3G Capital, de Lemann, vende toda a posição na Kraft Heinz após oito anos

Fatia de 16,1% foi vendida no fim de 2023, segundo a empresa em comunicado à CNBC; 3G promoveu a criação da gigante por meio de fusão da Kraft com a Heinz, em parceria com Warren Buffett

Por

Bloomberg Línea — A 3G Capital, empresa de investimentos de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, vendeu toda a sua participação de 16,1% na gigante global de alimentos Kraft Heinz no quarto trimestre de 2023, segundo a rede americana CNBC. O valor da operação não foi revelado.

A saída da 3G Capital marca o fim de uma era na companhia que foi formada há quase uma década em fusão orquestrada pela empresa de investimentos dos bilionários brasileiros em parceria com o também bilionário investidor Warren Buffett, com a sua holding Berkshire Hathaway.

“A 3G não esteve envolvida na gestão da Kraft Heinz (KHC) nem esteve no conselho há vários anos. Eles continuaram sendo investidores e foram tratados como qualquer investidor”, disse a Kraft Heinz em comunicado à CNBC.

“Descobrimos por meio de recente documento regulatório que a 3G se desfez completamente das ações da Kraft Heinz em 2023”, disse a companhia.

Buffett segue como principal acionista do grupo, por meio da Berkshire Hathaway.

Leia mais: Lemann diz que tenta salvar Americanas junto com sócios e cita ‘30.000 empregos’

Nos últimos anos, a 3G Capital reduziu gradualmente sua presença no conselho e na gestão da companhia. O último remanescente indireto é o atual presidente do conselho e ex-CEO do grupo, Miguel Patricio, em mudança anunciada no ano passado e efetivada no início deste ano.

O executivo, que passou duas décadas na Ambev e depois AB InBev, trabalhou antes em cargos de liderança global em gigantes como Johnson & Johnson, Coca-Cola e Philip Morris.

A Kraft Heinz foi formada em fusão concluída em 2015 entre a Kraft Foods e a Heinz, que deu origem à época ao quinto maior grupo de alimentos do mundo, com receitas somadas de US$ 28 bilhões.

A companhia tem buscado nos últimos anos melhorar seus resultados operacionais, como reflexo do que alguns analistas apontam ser um esgotamento da fórmula de busca de eficiência que consagrou Lemann, Telles e Sicupira e uma legião de executivos formados sob sua influência.

Como reflexo dos desafios à frente e do ceticismo de investidores sobre as perspectivas de retomada do crescimento, as ações da Kraft Heinz negociam desde 2019 com queda de cerca de 60% em relação ao pico registrado em 2017.

Leia mais: Sucessão na AB InBev: Marcel Telles transfere participação para o filho

Venda de ativos pelo trio

O trio de empreendedores brasileiros, que se notabilizou com a construção da maior empresa de cervejas do mundo, a AB InBev (BUD), nos anos 2000 e início dos 2010, tem reduzido gradualmente algumas de suas participações nos diversos negócios que formavam o seu império.

Um deles foi a Americanas (AMER3), em que chegaram a abrir mão do controle antes da revelação no início de 2023 de um dos maiores casos de fraudes contábeis do país, da ordem de R$ 25 bilhões.

A rede varejista acabou entrando em recuperação judicial com uma dívida acima de R$ 40 bilhões e, após acordo com credores, Lemann, Telles e Sicupira devem voltar a ampliar a sua participação na companhia.

No último fim de semana, em evento em Harvard, Lemann, 84 anos, disse que ele e seus colegas, Telles, 74 anos, e Sicupira, 75 anos, pretendem salvar a empresa, citando “30.000″ empregos em jogo.

- Em atualização.

Leia também

Lemann troca o CEO na holding do Burger King em busca de acelerar o crescimento

Kraft Heinz, de Buffett, Lemann e sócios do 3G, faz troca de comando

São Carlos, empresa de Lemann e sócios, vende R$ 865 milhões em imóveis