Bloomberg — O crescente descontentamento com os governos de esquerda tem ajudado a alimentar uma recuperação nas ações de mercados da América Latina, do Brasil à Colômbia..
Investidores têm comprado ativos em cotações mínimas, apostando que a próxima onda de eleições, em 2026, dará origem a regimes mais favoráveis aos negócios.
Os investidores da T. Rowe Price e da Frontier Road Limited fazem apostas em ações e títulos colombianos, aproveitando os preços extremamente baixos, segundo a Bloomberg News.
Alguns fundos hedge brasileiros, como o Mar Asset Management, têm criado apostas em opções que ganham com a alta das ações.
Todos mencionam as possíveis mudanças de regime que estão por vir como parte do motivo das negociações - que ocorrem muito antes do ciclo eleitoral habitual, encorajadas por um cenário global que viu o ressurgimento de Donald Trump nos Estados Unidos e o avanço da extrema direita na Europa.
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Os investidores “estão se concentrando nessas dinâmicas mais cedo do que ocorre normalmente com o ciclo eleitoral”, disse Bret Rosen, economista e estrategista para a América Latina do fundo de hedge EMSO Asset Management.
“Os mercados prestam atenção às pesquisas eleitorais, incluindo aquelas que apresentam confrontos hipotéticos, embora não saibamos quem serão os candidatos de fato.”
O MXLA Index, índice de ações latino-americanas, tem o melhor início de ano desde 2012, registrando mais de cinco vezes o retorno do S&P 500 e o dobro do retorno de outras regiões em desenvolvimento.
As ações colombianas subiram quase 30% em dólares, já que os analistas do Morgan Stanley e da Ashmore preveem ganhos citando a eleição de maio de 2026.
No Brasil, a queda nos índices de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ou qualquer sinal de que ele não concorrerá novamente ao cargo em outubro do próximo ano - provocou grandes ganhos intradiários.
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O potencial de ganhos com uma reformulação política - combinado com os preços baratos dos ativos - é comparado ao que os investidores viram na Argentina.
A eleição de Javier Milei em 2023, com a promessa de cortar radicalmente os gastos após décadas de má administração de governos de esquerda, provocou uma das negociações mais lucrativas nos mercados emergentes no ano passado.
Uma mudança para a direita na região “tem uma enorme quantidade de implicações”, disse Porter Collins, cofundador da Seawolf Capital e um dos traders, em uma conferência de investimentos alternativos em Miami no mês passado.
O Mar, um fundo hedge sediado no Rio de Janeiro, lançado por veteranos do BTG Pactual e da 3G Capital, construiu uma aposta em opções para a recuperação das ações brasileiras. Ele comprou opções de compra de longo prazo sobre o iShares MSCI Brazil ETF, o maior fundo negociado em bolsa dos EUA que acompanha as ações locais.
Os investidores offshore despejaram cerca de R$ 1,4 bilhão em ações brasileiras em 14 de fevereiro, dia em que uma pesquisa mostrou que os índices de aprovação de Lula atingiram o nível mais baixo de todos os tempos, de acordo com dados de câmbio compilados pela Bloomberg.
Na Colômbia, a visão de que a má administração do presidente Gustavo Petro fará com que um candidato mais conservador e pró-negócios vença a próxima eleição alimentou a melhor alta de ações do mundo.
Em ambos os casos, o fato de os preços estarem muito baratos também ajudou. As ações latino-americanas são negociadas por 8,6 vezes os lucros combinados dos últimos 12 meses, bem abaixo da média histórica de 10 anos de 11,5 vezes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
“As ações estão tão baratas que tudo que é preciso é de um catalisador. E o investidor quer estar posicionado antes disso”, disse Verena Wachnitz, que administra ações latino-americanas na T. Rowe Price. “Acredito que veremos uma mudança para governos favoráveis ao mercado no Chile e na Colômbia.”
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No Chile, que realizará eleições no final de 2025, o presidente Gabriel Boric enfrenta baixa popularidade, e as primeiras pesquisas sinaliza uma mudança para o centro.
Ainda não há candidatos definidos na Colômbia e no Brasil. Petro não pode concorrer novamente, e ainda não está claro se Lula, de 79 anos, tentará a reeleição.
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Reflexos no câmbio
O ressurgimento dos mercados latino-americanos também pode ser visto nas moedas locais - que estão sendo impulsionadas pela ausência de tarifas dos EUA até o momento e pelas altas taxas de juros que apoiaram as operações de carry trade.
Brasil, Colômbia e Chile estão entre as cinco moedas de mercados emergentes com melhor desempenho este ano, com alta de pelo menos 5% cada uma em relação ao dólar.
Enquanto isso, nos mercados de crédito, os investidores estão em busca de novas opções depois de um ano em que os títulos de alto rendimento apresentaram ganhos de dois dígitos.
Martin Bercetche, gestor de um fundo hedge da Frontier Road, sediada em Londres, está fazendo uma rotação para “nomes que tiveram um desempenho significativamente inferior nos últimos dois anos” e que estão sendo negociados a cerca de 200-300 pontos-base acima dos títulos do Tesouro dos EUA, como Colômbia e Brasil.
Os investidores sabem que as eleições tendem a incluir reviravoltas inesperadas e têm desconfiado das pesquisas de opinião, principalmente no início da corrida eleitoral.
Recentemente, uma disputa mais acirrada do que o esperado queimou os investidores no Equador, fazendo com que os títulos caíssem. Ainda assim, o potencial de ganhos extraordinários é muito atraente para alguns.
“Se você esperar até as eleições para entrar no mercado, pode ser tarde demais”, disse Eduardo Alhadeff, sócio que supervisiona carteiras de crédito na Ibiuna Investimentos, sediada em São Paulo.
“A Argentina foi uma lição para os investidores globais: Nem todo mundo pegou aquela onda de alta.”
-- Com a colaboração de Giovanna Bellotti Azevedo.
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