Por que o Fed ainda pode subir os juros mesmo com a queda da inflação nos EUA

Diretores do banco central americano têm reforçado a visão de que a inflação subjacente continua forte e seria necessário fazer um aperto adicional

Jerome Powell, presidente do Fed
Por Sam Kim - Laura Curtis e Jonnelle Marte
17 de Julho, 2023 | 11:15 AM

Bloomberg — Autoridades do Federal Reserve parecem prontas para voltar a elevar a taxa de juros neste mês, mesmo depois de dados que mostraram forte desaceleração da inflação em junho, pois o índice permanece acima da meta do banco central.

O chamado núcleo dos preços ao consumidor — que exclui os preços voláteis de alimentos e energia — avançou 4,8% em relação ao ano anterior, mostraram dados divulgados na quarta-feira passada. Foi o menor aumento desde o final de 2021 e poderia dar ao Fed espaço para interromper os aumentos dos juros após a reunião de julho se a tendência continuar, dizem economistas.

Mas o presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, disse que o ritmo de alta dos preços ao consumidor nos EUA ainda é muito rápido, mesmo com a desaceleração em junho, reiterando o compromisso do banco central de trazer a inflação para a meta de 2%.

“A inflação está muito alta”, disse Barkin na quarta em Arnold, Maryland. “Se recuarmos muito cedo, a inflação volta forte, o que exige que o Fed faça ainda mais.”

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O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 3% em junho na taxa anual, informou o Escritório de Estatísticas Trabalhistas. O relatório ofereceu boas notícias a autoridades que buscam reduzir as pressões inflacionárias. O alívio contínuo nas principais categorias de serviços — observadas de perto pelas autoridades do Fed — pode dar flexibilidade para uma pausa ou potencialmente encerrar o ciclo de aumentos das taxas após este mês, dizem economistas.

“Definitivamente, acho que o que estamos vendo hoje apoia esse ritmo mais lento de aperto”, disse Gregory Daco, economista-chefe da EY, acrescentando que o relatório mostrou queda dos preços das passagens aéreas, de hotéis e custos de moradia. À medida que a inflação diminui, isso também vai tornar as taxas de juros reais mais restritivas e pode reduzir a necessidade de novas altas depois deste mês, disse Daco.

“Em nossa opinião, este é o último aumento de juros deste ciclo”, afirmou Daco sobre a alta da taxa básica esperada quando as autoridades se reunirem em 25 e 26 de julho.

A maioria das autoridades do Fed prevê juros mais altos este ano para abordar um recuo mais lento do que o esperado das pressões de preços e um mercado de trabalho persistentemente forte. O Fed não mexeu nos juros no mês passado e sinalizou um ritmo mais lento na campanha de aperto para avaliar como a economia responde aos 10 aumentos consecutivos e à turbulência bancária de março.

O presidente do Fed, Jerome Powell, disse no mês passado que não descarta duas altas consecutivas neste ano frente ao intervalo atual de 5% e 5,25%.

Já Neel Kashkari, que comanda o Fed de Minneapolis, afirmou que os bancos devem estar preparados para juros mais altos, caso as autoridades precisem elevar ainda mais as taxas para combater a inflação persistente.

Os mercados atualmente esperam que a inflação e as taxas de juros caiam, nesse caso, provavelmente diminuindo as pressões sobre os balanços dos bancos, disse Kashkari.

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“No entanto, se a inflação se mostrar mais arraigada do que o esperado, a taxa básica pode precisar subir, o que reduziria ainda mais os preços dos ativos, elevando a pressão sobre os bancos”, disse em ensaio publicado na quarta-feira. “Nesse cenário, as autoridades podem ser obrigadas a escolher entre combater agressivamente a inflação ou apoiar a estabilidade dos bancos.”

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