Novos tempos: taxas de juros não voltarão a zero, diz presidente do BC inglês

Em entrevista à Bloomberg TV, Andrew Bailey afirmou que novos patamares serão acima do que era praticado antes da pandemia, algo que creditou a ‘enormes choques globais’

'Não espere que voltemos a zero porque o zero foi o produto de enormes choques globais', disse Andrew Bailey
Por Irina Anghel - Francine Lacqua
01 de Agosto, 2024 | 04:53 PM

Bloomberg — O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, disse que as taxas de juros se estabilizarão acima dos níveis pré-covid, no momento em que os formuladores de política monetária passaram a cortar as taxas pela primeira vez desde o início de 2020.

“Não espere que voltemos a zero porque o zero foi o produto de enormes choques globais”, disse Bailey nesta quinta-feira (1º) em uma entrevista à Bloomberg TV, referindo-se à crise financeira global e ao choque da pandemia. “Teremos taxas mais baixas do que hoje, mas acho que está muito claro que não voltaremos a zero.”

O banco central do Reino Unido reduziu sua taxa básica de juros para 5%, 0,25 ponto porcentual abaixo do nível mais alto em 16 anos, e sinalizou que mais reduções são prováveis nos próximos meses.

No entanto, os formuladores de política monetária enfatizaram que adotarão uma abordagem cautelosa, reunião por reunião, descartando cortes consecutivos para evitar que a inflação volte a disparar.

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Bailey e seus colegas do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra (BOE, na sigla em inglês) não forneceram mais detalhes sobre o ritmo dos cortes ou o nível em que eles poderiam se estabelecer.

“Não estou dando nenhuma opinião sobre a trajetória das taxas que virão - estou dizendo que iremos de reunião em reunião, como sempre fazemos”, disse Bailey a jornalistas em Londres. “Estamos suficientemente confiantes agora e achamos que podemos reduzir um pouco o grau de restrição, e continuaremos a fazer esse julgamento.”

É provável que a queda na taxa de juros proporcione um alívio limitado para as famílias que sofrem com a crise do custo de vida. Isso é especialmente verdadeiro para os detentores de financiamentos imobiliários, um dos grupos que têm sido desproporcionalmente afetado pelo ciclo de aumento das taxas do BOE na luta contra a inflação.

O Nationwide, um dos principais credores hipotecários do Reino Unido, disse que os mutuários com um depósito de 25% enfrentam taxas fixas de cinco anos de 4,6% ao ano, mais do que o dobro da média pré-pandemia. Essas taxas já levam em conta as expectativas de que as taxas de juros cairão em um futuro próximo, de acordo com Robert Gardner, economista-chefe da Nationwide.

“É provável que o impacto seja bastante modesto, uma vez que os contratos de juros futuro que sustentam o preço das hipotecas de taxa fixa já incorporam as expectativas de que as taxas de juros cairão nos próximos anos”, disse Gardner.

O BOE também melhorou as previsões de crescimento, embora o economista-chefe Huw Pill tenha dito que a economia está saindo de um período de fraqueza após a pandemia.

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“Vimos o crescimento se recuperar em um momento em que trouxemos a inflação de volta à nossa meta de 2% - essa é uma história bastante positiva”, disse Pill em uma videoconferência de perguntas e respostas na quinta-feira.

“Infelizmente, o crescimento voltou de um patamar muito baixo. Tivemos uma recessão. Portanto, eu não exageraria o tipo de crescimento mais forte que vimos nos últimos meses. E, infelizmente, não esperamos que isso persista.”

-- Com a colaboração de Andrew Atkinson.

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