Bloomberg Línea — Com a taxa de juros no país ainda elevada que favorece a alocação em renda fixa, mas em trajetória de queda, será estratégico para gestoras e corretoras contar com os ativos mais adequados para oferecer aos investidores quando o apetite a risco e à exposição ao exterior prevalecer. Esse tem sido o foco da área de Third Party Distribution do BTG Pactual (BPAC11), comandada pelo sócio Will Landers.
Veterano da indústria de gestão para a América Latina, Landers fez carreira na BlackRock e há pouco mais de quatro anos está no BTG Pactual, em que liderou a área de equities para a região da asset. No início deste ano, assumiu a Third Party Distribution, responsável pela distribuição de fundos de terceiros.
A Third Party é um business que foi incorporado pelo BTG Pactual quando adquiriu a corretora chilena Celfin, em 2012, e que tem forte presença nos mercados andinos, nos quais fundos de pensão já possuem grande parte do portfólio alocada em fundos internacionais.
O primeiro feeder - fundo que investe em outro fundo principal - chegou ao Brasil em 2018 e conseguiu surfar nos anos seguintes a queda da Selic até o menor patamar histórico de 2% ao ano. Como pano de fundo, investidores em busca de diversificação da carteira por meio de alocação internacional.
“Todos os fundos de pensão expandiram a presença, muitos com o máximo de 10% em fundos internacionais e a maioria usando feeders para investir fora”, contou Landers em entrevista à Bloomberg Línea no escritório do BTG Pactual em São Paulo.
O momento, contudo, não durou muito. O Banco Central começou a subir os juros novamente em 2021 diante da alta da inflação até chegar aos 13,75% em junho de 2022. O movimento fez com que o mercado voltasse para ativos de renda fixa, que ofereciam baixo risco e retorno de dois dígitos.
Landers contou que tem liderado o processo de fortalecer as relações com os principais clientes (investidores institucionais, family offices etc.) para que, quando eles decidam executar a mudança para outras classes de ativos, incluindo do exterior, “tudo já esteja conectado”.
“No Brasil, é um business mais novo e o BTG tem acesso aos clientes. É uma vantagem competitiva que não há no Chile, onde esse mercado já está bem estabelecido e há uma espécie de ‘rouba-monte’ entre os players. Aqui, não, ainda existe um mundo para crescer”, disse.
De Miami ao Uruguai e ao Brasil, a frente de negócios conta com uma equipe de 15 pessoas dedicadas na região. No Brasil são três, que trabalham e distribuem fundos selecionados de casas como T. Rowe Price, AQR Capital Management, Janus Henderson, Invesco, Morgan Stanley, BlackRock, Mobius Capital e outros.
Landers avaliou que, no momento, o portfólio de fundos líquidos está completo e que deve se manter desta forma, desde que os gestores continuem a entregar o desempenho que têm obtido.
“No final, o negócio é performance. Tem que ter o retorno certo para o cliente dentro do mandato.”
Do ponto de vista de teses a que o investidor tem acesso, o executivo destacou o avanço da Inteligência Artificial como ferramenta que deve se traduzir em aumento da eficiência de empresas: outros dos grandes temas que devem continuar a ganhar ainda mais espaço no portfólio são os de biotech e o farmacêutico, caso dos remédios para perda de peso, como o Ozempic, da Novo Nordisk.
O executivo citou ainda a exploração de novas fontes de energia, visando a transição energética. São alguns dos temas mais interessantes atualmente que, segundo ele, tendem a se destacar independentemente do patamar de juros.
Melhora nas conversas
Com a renda fixa ainda muito atrativa na região, especialmente no Brasil, Landers chamou a atenção para propostas de reguladores que visam “democratizar os investimentos”, como é o caso da Resolução 175 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que, entre outros pontos, permitiu a investidores pessoas físicas o acesso a fundos de investimento que possuem 100% de seu patrimônio no exterior.
“Podemos ver uma melhora [das captações] com essa abertura do leque – desde que tenhamos uma ajuda do mercado com os juros caindo e as pessoas buscando alternativas à renda fixa local, que hoje oferece retorno real de 7% a 8%”, analisou.
Segundo ele, conversas com investidores institucionais têm melhorado. O executivo, que fica baseado em Nova York, estava em São Paulo para a entrevista justamente para reuniões com gestores e clientes.
A demanda, contudo, ainda está abaixo do visto anteriormente e de seu potencial, disse. A expectativa é a de que melhore com a queda dos juros em curso e com uma taxa entre 8% e 9% ao ano.
“Quando olhamos os juros no Brasil, vemos que o país continua a surpreender positivamente com crescimento e parte fiscal, apesar de todas as preocupações que alguns agentes do mercado têm com o governo. Então acho que, desde que o país continue com essas surpresas positivas, teremos mais espaço para o Banco Central continuar a baixar os juros.”
Ainda assim, o cenário externo continua como tema de preocupação e vento contrário, principalmente quando analisados os juros relativos às taxas americanas.
“Sempre temos que começar [a discussão de perspectiva de crescimento e de atração de investimento] com a lição de casa. Se não fizer o mínimo, o Brasil pode ficar de lado. Essa reforma fiscal que vem sendo discutida há muito tempo é necessária para termos um juro real menor no Brasil.”
O “mundo ideal”, segundo ele, seria o Banco Central baixar os juros para uma taxa real perto de 4% a 5% - está atualmente perto de 7%. Nesse cenário, isso faria com que grandes fundos de pensão tivessem maior necessidade de “fazer algo diferente com suas carteiras” e até mesmo para que traders e investidores no geral começasse a olhar para alternativas fora do Brasil.
Leia também
Gestoras de fortunas se multiplicam no Brasil e fusões crescem no segmento
Verde Asset, de Luis Stuhlberger, amplia a aposta em juros no Brasil
Brasileiro que investe no exterior entra em nova fase, diz Lee, da Avenue