Bloomberg — Os bancos centrais da América Latina estão prestes a liderar o mundo em direção a uma onda de política monetária mais flexível. Os operadores, ao que parece, estão pagando para ver.
Os investidores no mercado taxas de juros da região - que usam derivativos de títulos para apostar em movimentos do banco central - têm precificado a mudança no Brasil e no Chile há meses, acumulando lucros ao longo do caminho.
Mas agora, conforme os cortes nas taxas de juros se aproximam lentamente da realidade, operadores que usaram a ponta curta da curva dos contratos para se posicionar estão presos a contratos a vencer e aos altos custos de reentrada - sem mencionar o risco de que os BCs reduzam as taxas mais lentamente do que o esperado.
“Muitas pessoas têm precificado muitos cortes de juros”, disse Hari Hariharan, diretor de investimentos da NWI Management em Nova York. “Essas operações não vão funcionar se os bancos centrais permanecerem com as taxas altas por muito tempo.”
O Chile, onde se espera o início do ciclo de flexibilização na sexta-feira, oferece um excelente exemplo. Os gestores já precificaram aproximadamente 640 pontos base de cortes de juros usando os contratos futuros no próximo ano - embora a inflação no país ainda esteja acima de 7%, o dobro da meta do banco central.
Gestores de recursos de todo o mundo se concentraram na América Latina este ano, antecipando as mudanças dovish dos bancos centrais da região. Os bancos centrais dos mercados emergentes foram de forma geral mais rápidos para embarcar em ciclos de alta para combater a inflação do que seus pares nas principais economias, o que é visto como uma permissão para que avancem mais rapidamente em direção a cortes. Mas o momento exato tem sido difícil para os operadores identificarem.
A espera, pelo menos, parece ter acabado. O Uruguai já começou a reduzir as taxas, e o Chile deve fazer o mesmo ainda esta semana. O Brasil, onde há meses os operadores precificam um ciclo de flexibilização, provavelmente seguirá o mesmo caminho.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e sua equipe devem reduzir a Selic entre 25 e 50 pontos-base na reunião da próxima semana, de acordo com a precificação dos contratos de juros futuros. Os investidores já precificaram 460 pontos-base de flexibilização neste ciclo – um movimento que reduziria a principal taxa de empréstimo para quase 9%, de seus atuais 13,75%, até o final de 2024.
Enquanto isso, na Colômbia, os investidores apostam que as taxas estarão quase 400 pontos-base mais baixas no próximo ano. Enquanto a inflação anual no país desacelerou em junho, com a diminuição dos preços dos alimentos, permaneceu acima de 12%. Economistas consultados pelo banco central local prevêem que os juros começarão a cair em outubro.
Dado o quanto já foi precificado, as recentes altas nas taxas locais provavelmente serão limitadas, a menos que um ressurgimento chocante da inflação atinja a América Latina, disse Jens Nystedt, gerente sênior de portfólio da EMSO Asset Management.
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