Rali de tech desafia previsões mais pessimistas e otimistas de Wall St

Índice S&P 500 sobe 16% neste ano, ultrapassa preço-alvo estimado para o fim do ano e divide analistas sobre o que se deve esperar nos próximos meses

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Bloomberg — Enquanto a alta de trilhões de dólares em Inteligência Artificial (IA) ganha ritmo, Wall Street se divide na tentativa de entender se os ganhos são pontuais ou se realmente vieram para ficar.

Com o índice S&P 500 que desafia as expectativas e acumula ganhos de 16% este ano, ser pessimista e apostar contra o índice está saindo caro para gestores e analistas.

Depois de serem pegos de surpresa pela resiliência da economia dos Estados Unidos até agora, a humildade passa a ser a ordem do dia para os traders que continuam em desacordo sobre o que está por vir.

David Kostin, do Goldman Sachs (GS), espera que as ações continuem a subir, enquanto Mike Wilson, do Morgan Stanley (MS), e Marko Kolanovic, do JPMorgan (JPM), têm recomendado aos investidores que se afastem da bolsa.

No Bank of America (BAC), há um desacordo entre os estrategistas, com Savita Subramanian emergindo como uma das vozes de mercado mais otimistas enquanto seu colega Michael Hartnett diz que uma nova queda está por vir.

Algo, contudo, é certo: o S&P 500 já ultrapassou seu preço-alvo para o fim do ano.

Atualmente, os estrategistas esperam que o índice encerre 2023 um pouco abaixo de 4.100, com o fechamento de sexta-feira (30) em 4.450 – o que o deixa 8,5% acima dessa marca.

A última vez que o índice operou acima do preço de consenso foi em setembro de 2020, durante a pandemia, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Com isso, não é de se surpreender que alguns analistas de ações estejam um pouco cautelosos, esperando que suas previsões sejam confirmadas em breve, à medida que a política hawkish do Federal Reserve afeta os preços.

Outros estão demonstrando cuidado aos clientes, tentando se conter em meio à tentação de elevar as metas à medida que as big techs sobem na bolsa.

Aqueles que estão acertando – em grande parte – estão tranquilos, criticando os pessimistas por serem cautelosos demais.

“Os ursos te deixam inteligente, mas os touros te trazem dinheiro”, disse Brian Belski, do BMO Capital Markets, que recentemente elevou de 4.300 para 4.550 o seu preço-alvo para o final de ano.

O que dizem os mais céticos

Liderança restrita, risco de recessão e revisões para baixo nos lucros são algumas das principais preocupações levantadas pelos céticos.

Além disso, na segunda metade do ano, algo grande pode acontecer nos mercados ou no ciclo de consumo e investimento, confirmando aqueles que estão atualmente cautelosos em relação a ativos de risco.

No entanto, pelo menos por enquanto, o mercado continua subindo e os dados sugerem que a economia pode evitar uma recessão.

“Certamente estou entre os investidores que não previram isso e que não esperava que durasse tanto”, disse Liz Young, chefe de estratégia de investimentos da SoFi. “As pessoas que estavam cautelosas estão olhando para o mercado e se perguntando se estão perdendo algo.”

No Citigroup (C), Scott Chronert apontou para “uma falta de suporte concreto para revisões de lucros” ao decidir não aumentar sua estimativa de preço-alvo. “Por mais tentador que seja seguir o mercado e elevar nossa meta para o final de ano, simplesmente não vemos justificativa fundamental para isso ainda”, disse ele.

Nesses tempos estranhos pós-pandêmicos – onde o ciclo econômico e de mercado desafia a sabedoria convencional – os “ursos” que pareciam gênios em um trimestre correm o risco de parecerem excêntricos no próximo.

Enquanto isso, aqueles que ganharam fama apostando no boom de tecnologia temem que suas perspectivas pareçam otimistas demais se as coisas derem errado.

Quadrantes do mercado

De forma geral, ao falarmos sobre previsões do mercado de ações existem quatro quadrantes: otimista, pessimista, certo e errado, de acordo com Adam Parker, ex-estrategista-chefe de ações para Estados Unidos do Morgan Stanley.

“O pior quadrante para se estar quando se trabalha em uma dessas empresas é o de ser pessimista e estar errado, porque você não possibilitou que seus clientes se beneficiassem dos ganhos”, disse Parker, que agora é chefe de pesquisa da Trivariate Research. “Já estive lá e vivi nos quatro quadrantes – é um lugar difícil de se estar.”

Michael Kantrowitz, do Piper Sandler, está sentindo a pressão. Ele ainda vê o S&P 500 caindo para 3.225 até o final deste ano, a meta mais pessimista no mercado. Ele não tem planos de mudar sua perspectiva – ao menos por ora.

Por outro lado, John Stoltzfus, da Oppenheimer Asset Management, está aproveitando suas apostas otimistas. Em um momento do ano passado, ele previu que o S&P 500 encerraria 2022 em 5.330 – o índice fechou o ano em 3.839.

Para este ano, Stoltzfus estabeleceu um preço-alvo de 4.400 – e está pensando em aumentá-lo enquanto aguarda mais dados de inflação e emprego depois que o Fed manteve as taxas em junho.

-- Com a colaboração de Matt Turner, Mark Tannenbaum e Jessica Menton.

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