A China ‘não está desovando’ carros no Brasil, diz associação de importadoras

Para o presidente da Abeifa, Marcelo Godoy, a importação de veículos é o primeiro passo para que empresas estrangeiras decidam pela abertura de fábricas locais; ‘também importamos do Mercosul e da Europa’

BYD
22 de Janeiro, 2025 | 09:30 AM

Bloomberg Línea — Depois de um avanço de 141% das vendas de veículos importados em 2024 no Brasil, para 141,7 mil unidades, as empresas do setor projetam um crescimento de 24% para este ano, mesmo diante da perspectiva de um novo aumento do imposto de importação.

Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa), a chinesa BYD representou 73,3% dos emplacamentos do setor em 2024.

PUBLICIDADE

O desempenho acendeu um alerta na indústria local, que pede o retorno imediato do imposto de importação para veículos eletrificados ao patamar de 35% – o que só está previsto para ocorrer em julho de 2026.

Para o presidente da Abeifa, Marcelo Godoy, no entanto, o Brasil precisa estimular a importação de veículos para que, posteriormente, as marcas passem a produzir localmente.

De acordo com o dirigente, o país importa aproximadamente 400 mil unidades por ano (incluindo volumes de montadoras com fábricas no país).

PUBLICIDADE

“Temos importação do Mercosul, da Ásia, da Europa. Em vez de criar barreiras, o Brasil precisa fomentar tanto a indústria nacional quanto a importação. Uma de nossas associadas importa veículos, mas vai construir uma fábrica [no país]”, disse o dirigente em entrevista à Bloomberg Línea.

Leia mais: Por que os híbridos leves se tornaram a aposta da vez do setor auto no Brasil

Na semana passada, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, destacou à Bloomberg Línea o fato de que os Estados Unidos e a União Europeia estão elevando - ou ameaçam fazê-lo em breve - o imposto de importação para carros chineses e que, diante de tais barreiras, ele entende que a China está “desovando” o excesso de produção no Brasil.

PUBLICIDADE

Godoy rebateu a afirmação, destacando que as marcas chinesas representam de 15% a 20% das importações totais do setor (número que inclui os volumes trazidos por montadoras que fabricam localmente).

“A China não está desovando carros aqui”, disse o presidente da Abeifa.

Em dezembro, os portos brasileiros acumulavam 70 mil carros elétricos chineses não vendidos, conforme mostrou reportagem da Bloomberg News. Atualmente, esse volume está em cerca de 50 mil unidades.

PUBLICIDADE

Fora do Brasil, os Estados Unidos e a União Europeia têm buscado elevar as tarifas para a importação de carros elétricos chineses, o que tem sido um obstáculo para fabricantes do país como a BYD.

Na segunda-feira (20), o republicano Donald Trump afirmou em seu discurso de posse em Washington que o governo americano vai estimular a indústria local para que as montadoras voltem a crescer.

“Cada país tem sua forma de lidar com as importações. Nós temos que atrair investimentos, não afastá-los”, disse Godoy.

Antes com o imposto de importação quase zerado no Brasil, os modelos 100% elétricos tiveram majoração da alíquota em julho passado, para 18%.

No mesmo mês deste ano, o tributo subirá para 25% e, em julho de 2026, para 35%. Os carros híbridos também terão recomposição das alíquotas, a depender da tecnologia de propulsão.

Godoy disse que os importadores tiveram que se adaptar às regras vigentes e que a recomposição integral das alíquotas de maneira imediata abriria um “precedente” para outros setores.

“O Brasil precisa cumprir as regras que foram estabelecidas lá atrás, se não teremos a pecha de que o país muda as regras do jogo no meio do caminho. Isso abriria um precedente para outros setores.”

Ele acrescentou que a valorização do dólar também é um risco para o crescimento do setor. “O aumento de preços não seria imediato, porque as empresas ainda têm estoques, mas acredito que em cerca de seis meses já podemos começar a ver algum repasse.”

Segundo a Abeifa, as políticas que serão implementadas pelo governo Trump devem manter os juros altos nos Estados Unidos, o que tende a deixar o dólar em patamar elevado.

“O dólar a R$ 6 é impeditivo para quem importa, mas, se o Brasil fizer a lição de casa, podemos voltar ao patamar de R$ 5″, disse Godoy, referindo-se principalmente ao ajuste fiscal, o que, segundo o dirigente, pode ajudar a reduzir a taxa de juros e o valor do dólar.

Melhor desempenho desde 2011

As associadas da Abeifa superaram a marca de 100 mil unidades vendidas em 2024, o que não acontecia desde o início da década passada.

Em 2011, o setor teve o melhor desempenho de sua história, com 199 mil unidades emplacadas, também impulsionado pela então entrada recente de marcas chinesas no mercado, como Chery e JAC Motors.

À época, o governo lançou o programa Inovar-Auto, que visava estimular a indústria nacional. Entre as medidas implementadas, os importadores de veículos tinham que pagar não só o imposto de importação de 35% mas também o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) com uma alíquota que variava de acordo com a motorização, o que acabou encarecendo os modelos importados.

O presidente da Abeifa se disse otimista para 2025, principalmente com a perspectiva de avanço contínuo da venda de modelos elétricos e híbridos.

“Nosso crescimento se deve à oferta de veículos tecnológicos a preços acessíveis. Antigamente, o carro elétrico era muito mais caro do que o modelo a combustão”, disse Godoy.

Mais de 50% das vendas das associadas da Abeifa são compostas de veículos puramente elétricos, e outra parcela expressiva, de modelos híbridos. “O carro elétrico é muito mais simples de construir, com muita tecnologia embarcada”, disse Godoy.

Leia também

Estreia na Bolsa: o plano da Automob para crescer no setor de concessionárias

Adeus, primeira classe: como este grupo de catering se adequa à demanda das aéreas

Como o Mustang se tornou um dos destaques de vendas para a Ford no Brasil

Juliana Estigarríbia

Jornalista brasileira, cobre negócios há mais de 12 anos, com experiência em tempo real, site, revista e jornal impresso. Tem passagens pelo Broadcast, da Agência Estado/Estadão, revista Exame e jornal DCI. Anteriormente, atuou em produção e reportagem de política por 7 anos para veículos de rádio e TV.