Trade de IA? Menos ações de chips, mais de energias renováveis e data centers

Gestores e analistas analisam movimento de rotação de ações que tomou conta de Wall Street e apontam as suas preferências para ‘surfar’ a onda relacionada à Inteligência Artificial

The World AI Conference in Shanghai
Por Sangmi Cha - Ivy Chok - Natalia Kniazhevich
28 de Julho, 2024 | 02:13 PM

Bloomberg — Sinais de que investidores em ações estão ficando cautelosos com os avanços rápidos dos líderes em Inteligência Artificial (IA) destacaram alguns beneficiários menos óbvios da tendência tech.

Um aumento de sete vezes no valor das ações da Nvidia (NVDA) desde o lançamento do ChatGPT no fim de 2022 ajudou a impulsionar um rali liderado por megacaps ao redor do mundo.

Mas preocupações sobre a sustentabilidade desses ganhos, bem como tensões geopolíticas e mudanças na política monetária global, agora ampliam a busca de novos drivers do mercado.

Leia mais: Hartnett, do BofA: economia mais fraca dos EUA pode ampliar ‘selloff’ em tech

PUBLICIDADE

Investidores estão vendendo ações de gigantes da IA para comprar small caps e papéis defensivos que tinham ficado para trás.

Essa rotação coincide com a expansão do tema da IA para áreas além de chips e software e isso inclui a grande quantidade de energia e terras que o avanço da tecnologia requer, bem como quais indústrias podem eventualmente se beneficiar de sua implementação.

“Especulativamente, vimos a emergência de alguns trades relacionadas à IA fora da tecnologia em si e de comunicações”, embora esses dois grupos ainda dominem, disse Gina Martin Adams, estrategista-chefe de ações da Bloomberg Intelligence, em um webinar recente.

Ações de utilities - empresas de áreas como energia - tiveram um “aumento no otimismo no segundo trimestre relacionado à ideia de que a IA exigiria mais investimentos, bem como, em última análise, resultaria em um crescimento mais forte”.

Enquanto tecnologia e comunicações permanecem os dois setores com os principais desempenhos no MSCI World Index até o momento - com alta de 19% e 14%, respectivamente -, eles são os dois piores até agora neste trimestre. Os dois maiores ganhadores desde o final de junho foram real estate e utilities.

Veja a seguir uma visão das perspectivas para diferentes setores:

Geração de energia

O aumento na demanda de eletricidade da indústria tecnológica supera a oferta disponível em muitas partes do mundo. A Agência Internacional de Energia estima que o uso por data centers, IA e criptomoedas pode dobrar para mais de 1.000 terawatt-horas em 2026 - algo equivalente ao consumo de energia do Japão.

PUBLICIDADE

Isso colocou o foco em empresas do setor de energia ao redor do mundo, desde a Dominion Energy e a Southern nos EUA até a YTL Power International e a Gulf Energy Development PCL no Sudeste Asiático.

“Acreditamos que a ampla adoção da IA poderia ser um divisor de águas para a indústria de geração de energia”, disse Evgenia Molotova, gestor sênior de investimentos da Pictet Asset Management. “A depender da taxa de adoção, a IA pode exigir a construção de data centers de duas a três vezes o tamanho atual da indústria até 2030.”

Equipamentos

Transformadores - equipamentos que ajudam a entregar eletricidade do gerador ao usuário - estão em tamanha escassez que, se houver uma encomenda realizada hoje, essa empresa terá sorte de recebê-los em 2028, de acordo com Ken Liu, analista de utilities na China no UBS.

Essa demanda impulsionou as ações dos principais fabricantes de transformadores neste ano, o que inclui a General Electric, dos EUA, a Schneider Electric, da França, e a Hitachi, do Japão.

“A infraestrutura energética será um tema muito grande, e isso antes mesmo da inteligência artificial, que apenas aumenta a necessidade de mais consumo de energia”, disse Philipp Baertschi, diretor de investimentos do Bank J. Safra Sarasin. “Haverá oportunidades muito boas. No entanto é preciso saber que esses são negócios muito cíclicos que e há muita volatilidade.”

Leia mais: Data centers vão se tornar fábricas de inteligência artificial, diz CEO da Nvidia

Energias renováveis

O aumento dramático no uso de energia também levantou o espectro de aumento da poluição, o que chama a atenção para as ações de empresas de energia renovável. As envolvidas em energia solar, hidrelétrica, eólica e nuclear foram todas mencionadas como potenciais beneficiárias.

A China liderou o caminho em termos percentuais de energia alternativa adicionada anualmente à sua rede nacional, observou Chris Liu, gestor sênior de portfólio da Invesco.

Embora a participação de 90% da nação na produção global de células solares esteja na mira das tarifas dos governos dos EUA e da Europa, as ações de empresas com hidrelétricas, incluindo a China Yangtze Power e a Sichuan Chuantou Energy, podem ver a atenção dos investidores aumentar.

Também se destacam ações de energia alternativa em outras regiões, desde o fabricante dinamarquês de turbinas Vestas até a empresa sul-coreana relacionada ao hidrogênio Doosan Fuel Cell.

Cobre

As commodities também têm um trade relacionado à IA, com o cobre sendo um material-chave em cabos elétricos, bem como em trocadores de calor que ajudam a resfriar data centers. As ações relacionadas a essa tese de investimento incluem Freeport-McMoRan, BHP Group e Jiangxi Copper, da China.

“O consumo global de cobre provavelmente será dois milhões de toneladas maior até 2030, com mais da metade vindo dos EUA, à medida que a IA ansiosa por energia impulsiona o crescimento da capacidade dos data centers”, disse o analista da Bloomberg Intelligence Grant Sporre.

Data centers

Os data centers representam um trade que tem a ver também com a necessidade de terras para instalações de computação que estão próximas tanto de fontes de energia quanto de grandes clientes de IA.

Os principais fundos de investimento imobiliário (REITS, na sigla em inglês) que se especializam incluem Equinix, Digital Realty Trust e o Keppel DC REIT de Singapura. As ações da empresa imobiliária australiana Goodman Group subiram cerca de 36% neste ano com o impulso da IA.

O Sudeste Asiático é visto como um hotspot crescente de IA, e as empresas de telecomunicações locais, como Telekom Malaysia e Advanced Info Service na Tailândia, olham para data centers como um novo motor de crescimento.

A empresa de telecomunicações filipina PLDT busca uma avaliação de mais de US$ 1 bilhão para seu portfólio de data centers, enquanto considera uma venda parcial ou listagem do REIT.

Usuários finais

Além dos “enablers” de IA que são megacaps e nomes menos conhecidos de “pick-and-shovel”, alguns estrategistas de mercado têm se concentrado em empresas que têm a ganhar ao implementar a tecnologia para melhorar seus negócios.

O Morgan Stanley estima que as ações desses “adopters” verão um aumento médio de 27% em seu valor neste ano, à medida que os ganhos de produtividade resultantes ajudam a elevar seus resultados. O banco enxerga os setores industriais como alguns dos mais beneficiados.

“Se você olhar para os maiores nomes em capitalização de mercado, seriam empresas como Deere & Co., que estão aproveitando as informações que vêm dos equipamentos agrícolas para otimizar a agricultura”, disse Katy Huberty, diretora global de pesquisa da Morgan Stanley.

A executiva também destacou a Paccar Inc., que projeta e fabrica grandes caminhões comerciais.

A capacidade da IA de analisar grandes conjuntos de dados complexos de forma eficiente também é vista como uma vantagem para a indústria de saúde, particularmente na aceleração do processo de desenvolvimento de medicamentos.

Scott Schoenhaus, analista de tecnologia em saúde da KeyBanc Capital Markets, recomendou small caps de biotecnologia, incluindo a Recursion Pharmaceuticals e a Schrodinger, com base nessa tese.

As ações da Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC) tiveram a maior queda em mais em três meses, à medida que a negociação foi retomada em Taiwan após uma pausa de dois dias devido a um tufão, juntando-se a uma derrocada global da tecnologia diante do desânimo com as promessas da IA.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também

A professora que atrai celebridades no curso de negócios mais disputado de Harvard