Por que o SoftBank se ‘contentou’ com o IPO de US$ 4,87 bilhões da Arm

Grupo japonês que controla a empresa de design de chips resistiu à tentação de levantar mais capital na maior oferta inicial de ações do ano

Por

Bloomberg — O SoftBank resistiu à tentação de captar mais dinheiro ao levantar US$ 4,87 bilhões no IPO da Arm, na maior oferta pública inicial do ano.

Ao estabelecer o preço para as ações, Masayoshi Son, fundador, presidente e CEO do SoftBank, sinalizou que não estava disposto a minar essa demanda, mesmo que isso significasse deixar dinheiro na mesa.

Ontem, na reunião final para definição do preço, alguns banqueiros e executivos defenderam um valor mais alto, com parte do debate centrado no fato de que US$ 52 fariam sentido, disseram pessoas familiarizadas com o assunto à Bloomberg News.

No entanto, Son participou da discussão e escolheu US$ 51, dizendo que não valia a pena arriscar uma estreia saudável por cerca de US$ 100 milhões em receitas adicionais, disseram estas fontes.

Se a listagem da Arm ocorrerá de forma tranquila e abrirá caminho para outras empresas que também querem ir à bolsa só será possível saber quando as ações da fabricante de chips começarem a ser negociadas nesta quinta-feira (14).

Com o preço definido para o IPO, a Arm está avaliada em cerca de US$ 54,5 bilhões, de acordo com cálculos da Bloomberg News.

A favor da Arm, o IPO foi subscrito mais de 10 vezes, conforme agências de notícias. Isso significa que o interesse dos investidores excedeu a oferta na faixa de preço oferecida de US$ 47 a US$ 51 por ação e pode ajudar a valorizar as ações quando estas começarem a ser negociadas.

Os papéis da Arm serão negociados na Nasdaq, em Nova York, sob o código “ARM”.

Aposta longa e contínua

A abordagem de Son em relação ao IPO reflete sua aposta longa e contínua na Arm, cujos chips são encontrados na maioria dos smartphones do mundo. A Arm também deve se beneficiar da corrida desenfreada em direção aos chips de inteligência artificial e à IA generativa - uma mudança no setor que ajudou a dar à Nvidia um valor de mercado de mais de US$ 1,1 trilhão.

Fundada em 1990 como uma joint venture entre a Acorn Computers, a VLSI Technology e a então Apple Computer, a Arm foi listada na Bolsa de Valores de Londres e na Nasdaq de 1998 a 2016, quando o SoftBank adquiriu a empresa por US$ 32 bilhões.

Em 2020, o SoftBank tentou e não conseguiu vender a Arm para a Nvidia por US$ 40 bilhões. Esse movimento irritou os clientes da Arm que não queriam ver a empresa, que fornece a tecnologia fundamental usada pela indústria de telefonia móvel, cair nas mãos de um único comprador.

Pivô do IPO

Com o negócio fora de cogitação, a Arm se voltou para uma oferta pública inicial (IPO), na qual pretendia ser avaliada entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões, informou a Bloomberg News.

Embora a Arm tivesse como objetivo anterior levantar de US$ 8 bilhões a US$ 10 bilhões na listagem, essa meta foi reduzida, pelo menos em parte, porque o SoftBank decidiu comprar a participação de cerca de 25% detida por seu Vision Fund em uma transação que avaliou a comapanhia em mais de US$ 64 bilhões, com base nos registros da Arm.

O SoftBank também decidiu manter uma parcela maior das ações da Arm, deixando apenas 10% delas para investidores que incluem alguns dos maiores clientes da Arm. Como parte do IPO, a Arm reservou mais de US$ 700 milhões das ações para a Intel, Apple, Nvidia, Samsung e Taiwan Semiconductor.

Os subscritores têm a opção de comprar até 7 milhões de ações adicionais.

O IPO em questão é o maior do mundo este ano, superando a listagem de US$ 4,37 bilhões feita pela Kenvue, uma subsidiária da Johnson & Johnson voltada para a saúde do consumidor.

A oferta da Arm também pode ser um catalisador para IPOs de dezenas de startups de tecnologia e de outras companhias cujos planos de abertura de capital nos EUA ficaram paralisados durante o mais profundo período de baixa nas cotações desde a crise financeira de 2009.

A seguir, Instacart, Klaviyo e Birkenstock

A empresa de entrega de alimentos online Instacart, o provedor de marketing e automação de dados Klaviyo, a startup de internet VNG Ltd. com sede no Vietnã e a fabricante de calçados Birkenstock Holding entraram com pedido de abertura de capital.

A listagem da Arm é a maior nos EUA desde a oferta de US$ 13,7 bilhões da fabricante de veículos elétricos Rivian Automotive, em outubro de 2021. Também deve se classificar entre as maiores do setor de tecnologia de todos os tempos, embora ainda bem abaixo das duas maiores: A oferta de US$ 25 bilhões de 2014 do Alibaba e a estreia de US$ 16 bilhões em 2012 da Meta, então Facebook.

Embora a tecnologia da Arm seja usada em quase todos os smartphones, ela não é muito conhecida entre os consumidores. A Arm vende a tecnologia necessária para projetar microprocessadores e licencia a tecnologia conhecida como conjuntos de instruções que determinam como os programas de software se comunicam com esses chips.

A eficiência energética da tecnologia da Arm ajudou a torná-la onipresente nos telefones, onde a duração da bateria é fundamental.

Queda no setor de chips

O frenesi em torno da IA impulsionou uma alta nas ações de chips este ano, elevando o índice Philadelphia Semiconductor em 41%. No entanto, o setor de chips em geral ainda está enfrentando uma queda nas vendas, agravada por um excesso de estoque.

A receita da Arm caiu cerca de 1% para US$ 2,68 bilhões no ano fiscal encerrado em 31 de março, de acordo com seus registros. O lucro líquido da empresa, que saltou para US$ 549 milhões no ano fiscal de 2022, de US$ 388 milhões no ano anterior, caiu este ano para US$ 524 milhões.

Barclays, Goldman Sachs, JPMorgan e Mizuho Financial estão liderando a oferta da Arm. A Raine Securities, que é apoiada pelo SoftBank, também está atuando como consultora financeira em relação ao IPO.

-- Com a colaboração de Gillian Tan e Amy Or.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Quais serão os países mais atraentes para investir na América Latina em 2024?