Por que estas gestoras brasileiras têm comprado títulos indexados à inflação

Legacy, Kapitalo e Blue Line estão entre as assets que montaram ou ampliaram as posições em NTN-Bs diante de fatos como a nova política de preços da Petrobras

Banco Central em Brasília: ciclo de relaxamento monetário passa por dúvidas por parte do governo (Foto: Andressa Anholete/Bloomberg)
Por Felipe Saturnino e Vinícius Andrade
11 de Agosto, 2023 | 02:24 PM

Bloomberg — O início do ciclo de corte de juros com um ritmo maior do que o esperado por parte do mercado financeiro ampliou a busca de investidores por instrumentos de proteção contra a inflação.

Fundos como Legacy Capital, Kapitalo Investimentos e BlueLine Asset Management têm montado ou aumentado posições em títulos indexados à inflação, as NTN-B, com o argumento de que a dose mais forte de redução da Selic e a nova política de preços da Petrobras podem levar a uma deterioração nas expectativas de inflação. A Kinea havia divulgado estratégia semelhante no começo do mês.

Os rendimentos das NTN-Bs com vencimento de 2 anos recuam quase 40 pontos básicos desde a decisão do Copom, em 2 de agosto, atingindo os menores patamares desde 2022 diante da forte demanda.

O Banco Central reduziu a Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, e sinalizou que uma aceleração no ritmo de flexibilização é improvável. Mesmo assim, investidores avaliam que o BC pode optar por cortes mais agressivos no futuro.

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Ao carregar títulos indexados à inflação, os gestores apostam na queda dos juros, ao mesmo tempo em que protegem seus investimentos caso a inflação surpreenda para cima. Os títulos remuneram uma taxa de juros fixa mais a inflação.

O sócio-fundador da Legacy Capital Gustavo Pessoa disse notar um risco inflacionário relacionado à política de preços da Petrobras (PETR3, PETR4). Se o petróleo continuar a subir e a estatal mantiver os preços inalterados, as expectativas inflacionárias podem avançar, segundo ele.

Aumento da demanda derruba juros dos títulos de dois anos

“Enxergamos 30% de defasagem na política de preços da Petrobras, então as NTN-Bs estão ‘grávidas’ de mais inflação”, disse Pessoa, apontando para uma precificação defasada de inflação implícita. “Nossa maior posição hoje é em Bs.”

A BlueLine Asset Management avaliou que aumentar o posicionamento em tais títulos neste momento é interessante, “assumindo que o Copom irá perseguir um processo de convergência da inflação para um patamar próximo da meta de 3% tomando mais riscos ao longo do processo de flexibilização monetária”.

A chamada inflação implícita nos títulos públicos de dois anos chegou a subir cerca de 20 pontos-base, para 4,5%, na segunda-feira (7), após o corte do BC na semana anterior.

As implícitas mais longas tiveram comportamento similar e as taxas operam perto dos níveis mais elevados em mais de dois meses. Os economistas também veem uma inflação pressionada para os próximos anos, com estimativa de 3,50% para 2025 e 2026, segundo a pesquisa Focus - ou seja, acima do centro da meta de inflação estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, de 3% para 2024 em diante.

Para Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, as expectativas de inflação no Brasil estão “emperradas” por ora. “Provavelmente reflete a expectativa de que o governo esteja inclinado a acomodar a inflação acima da meta e que as próximas mudanças na composição do Copom possam torná-lo mais dovish”, escreveu Ramos em relatório de 7 de agosto.

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Veja a seguir algumas posições de gestoras brasileiras:

Absolute

A Absolute Investimentos está com posições aplicadas em juro nominal no Brasil. Também tem apostas compradas em bolsa por aqui e nos EUA.

  • Absolute Vertex FIC: +2,42% em julho
  • Taxa de referência do CDI: +1,07%

Adam

O cenário segue abrindo oportunidades para aumentar o risco no portfólio. Atritos entre o governo e a gestão da Petrobras e agenda arrecadatória do governo são pontos de atenção à continuidade de cenário construtivo de Brasil.

  • Adam Macro II FIC: +0,81%

Bahia

A Bahia Asset Management detém posições vendidas em inflação de curto prazo, aplicadas na inclinação de curto prazo da curva de juros e compradas em Ibovespa. O fundo aposta em juros maiores de curto prazo nos EUA.

  • Bahia AM Marau FIC: +1,52%

Genoa

O fundo zerou a posição vendida em dólar contra o real e também diminuiu apostas na moeda brasileira contra uma cesta de moedas emergentes.

  • Genoa Capital Radar FIC FIM: +1,86%

Ibiuna

Ibiuna disse que reduziu taticamente as posições vendidas em dólar e compradas em moedas de carrego, como peso mexicano e real.

  • Ibiuna Hedge STH FIC: +1,09%

JGP

Ativos locais devem ter trajetória mais difícil daqui em diante após ganhos recentes. Melhor momento do fluxo cambial já ficou para trás e é de se esperar que a contribuição favorável do câmbio para a inflação decline à frente.

  • JGP Strategy FIC: +1,32%

Kapitalo

A Kapitalo aumentou a posição comprada e de valor relativos na bolsa brasileira. A gestora também informou que aumentou a posição comprada no real, no peso mexicano, na coroa norueguesa e no forint húngaro.

  • Kapitalo Kappa FIN +2,26%

Legacy

O fundo aposta em queda de juros em economias emergentes que iniciaram ou estão prestes a embarcar em um ciclo de flexibilização. Legacy tem posição líquida comprada em bolsa brasileira.

  • Legacy Capital FIC +1,77%

Verde

O fundo Verde abriu uma alocação vendida em dólar contra o real e espera que “potentes resultados” da balança comercial sigam ancorando a moeda brasileira.

  • Verde FIC FIM: +2,24%

Vinland

A Vinland vê um corte de 0,75 ponto percentual como muito provável apesar da ata do Copom. Gestora aplica em juros reais no Brasil e aposta na queda das taxas no Chile, na Colômbia e no México. As posições comprada em dólar e vendida em euro e libra foram zeradas.

  • Vinland Macro FIC FIM: +0,53%

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