Real está entre os maiores beneficiários da queda do dólar, dizem gestores

Moedas de emergentes, como o real e o peso colombiano, deverão se fortalecer com a baixa da divisa americana, segundo a AllianceBernstein e a UBS Asset

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Bloomberg — O dólar (USDBRL) tem desafiado as previsões de uma baixa prolongada desde pelo menos o início do ano. Agora, contudo, os principais gestores dizem que o rali da divisa americana está com os dias contados.

O dólar enfraquece à medida que as taxas de juros nos Estados Unidos se aproximam do pico e o aperto agressivo do Federal Reserve começa a afetar a maior economia do mundo, afirmam os investidores.

Isso abrirá caminho para moedas como o iene, o dólar neozelandês e moedas de mercados emergentes, como o real brasileiro e o peso colombiano, se fortalecerem, de acordo com a AllianceBernstein e a UBS Asset Management.

A resistência do dólar tem confundido os pessimistas que haviam alertado que a moeda estava caminhando para a maior queda em vários anos após uma alta em 2022.

No entanto, há uma crescente convicção de que eles podem finalmente estar corretos, à medida que a desaceleração da inflação fortalece o argumento para o banco central dos EUA encerrar sua campanha de alta das taxas nos próximos meses.

“O dólar provavelmente atingiu o seu pico e pode haver espaço para outras moedas se saírem melhor na segunda metade de 2023 e em 2024″, disse Brad Gibson, co-chefe de renda fixa da Ásia-Pacífico na AB. Isso ocorre porque a economia dos EUA desacelerará e o Fed provavelmente começará a flexibilizar, afirmou.

A reação aos dados de arrefecimento da inflação nos EUA divulgados na quarta-feira (12) parece justificar a onda de previsões pessimistas contra o dólar.

O índice Bloomberg Dollar Spot Index, de dólar à vista, despencou para o nível mais baixo em 15 meses, com o indicador agora apresentando uma queda de mais de 11% desde o pico registrado em setembro.

Os hedge funds estavam se preparando para a fraqueza, pois se tornaram vendedores líquidos de dólar pela primeira vez desde março, de acordo com dados da Commodity Futures Trading Commission agregados pela Bloomberg.

Iene ganha destaque

Nesse contexto, os investidores estão fazendo suas apostas em quais moedas se beneficiarão da baixa do dólar.

O iene é visto como um dos principais beneficiários, com os otimistas citando fatores como o receio de uma recessão nos EUA, a redução das diferenças de rendimento e especulações de que o Banco do Japão possa ajustar sua política monetária ultraflexível nos próximos meses.

Jim Leaviss, diretor de investimentos em renda fixa na M&G Investments, que supervisiona US$ 366 bilhões, está vendendo dólares em relação ao iene.

“Há muitas oportunidades de câmbio no momento”, disse Leaviss. “Muitas moedas de mercados emergentes parecem baratas.”

Dólar mais fraco

Todas as moedas do Grupo dos Dez (G10) se fortaleceram em relação ao dólar nos últimos meses. O iene subiu 4% nas últimas cinco sessões, o franco suíço atingiu a maior alta desde 2015, enquanto o euro e a libra alcançaram seus níveis mais altos em mais de um ano.

As moedas de mercados emergentes também avançaram, com um índice da MSCI desses ativos subindo 2% este ano após uma queda de 4% em 2022. O índice do dólar da Bloomberg estendia as perdas nesta quinta-feira (13).

Para Shamaila Khan, da UBS Asset, as moedas da América Latina, incluindo as do Brasil, México, Chile e Colômbia, têm boas chances de apresentar um desempenho superior.

Todas elas se fortaleceram em relação ao dólar este ano, com o peso colombiano avançando 18% em relação ao dólar.

“Gostamos delas devido aos altos rendimentos, com retornos de dois dígitos”, disse Khan, chefe de renda fixa para mercados emergentes e Ásia-Pacífico para a gestora de ativos de US$ 1,1 trilhão. “Esperamos um dólar mais fraco na segunda metade do ano”.

Christian Abuide, do banco suíço Lombard Odier, também vê o real se fortalecendo, juntamente com o franco suíço, o euro e o iene.

“Preferimos o alto rendimento oferecido por mercados emergentes, como o real brasileiro, que se beneficia de um ambiente de queda da inflação e melhora dos balanços fiscais e externos”, escreveu Abuide, chefe de alocação de ativos, em um relatório recente.

Segundo Audrey Childe-Freeman, da Bloomberg Economics, faz sentido pensar em um desempenho mais fraco do dólar no segundo semestre se acreditar que a taxa do Fed em breve atingirá o pico, em uma história de desaceleração do crescimento dos EUA e se acreditar em um contexto de mercado favorável ao risco contínuo.

Mas nem todos têm tanta certeza

Outros têm menos certeza de que o dólar enfraquecerá ainda mais.

“Não temos assumido muitos riscos” no mercado de câmbio, disse Brendan Murphy, gestor de fundos da Insight Investment, que supervisiona mais de US$ 880 bilhões.

“Ainda temos essas taxas reais altas e crescentes, e há preocupações com o crescimento global e os EUA - em termos relativos - estão realmente se saindo melhor do que a Europa e a China.”

Há argumentos a favor de um dólar mais forte. O Fed pode manter as taxas mais altas por mais tempo se a inflação não recuar dentro da meta do banco central.

A moeda de reserva mundial também tende a se fortalecer em meio à aversão ao risco e o agravamento dos temores de recessão pode estimular uma força renovada no dólar.

No entanto, de modo geral, parece haver um consenso crescente de que os melhores dias do dólar estão chegando ao fim, pelo menos por enquanto.

“O pico das taxas de juros nos EUA ‘retira um dos suportes para o dólar’”, disse Rajeev De Mello, veterano de 36 anos nos mercados e gestor de fundos na GAMA Asset Management, que está comprando a rupia indiana e o peso mexicano em relação ao dólar.

“Essa primeira fase de compra de outras moedas além do dólar já está em andamento.”

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