Bloomberg — Há um ditado sobre como o Federal Reserve gerencia as taxas de juros nos EUA: elas sobem de escada rolante e descem de elevador. Desta vez, provavelmente ocorrerá o inverso, o que tende a frustrar investidores que apostam em uma queda mais rápida.
As taxas subiram em 2022 e 2023 no ritmo mais rápido em quatro décadas, à medida que o banco central americano buscava conter a inflação crescente. Agora, com as pressões inflacionárias diminuindo e a economia ainda forte, os diretores do Fed estão preparados para reduzir as taxas em um ritmo mais lento e potencialmente menos regular.
Nos últimos dias, alguns deles deram indicações de como isso pode ocorrer na prática e a maioria se uniu em torno de uma abordagem cautelosa e de um compasso lento nos cortes de juros. O vice-presidente do Fed, Philip Jefferson, citou o período de meados da década de 1990, quando o Fed conseguiu um “soft landing” para a economia ao reduzir as taxas, suspender o corte por três reuniões e posteriormente cortá-las ainda mais.
“O Fed pode ser paciente em todos os aspectos desta vez”, disse Lindsey Piegza, economista-chefe da Stifel Financial Corp. “O caminho a seguir, uma vez que o desenrolar do aperto da política tenha começado, provavelmente será menos uniforme e previsível do que o mercado está antecipando. O Fed não tem incentivo para correr para oferecer acomodação.”
O ritmo de cortes tem importantes implicações para consumidores e empresas – a taxa de referência do Fed influencia os juros para hipotecas, financiamento de carros e dívidas de cartões de crédito. Além disso, tende a ser um tema da eleição presidencial. A queda das taxas pode ser vista como uma vantagem para o presidente Joe Biden.
Mas os fundamentos deste ciclo de redução parecem bastante diferentes. Ao passo que o Fed normalmente reduz as taxas de juros em resposta a recessões, a economia dos Estados Unidos continuou surpreendentemente resiliente. Com uma taxa de desemprego de 3,7%, praticamente a mesma de quando o banco central começou a aumentar as taxas em março de 2022.
Essa força, juntamente com uma inflação em janeiro maior do que o previsto, reforça a abordagem cautelosa proposta pelos formuladores de políticas não apenas para o primeiro corte, mas também para cortes futuros. Os diretores também enfatizaram a necessidade de basear suas decisões em dados econômicos. O governador do Fed, Christopher Waller, disse na semana passada que o banco central deve ser “paciente, cuidadoso, metódico”.
O que diz a Bloomberg Economics:
“Não acreditamos que os cortes de juros precisem necessariamente ocorrer nas reuniões do Summary of Economic Projections (SEP), ou a cada dois meses. Isso realmente depende dos fluxos de dados. Mas esperamos uma redução de 125 pontos-base em 2024, a partir de maio”, disse Anna Wong, chefe de economia dos EUA.
“Devido à baixa taxa de desemprego e uma economia que parece estar crescendo a uma taxa de crescimento saudável, parece que a filosofia é ‘não causar danos’”, disse Kathy Jones, estrategista-chefe de renda fixa da Charles Schwab. “Há espaço suficiente para cortes se a economia enfraquecer, mas um aumento na inflação seria mais difícil.”
Os diretores do Fed receberam com satisfação a surpreendente queda nas pressões inflacionárias no final do ano passado, mas alguns têm alertado que a melhora se concentrou principalmente na energia e bens, enquanto os custos de serviços permanecem persistentemente elevados.
Os dados de emprego e inflação melhores que o esperado também mudaram as expectativas do mercado, fazendo os investidores agora apostar que o primeiro corte nas taxas ocorrerá em junho ou julho.
Os dados que serão divulgados nesta quinta-feira (29) devem mostrar que a inflação, medida pelo indicador preferido do Fed, acelerou mês a mês em janeiro, segundo as previsões dos economistas.
O Federal Open Market Committee projetou três cortes nas taxas para 2024, de acordo com a previsão mediana de oficiais em dezembro. Os formuladores de políticas atualizarão suas perspectivas na reunião de 19 a 20 de março, mas o momento dos cortes pode ser difícil de prever.
O presidente do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, defendeu na semana passada uma “redução constante e lenta” nas taxas para minimizar riscos e incertezas gerais. A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, por sua vez, disse que não é necessário fazer movimentos na taxa apenas nas reuniões em que os funcionários apresentam previsões econômicas trimestrais atualizadas, “desde que estejamos nos comunicando bem”.
Entre 2004 e 2006, Alan Greenspan adotou uma política de aumentos “comedidos” de um quarto de ponto a cada reunião, o que alguns funcionários do Fed acreditam ter levado os mercados financeiros a ficarem muito complacentes.
Uma opção é fazer cortes em duas etapas, começando com alguns cortes de um quarto de ponto, seguidos de uma pausa potencialmente longa, disseram economistas do Deutsche Bank liderados por Matthew Luzzetti em uma nota segunda-feira (26).
“É difícil para eles dizerem que estão colocando as taxas em uma trajetória descendente em relação ao que acreditam ser o nível neutro se eles não sabem qual é esse nível neutro e, especialmente, se puder ser substancialmente mais alto do que acreditavam anteriormente”, disse Luzzetti em um entrevista.
Quaisquer surpresas podem expor o Fed a críticas políticas. O ex-presidente Donald Trump disse que não indicaria novamente o presidente Jerome Powell se chegar a um segundo mandato.
“Se os movimentos parecerem aleatórios, então isso cria potencialmente uma aparência problemática”, disse Stephen Stanley, economista-chefe dos EUA da Santander US Capital Markets. “Presumivelmente, é uma resposta aos dados. Contanto que eles possam apresentar um caso crível de que são dependentes de dados, acredito que estejam bem”.
--Com a colaboração de Rich Miller.
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