Só um choque pode derrubar ações de tech, diz estrategista da JPMorgan Asset

David Kelly diz em entrevista à Bloomberg News que movimento de valorização do setor só mudaria em caso de uma forte mudança no sentimento, como ocorreu em 2022

David Kelly, da JPMorgan Asset Management
Por Alexandra Semenova
02 de Julho, 2024 | 03:19 PM

Bloomberg — A influência das grandes empresas de tecnologia - as big techs - sobre os índices de ações dos Estados Unidos tende a persistir na ausência de uma grande retração do mercado nos moldes da que abalou os investidores em 2022, na visão de David Kelly, da JPMorgan Asset Management.

O estrategista-chefe de mercados globais está entre os profissionais de Wall Street que esperam que o crescimento dos lucros no S&P 500 vá além das big techs até o final do ano. Mas, em sua opinião, isso provavelmente não será suficiente para fechar o gap entre o desempenho das ações dessas empresas em relação aos demais papéis do índice de referência do mercado americano.

Isso significa que seria necessário uma forte mudança no sentimento do mercado para interromper o fluxo de dinheiro para as grandes empresas de tecnologia que lideraram o avanço do mercado em 2024, disse Kelly, cuja empresa administra cerca de US$ 3 trilhões.

Há dois anos, por exemplo, as ações de tecnologia foram prejudicadas pelo início do aperto do Federal Reserve e caíram mais do que o índice de referência do mercado.

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“Na próxima fase de baixa do mercado, acredito que as ações mais rentáveis serão as mais prejudicadas, como de fato foram em 2022″, disse Kelly em uma entrevista à Bloomberg News.

“É preciso haver um choque no sentimento do mercado para interromper o padrão que estamos vendo, no sentido de como as pessoas aplicam seu dinheiro.”

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As grandes empresas de tecnologia estão no topo do mercado de ações há anos, mas a influência delas nunca foi tão forte como agora.

Uma versão do S&P 500 que faz pouca distinção entre a Microsoft (MSFT) e a Macy’s (M) ficou 10 pontos percentuais atrás do índice tradicional neste ano, a diferença mais ampla já registrada para um período de janeiro a junho, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Espera-se que o crescimento dos lucros das ações das grandes empresas de tecnologia desacelere, ao passo que as demais empresas do S&P 500 devem ver os lucros acelerarem, na expectativa de muitos analistas. Os estrategistas de bancos como Morgan Stanley e Bank of America disseram que essa mudança ajudará a elevar o restante do mercado de ações.

Kelly disse prever que a diminuição da diferença entre os lucros não será suficiente para reduzir a “febre” em torno da inteligência artificial tão cedo.

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Para os investidores com um horizonte mais longo, ele recomenda que busquem oportunidades fora das grandes empresas de tecnologia, dada a extensão dos valuations dessas ações.

Por exemplo, em junho, o Índice de Tecnologia da Informação S&P 500 foi negociado a 31 vezes os lucros esperados para os próximos 12 meses, em comparação com um múltiplo de 21 para todo o S&P 500. Essa diferença de 10 pontos é a maior desde 2003, segundo dados da Bloomberg.

“O que está impulsionando o mercado é essa psicologia do momentum”, disse ele. “Quando você tem um tema específico, apenas algumas das empresas em torno do tema parecem atrair dinheiro - e uma mudança lenta na distribuição dos lucros não será realmente percebida pelos mercados ou pela psicologia do investidor.”

Por enquanto, há poucos sinais de que esse impulso esteja diminuindo. Os investidores esperam, em grande parte, um pouso suave da economia, à medida que os dados econômicos permanecem sólidos, a inflação perde força e o Fed caminha para reduzir a taxa de juros.

É um cenário "entediante", disse Kelly, acrescentando que "entediante é muito bom para os mercados".

-- Com a colaboração de Farah Elbahrawy.

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