Yields estão no maior patamar da última década, mas é preciso cautela, diz Oaktree

Em entrevista à Bloomberg Línea, Wayne Dahl e Danielle Poli, gestores de crédito global da Oaktree, contam como têm aproveitado as oportunidades no mercado no segmento

Gestores Danielle Poli e Wayne Dahl, da Oaktree
01 de Março, 2024 | 04:50 AM

Bloomberg Línea — Os juros elevados nos Estados Unidos e as sinalizações de membros do Federal Reserve de que as taxas não devem cair tão cedo têm contribuído para grandes oportunidades na renda fixa global, em especial nos países desenvolvidos. É preciso, contudo, cautela.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Wayne Dahl, gestor de crédito global da Oaktree, destacou que os yields nos papéis high yield (de maior risco e, consequentemente, maior potencial de retorno) estão atualmente no maior patamar dos últimos 13 anos, em média, com um retorno entre 8% e 9% em dólares.

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O rendimento, que se aproxima do encontrado no mercado de ações, tem deixado esse ativo no exterior mais atrativo e gerado interesse de gestores e investidores brasileiros para a estratégia, pois conseguem um yield em reais na casa dos 13% a 14%, contou o gestor em passagem por São Paulo.

Apesar do nível atraente, Dahl ressaltou que o investidor não deve baixar a guarda e que deve adotar um tom mais cauteloso neste início de ano em comparação a 2023.

“Alguns dos fatores que deixaram os EUA de fora de uma recessão em 2023, como um consumidor resiliente, podem desacelerar neste ano. Não que vemos uma recessão em alguma data específica, mas alguns fatores que suportaram os mercados em 2023 podem ser menos presentes em 2024″, afirmou.

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Fundada em 1995 nos Estados Unidos, a gestora do renomado investidor Howard Marks é especializada em investimentos alternativos e tem grande presença no mercado de crédito privado. Os ativos sob gestão totalizavam US$ 190 bilhões em dezembro de 2023, dos quais US$ 140 bilhões estavam concentrados justamente na estratégia de crédito. No Brasil, os fundos da Oaktree são distribuídos pela Gama Investimentos.

Embora a América Latina tenha historicamente ocupado grande parte da estratégia global de crédito privado da Oaktree, a preferência hoje no portfólio global da gestora tem sido por papéis de países desenvolvidos em vez dos de emergentes, dado o ciclo de juros nos EUA e o atual patamar dos yields.

O Brasil faz parte do universo de investimento da gestora, que costuma alocar capital em títulos corporativos em detrimento dos soberanos em emergentes. No momento, contudo, “há oportunidades mais interessantes em outros lugares do ponto de vista do yield e da qualidade”.

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“Com os yields do jeito que estão em mercados desenvolvidos, não sentimos que precisamos desse risco extra. Porque não importa o quanto avaliamos uma companhia, pode haver volatilidade no curto prazo dado o cenário externo”, disse Dahl.

Preferência por bens de consumo

Em um contexto de desaceleração do consumo nos EUA, o gestor da Oaktree destacou a preferência por papéis de empresas dos setores de bens de consumo, com cuidado para aqueles de caráter discricionário que podem “mudar de direção” em um contexto econômico mais desafiador.

“[A estratégia] é sobre evitar esses setores que podem ver aumento no risco de default. Como investidores de renda fixa, destacamos que os yields estão atrativos hoje, mas como Marks também diria: ‘desde que você evite defaults, você receberá aquele yield [esperado]’”, diz.

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Aumento de defauts

Segundo Dahl, o número de defaults nos EUA e na Europa tem aumentado nos últimos dois anos, mas ainda não alcançou patamares que indicariam uma recessão ou um nível elevado de estresse no mercado.

“Não estamos vendo uma causa sistêmica para defaults, tem sido mais casos ou setores específicos. Isso pode mudar se os juros ficarem altos por mais tempo. Empresas que precisam de juros baixos e têm muita dívida com certeza terão muito estresse daqui para frente e estamos vendo isso crescer no mercado”, disse.

Para mitigar tal risco, Danielle Poli, gestora de crédito global da Oaktree que também veio ao Brasil para reuniões com clientes, disse à Bloomberg Línea que analisa uma série de fatores para determinar a qualidade de uma companhia, seja a posição dela na indústria em que atua, o pricing power, bem como a governança corporativa.

Ela chamou a atenção para uma análise criteriosa dos documentos de bonds e empréstimos para entender como a companhia está posicionada caso algo dê errado.

“Ter um braço de ativos distressed nos dá expertise nessa área para trabalhar com reestruturações ou falências. Essa é uma área de estratégia que temos há bastante tempo, o que ajuda bastante.”

Em um contexto de juros elevados ao redor do mundo, Dahl destacou a importância de analisar com uma “lupa” como a empresa fará uma transição neste período de taxas mais altas.

“Tivemos muitas empresas que pegaram dinheiro emprestado a taxas bem baixas, com a expectativa de que poderiam usar esse montante para expandir seus negócios. Mas, quando emprestar dinheiro fica mais caro, alguns desses planos precisam mudar”, disse.

“E saber quais empresas são flexíveis o suficiente dentro de sua indústria e ter uma estrutura de capital para conseguir se ajustar a esse cenário de juros mais altos é algo que certamente precisa ser considerado quando analisamos os fundamentos atualmente”, completou.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.