliou o analista do BB Investimentos.

Na última segunda-feira (29), a Gol recebeu a a aprovação do Tribunal de Falências do Distrito Sul de Nova York dos Estados Unidos para a reestruturação financeira.

Em nota, a companhia informou que “honrará todos os compromissos com parceiros de negócios e fornecedores de bens e serviços” a partir da data de início do processo, além do pagamento de salários.

Já a B3 excluirá, após o fechamento do pregão desta terça-feira (30), as ações da Gol de dez índices, incluindo o Ibovespa.

A Gol tem 108.910 pessoas físicas como investidores, 313 pessoas jurídicas e 439 institucionais, totalizando 64,79% do capital ou cerca de 218 milhões de ações PN, segundo dados da B3.

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