Bloomberg Línea — O esperado início do ciclo de redução das taxas de juros nos Estados Unidos é apontado por analistas como um dos principais fatores que podem destravar negócios na economia e no mercado de capitais do país no segundo semestre recém-iniciado.
No âmbito doméstico, a redução de “ruídos” do governo federal e a retomada de algum compromisso com o reequilíbrio fiscal podem devolver parte da confiança do mundo corporativo.
Nas últimas semanas, a equipe de jornalistas da Bloomberg Línea conversou com fontes como executivos e empresários e examinou os mais recentes relatórios de analistas de bancos e corretoras com recomendações de ações, além de estudos de consultorias, para elaborar uma lista com 10 companhias que merecem ser acompanhadas com mais atenção neste segundo semestre.
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A lista abaixo não é um ranking com critérios objetivos como projeções de receitas, Ebitda ou outros indicadores financeiros, mas, sim, uma seleção de empresas com potencial de destaque em suas respectivas áreas de atuação nos próximos trimestres. Confira a seguir:
1. Sabesp
A oferta de ações do ano no Brasil caminha para o seu desfecho nas próximas semanas, ainda que não tenha gerado a concorrência que chegou a ser antecipada pelo mercado para o acionista de referência, mas, sim, de fundos para entrar na base de capital. A privatização da Sabesp (SBSP3), com a entrada da Equatorial como sócia, gera a expectativa do início de um processo de transformação da companhia com ganhos de governança e de eficiência. Em março, a companhia concluiu a maior captação de sua história, com a emissão de quase R$ 3 bilhões em debêntures sustentáveis, o que sinaliza o seu apelo junto a investidores.
2. BTG Pactual
O maior banco de investimentos da América Latina tem atraído a atenção do mercado com sua agenda de M&A, a exemplo da compra anunciada em junho do banco M.Y. Safra, de Nova York. O deal vai fortalecer a oferta de produtos para clientes de alta renda nos EUA. Para o Goldman Sachs, o BTG Pactual (BPAC11) é sua principal escolha entre as ações do mercado de capitais no Brasil, considerando seu mix de receitas resiliente e avaliação atrativa. A instituição tem renovado recordes de receitas e captação. Uma melhora do mercado com a queda dos juros nos EUA seria um catalisador do resultado do banco.
3. Magazine Luiza
A gigante do e-commerce brasileiro está no radar de investidores e analistas que aguardam para observar os primeiros efeitos nas vendas do recém-anunciado acordo com a AliExpress para alavancar os respectivos marketplaces, em uma nova estratégia de crescimento. Além disso, a aposta de diversificação dos negócios também deve gerar mais resultados, como o caso da operação em nuvem iniciada no fim de 2023. A rede de armazenamento de dados deveria gerar economia de custos e impulsionar a lucratividade, segundo havia sido apontado por analistas de equity research nos meses finais do ano passado.
4. Dasa
O grupo de saúde deve avançar em duas frentes para reforçar os seus indicadores nos próximos meses: reduzir ainda mais a sua alavancagem, com a venda do Hospital São Domingos, no Maranhão, e do Hospital da Bahia, considerados ativos não-estratégicos; e capturar ganhos adicionais do processo de aumento de eficiência na operação dos demais hospitais, iniciado antes da joint venture recém-anunciada no segmento com a Amil, que vai resultar na transferência de quase R$ 4 bilhões em dívidas para uma terceira empresa. Além disso, a família Bueno, controladora da Dasa (DASA3), injetará R$ 1,5 bilhão.
5. Ambev
A maior empresa de cervejas do Brasil (ABEV3) poderá impulsionar seus lucros no segundo semestre com evolução de custos, crescimento do volume de cerveja no Brasil e reajuste de preços, segundo análise do Bank of America. A previsão para o clima é que a segunda metade do ano deverá ser marcada por um tempo seco na região mais populosa do país (Sudeste), o que favorece o consumo de bebidas geladas. O calendário também serve como fator de estímulo com a Olimpíada de 26 de julho a 11 de agosto, o que pode servir como driver de vendas. Por outro lado, o desafio é melhorar as vendas na Argentina e Canadá.
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6. Petz
O acordo da Petz (PETZ3) com a rival Cobasi para a fusão de suas operações pode avançar para o signing da transação após a conclusão das diligências, o que abriria espaço para o início da captura de sinergias. O prazo limite para esse passo era de 90 dias após o anúncio em abril, ou seja, o mês de julho. Medidas eventuais apontada pelo Cade podem levar a fechamento ou venda de lojas em São Paulo em razão da concentração, segundo o BTG Pactual. Analistas também monitoram a competição com marketplaces como Mercado Livre e Magazine Luiza, considerada desfavorável ao crescimento de Petz e Cobasi.
7. Vulcabras
Uma das maiores empresas (VULC3) de marcas de calçados esportivos do Brasil, como Olympikus, Mizuno e Under Armour, fundada pela família Bartelle, tem potencial de aumentar as suas vendas nos próximos trimestres, bem como licenciar outras marcas, o que poderia devolver o crescimento da receita aos dois dígitos, segundo analistas do Itaú BBA. A empresa tem ampliado a capacidade de produção, embora enfrente uma concorrência agressiva no mercado doméstico e um cenário desafiador na Argentina, destino de até 70% de suas exportações. O BB Investimentos incluiu a ação na sua carteira de small caps em julho.
8. Cimed
A companhia comandada por João Adibe Marques tem ganhado destaque e ampliado a sua área de atuação na indústria farmacêutica, para além de medicamentos isentos de prescrição médica, antigripais e vitaminas. Sua marca de hidratante labial Carmed virou case de marketing bem-sucedido. A empresa, que tem investido em linhas de dermocosméticos e suplementos, captou R$ 600 milhões em debêntures no primeiro semestre. Os recursos podem ser usados em aquisições, construção de fábricas e novos lançamentos. A Cimed persegue uma meta de faturar R$ 5 bilhões até 2025. Em 2023, alcançou R$ 400 milhões.
9. Wellhub (ex-Gympass)
A startup de benefícios de bem-estar aos colaboradores é apontada por especialistas como uma candidata a IPO nos Estados Unidos se as condições do mercado melhorarem. Seu modelo de negócios tem atraído a atenção de investidores e analistas, segundo destacado em relatórios recentes de bancos como o Santander. Um dos esforços da empresa de tecnologia cofundada por Cesar Carvalho para este ano é emplacar o novo conceito que se reflete no nome, que vislumbra uma proposta mais holística de produtos de bem-estar, desde saúde mental até física, além de expandir a presença da empresa nos Estados Unidos.
10. PicPay
A fintech da J&F Investimentos também é apontada como uma das candidatas a um potencial IPO em Nova York. Para tanto, a empresa tem acelerado nos últimos anos a evolução de seus relatórios. Depois de atingir o breakeven em setembro de 2022, “os lucros estão definidos para acelerar nos próximos trimestres (somente no primeiro trimestre atingiu o mesmo Ebitda de 2023 como um todo”, apontaram analistas do BTG Pactual em relatório. Em julho de 2023, a fintech integrou a operação de varejo do Banco Original e agora possui depósitos reais além de suas próprias capacidades de crédito.