Títulos da América Latina ganham impulso com a perspectiva de corte do Fed

Índice de bonds em moeda local da América Latina acumula ganhos de 1,9% até agora em agosto e caminha para o melhor avanço desde dezembro

Dívidas de governo da Colômbia, Peru, Brasil e México estavam entre as de melhor desempenho neste mês
Por Zijia Song - Vinícius Andrade
27 de Agosto, 2024 | 02:55 PM

Bloomberg — Os títulos em moeda local da América Latina marcam o maior avanço mensal neste ano, à medida que o Federal Reserve fica mais próximo de cortar a taxa de juros pela primeira vez desde o início da pandemia.

Apostas de que a flexibilização monetária se iniciará no mês que vem têm ajudado a dissipar temores sobre uma potencial recessão americana que afetaria a região, que tem laços comerciais com a maior economia do mundo.

Espera-se também que a mudança torne mais fácil para os bancos centrais locais afrouxar a política monetária sem desencadear uma saída de recursos para os Estados Unidos, o que levou operadores a aumentar os preços dos títulos em países como México, Chile e Peru em antecipação.

“Seria um vento favorável para os títulos locais dos mercados emergentes”, disse Thierry Larose, gestor financeiro da Vontobel Asset Management em Zurique.

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A dívida em moeda local de países em desenvolvimento foi arrastada para baixo durante a maior parte deste ano. A resiliência da economia americana manteve o Fed em compasso de espera, fazendo com que outras moedas se enfraquecessem em relação ao dólar.

Agora, essa dinâmica está se revertendo, removendo um empecilho para os mercados de títulos domésticos em grande parte do mundo em desenvolvimento.

A mudança é especialmente pertinente na América Latina, onde os bancos centrais aumentaram os juros mais cedo para alguns dos maiores níveis do mundo após o início da onda de inflação pós-pandemia. Isso resultou em grandes retornos no ano passado, quando os investidores aproveitaram as taxas de dois dígitos na região.

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Latam Local Bonds Stage Strongest Monthly Rally YTD

Vários países já começaram a cortar o juro — que ainda permanece bem acima daqueles dos países desenvolvidos —, e a especulação de que as taxas mais baixas americanas permitirão mais flexibilização deu outro impulso.

“Acreditamos que a maioria dos mercados emergentes tem espaço para cortar ainda mais as taxas de juros, em graus variados”, disse Alejo Czerwonko, diretor de investimentos para Emergentes Américas no UBS Global Wealth Management. “O provável início de um ciclo de flexibilização do Fed em setembro vai apoiá-los ao longo do caminho.”

O movimento ajudou um índice de bonds em moeda local da América Latina a ter ganhos de 1,9% até agora em agosto, no caminho para o melhor avanço desde dezembro.

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Se confirmado, o avanço quebraria o que tem sido uma corrida lenta contra outros mercados emergentes na Ásia e África desde junho. As dívidas de governo local da Colômbia, Peru, Brasil e México estavam entre as de melhor desempenho neste mês.

Os ganhos foram suficientes para anular o impacto da explosão do carry trade do iene, que pressionou as moedas locais, já que os fundos hedge venderam investimentos para pagar os empréstimos japoneses que financiaram as posições.

Enquanto o Brasil contraria a tendência de flexibilização, com os formuladores de política monetária mantendo o aumento dos juros na mesa devido à piora das perspectivas de inflação, a abordagem mais hawkish impulsionou o mercado de dívida longo prazo ao fortalecer a confiança dos investidores de que o banco central controlará os preços ao consumidor.

Edwin Gutiérrez, chefe de dívida soberana de mercados emergentes na Abrdn, em Londres, disse que os títulos do governo local da Colômbia e do Peru estão entre suas escolhas.

Ambos foram classificados como os de melhor desempenho em mercados emergentes neste mês, cada um entregando cerca de 3% de retorno em comparação com a média de menos de 1%, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

“Temos favorecido negociações de juros na região”, disse ele.

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