A divisão de sorvetes da Unilever é uma potência. Por que ela se tornou um desafio

Maior operação de sorvetes do mundo, dona de marcas como Magnum, Ben & Jerry’s e Wall’s (Kibon), vale estimados US$ 18 bi, mas encontrar sócios ou novos donos pode não ser tão fácil

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Bloomberg — William Breyer bateu à mão o seu primeiro galão de sorvete na Filadélfia ao final da Guerra Civil usando creme, açúcar de cana e nozes. Com a promessa dos melhores ingredientes, sua criação foi agitada em um grande balde com uma alça que girava um remo por dentro e vendida para seus vizinhos.

Avance no tempo quase 160 anos e, após muitas reformulações, a Breyers faz parte de uma lenta unidade de sorvetes de 17 bilhões de euros (US$ 18,4 bilhões) que a Unilever quer vender ou desmembrar.

Para Hein Schumacher, CEO da gigante global de bens de consumo, com marcas globais de produtos que vão de sabão (Omo) a caldo em cubos (Knorr), o momento do seu plano de se desfazer da maior operação de sorvetes do mundo pode ser o desafio mais difícil.

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O grupo francês de private equity PAI Partners já tem procurando vender ou abrir o capital de sua participação de 50% na Froneri, a segunda maior empresa de sorvetes do mundo, fabricante do Haagen-Dazs, que é vista por alguns como a mais inovadora e melhor administrada dessa indústria.

As apostas são altas para a Unilever.

Com um foco no crescimento de marcas como Magnum e Cornetto, a unidade de sorvetes da companhia anglo-holandesa está abaixo do esperado pelos últimos cinco trimestres.

A gestão anterior não conseguiu reverter uma queda nos volumes ou conter a repercussão negativa sobre declarações acusadas de terem sido “woke” (focadas em questões de identidade, etnia e gênero) feitas pela Ben & Jerry’s, sua marca mais conhecida.

Enquanto permanecia estagnada no segmento, a Unilever perdeu participação de mercado para a Froneri, , cuja receita subiu quase 20% em 2022, no último período reportado.

“É um momento interessante para a Unilever decidir fazer isso. A Froneri vai ser muito mais atraente para os investidores”, disse Chirag Pandya, sócio da McKinsey. “A Froneri tem a oportunidade de novos mercados, novos canais, enquanto a Unilever já é global. A unidade da Unilever é um ativo mal operado, de modo que a criação de valor acontecerá com a melhoria das operações.”

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Schumacher, no entanto, nomeado depois que o investidor ativista Nelson Peltz - que anteriormente buscou o spin off de ativos na PepsiCo e na DuPont e que busca agora interferir nos rumos da Disney - entrou para o conselho da Unilever, acredita que há mais do que o suficiente para atrair investidores.

A Unilever detém um quinto da participação de mercado global de sorvetes e tem três das cinco maiores marcas do mundo, segundo a Euromonitor. É dominante nos EUA, onde o americano médio consome mais de 7,25 kg de sorvete por ano, e recentemente lançou uma versão vegana da Breyers usando fermentação de precisão.

Na China, uma fábrica em Taicang, província de Jiangsu, agora produz 2 milhões de sorvetes das marcas Wall’s (Kibon no Brasil), Magnum e Cornetto por dia e foi reconhecida por sua tecnologia sofisticada. E, em seu país de origem, a Unilever tem desenvolvido freezers inteligentes e receitas potencializadas por IA (Inteligência Artificial) em um centro de pesquisa em Colworth, na Inglaterra, que uma vez desenvolveu uma simples ervilha congelada.

“Sorvete é verdadeiramente um negócio diferente”, disse Schumacher no início de março ao anunciar os planos de separar essa divisão junto com um plano para cortar 7.500 empregos, o que ele acredita que impulsionará o crescimento e a rentabilidade de médio prazo de um conglomerado que tem permanecido estagnado por meia década.

Interesse de gigante de private equity

O executivo holandês já reformulou e reduziu a gestão da unidade de sorvetes e trabalhou para reduzir custos, diminuindo o número de variações que produz, além de reestruturar suas cadeias de suprimentos na Europa e nos EUA. Ele agiu rapidamente, mas espera-se que os benefícios só se materializem mais tarde neste ano.

Enquanto Schumacher acha que um desmembramento é a opção mais provável - e possivelmente uma alternativa mais fácil de ser realizada do que uma venda -, algumas firmas de private equity, incluindo a KKR & Co. e a CVC Capital Partners, estão interessadas na unidade de sorvetes como um projeto de recuperação, dado que há muito que pode ser feito para melhorar o negócio, de acordo com um banqueiro que não quis ser identificado discutindo assuntos confidenciais. KKR e CVC recusaram-se a comentar.

“O negócio de sorvetes é grande o suficiente para se sustentar sozinho, mas pode ser mais forte nas mãos do parceiro certo”, disse David Samra, managing director da Artisan Partners Asset Management, acionista da Unilever. “A mensagem principal aqui é que isso operará como um negócio independente, o que cria os incentivos adequados para a liderança e permite que o negócio faça investimentos alinhados para o futuro.”

Efeito Ozempic e Wegovy

Mas ameaças mais profundas podem afastar alguns investidores do negócio de sorvetes da Unilever, bem como da Froneri. Entre elas, o avanço de medicamentos para perda de peso e diabetes, como Wegovy e Ozempic, que aumentou a pressão sobre as grandes empresas de alimentos para ajustarem sua estratégia, à medida que os gostos dos consumidores e os desejos alimentares mudam.

Outros podem se assustar com a relação conflituosa da Unilever com o conselho independente da Ben & Jerry’s. Apelidada de “woke” (ativista) por alguns críticos, nos últimos anos ele arrastou a empresa-mãe para uma crise de relações públicas após fazer declarações sobre Gaza e a guerra na Ucrânia.

Alguns fundos de pensão dos EUA até venderam ações da Unilever em 2021, depois que a Ben & Jerry’s, a marca iniciada por dois amigos em Burlington, no estado de Vermont, disse que pararia de vender sorvete na Cisjordânia, pois alegaram que isso violava as suas cláusulas contra o boicote a Israel.

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Posicionamento ativista

Um arranjo único colocado em prática quando a Unilever comprou a Ben & Jerry’s em 2000 permite que o conselho independente da marca tenha voz sobre sua missão social e qualidade do produto. Não está claro se isso continuará se a Unilever se desfazer da unidade.

Um novo proprietário seria sábio em reconhecer o valor de apelar para uma “tribo socialmente consciente” que está em ascensão, disse Dev Patnaik, diretor executivo da empresa de estratégia Jump Associates. “Aqueles que a tratam como apenas mais uma marca de sorvete provavelmente destruirão grande parte do seu valor.”

Qualquer que seja a estratégia de spin off que Schumacher acabe seguindo, ele ainda não conquistou completamente os investidores, que estão cansados de um período prolongado de desempenho abaixo do esperado e fusões e aquisições mal sucedidas.

“Embora seja positivo ver a empresa acelerando suas ambições estratégicas, essa é uma categoria de alto crescimento em que têm uma participação de mercado líder”, disse Tineke Frikkee, chefe de equity research do Reino Unido na Waverton Investment Management. A investidora da Unilever disse ter sentimentos ambivalentes sobre a proposta de separação, preocupada que isso possa realmente impedir o crescimento.

Vender divisões de negócios não necessariamente aborda problemas subjacentes mais amplos em desempenho e crescimento. E os ativos podem ser prejudicados se a Unilever tentar e falhar em reverter a situação.

“A divisão de sorvetes da Unilever está sendo alienada parcialmente porque tem um perfil de crescimento menor que o restante do grupo”, disse Dan Coatsworth, analista de investimentos na AJ Bell. “Isso cria um estigma imediato para a divisão, se ela realmente for para o mercado de ações.”

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