Bloomberg — Fundos estrangeiros estão aumentando suas apostas contra o real, o transformando na moeda de pior desempenho entre as principais do mundo, em meio a uma combinação de notícias negativas locais e uma grande reprecificação das perspectivas para as taxas de juros globais.
O real está com queda de 4,5% neste mês, de longe a pior performance entre todas as principais moedas rastreadas pela Bloomberg.
Utilizando derivativos, os fundos estrangeiros adicionaram o equivalente a US$ 9,4 bilhões em posições vendidas de reais desde 9 de abril, aumentando a exposição contra a moeda para US$ 703 bilhões na terça-feira. Esse é o nível mais alto desde pelo menos 2012.
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Traders e gestores de fundos vêm destacando um tipo específico de fundo estrangeiro para explicar as quedas no câmbio. Os CTAs (commodity trading advisers ou conselheiros de negociação de commodities) são hedge funds que utilizam derivativos para negociar seguindo uma abordagem sistemática guiada por uma determinada tendência.
Com a moeda brasileira ultrapassando as principais médias móveis dos últimos meses, esses fundos começaram a olhar o real mais de perto, segundo traders de câmbio ouvidos pela Bloomberg News que não estão autorizados a falar publicamente.
A moeda teve algum alívio nesta quarta-feira (17) à medida que o sentimento melhora nos mercados globais, mas os fatores que impulsionaram a deterioração recente - incluindo uma busca por ativos seguros devido a preocupações com o aumento das tensões no Oriente Médio e a possibilidade de o Federal Reserve manter as taxas de juros mais altas por mais tempo - continuam.
O real, juntamente com a curva de juros brasileira, também recebeu um golpe adicional devido a preocupações de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não esteja comprometido em melhorar as contas fiscais.
O Congresso aprovou medidas que permitem gastos além do limite estabelecido pelo arcabouço fiscal. Nesta semana, o governo agravou ainda mais o clima ao flexibilizar sua meta fiscal para 2025. O foco em aumentar as receitas, em vez de cortar os gastos, também decepcionou os traders.
Contratos futuros com vencimento em janeiro de 2027 subiram 86 pontos-base desde 9 de abril, enquanto o contrato equivalente no México subiu 30 pontos-base.
O movimento foi tão intenso que os traders já não veem mais um corte na taxa Selic pelo Banco Central em junho como certo. As ações também estão sendo afetadas. Os estrangeiros retiraram US$ 590 milhões da bolsa brasileira neste mês.
O sentimento dos investidores está “azedando muito rapidamente”, uma vez que o governo brasileiro parece ter “jogado a toalha” no ajuste fiscal, disse o ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.
O país precisa aproveitar o momento de incerteza global para se diferenciar positivamente de outros países emergentes, de acordo com Almeida, que agora é sócio e economista-chefe do BTG Pactual (BPAC11).
--Com a assistência de Josue Leonel.
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