UBS vê queda do dólar no Brasil como passageira: ‘não há gatilhos positivos’

Em evento do banco suíço em SP, Alejo Czerwonko, CIO para emergentes nas Américas do UBS Global Wealth Management, apontou resiliência do dólar, que deve chegar a R$ 6,40 no fim do ano

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Bloomberg Línea — O real tem um mês de alívio neste início de ano depois da desvalorização em particular nas últimas semanas do ano passado. O dólar disparou 27% contra a moeda brasileira no acumulado de 2024, mas entrou em correção e já recua 4% em janeiro. O movimento, no entanto, é passageiro e a moeda americana deve voltar a se fortalecer nos próximos meses, segundo estimativas do UBS.

O banco suíço estima que a divisa americana deve alcançar o patamar dos R$ 6,20 entre o primeiro e o segundo trimestres de 2025 e que passará para R$ 6,30 a partir da metade do ano; e poderá alcançar até R$ 6,40 no último trimestre do ano.

“O que vemos é uma combinação de resiliência do dólar [no âmbito internacional] e da dificuldade de encontrar gatilhos positivos no cenário doméstico”, afirmou Alejo Czerwonko, diretor de investimentos (CIO) para mercados emergentes nas Américas do UBS Global Wealth Management (GWM).

A análise foi apresentada nesta terça-feira (28) no evento Latin America Investment Conference, em São Paulo.

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A projeção do UBS é mais pessimista que o consenso de mercado no país.

A mediana das expectativas entre economistas coletadas pelo Boletim Focus estima o dólar em R$ 6,00 ao fim do ano tanto em 2025 como em 2026. Atualmente, a moeda americana está cotada a R$ 5,86, em seu menor patamar desde novembro do ano passado.

O CIO para emergentes nas Américas do UBS GWM atribuiu a queda recente do dólar aos primeiros desdobramentos da chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Em seu segundo mandato, o americano ameaçou Canadá, México e China com tarifas sobre seus produtos importados, mas ainda não implementou as sanções. O movimento contrariou as expectativas consensuais do mercado, que temia uma postura mais dura logo nos primeiros dias de mandato.

O tom mais ameno que o esperado abriu brecha para um enfraquecimento global do dólar, que beneficiou especialmente as moedas mais pressionadas, como real.

“O mês de dezembro foi terrível para os ativos brasileiros, entre eles, o real. Agora temos visto uma melhora, mas não acreditamos que seja um movimento sustentável”, disse Czerwonko em entrevista coletiva a jornalistas.

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O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, também tem registrado um início de ano positivo. O indicador acumula alta em torno de 3,6% em 2025 após queda de 10,3% no ano anterior.

O economista do UBS disse avaliar que a bolsa brasileira ainda está barata, mas sem grande atratividade.

“Os mercados emergentes são negociados com um desconto de 40% em relação aos EUA. E o Brasil, com um desconto de 40% em relação aos emergentes. Isso nos mostra que há muitas notícias negativas embutidas no preço.”

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Para o UBS GWM, o cenário fiscal segue como o principal desafio do Brasil. Czerwonko citou como exemplo a apresentação do pacote fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em novembro do ano passado. A iniciativa previa rever as despesas da União e cortar gastos, mas foi apresentada junto à proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5.000.

Para grande parte de gestores e grandes investidores, a apresentação conjunta dos temas enfraqueceu a credibilidade do governo em apresentar uma âncora fiscal. Também preocupou a perda de força das economias propostas durante a tramitação da medida no Congresso.

“Novembro foi um lembrete de que o governo não tem enviado sinais na direção de responsabilidade fiscal. E se não fizeram isso na época, vemos pouca probabilidade de que seja feito agora.”

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