Por que esta gestora americana planeja dobrar a exposição ao Brasil

Com baixo valuation das ações brasileiras, a Change Global Investment vê país com otimismo enquanto tenta reduzir as participações na China

A gestora de ativos Change Global Investment trabalha para reduzir as participações na China e entrar em alguns dos mercados com maiores descontos em todo o mundo em desenvolvimento
Por Leda Alvim - Barbara Nascimento
13 de Janeiro, 2025 | 01:59 PM

Bloomberg — A gestora Change Global Investment quer dobrar sua exposição às ações brasileiras até o final do ano, enquanto planeja reduzir a sua alocação na China para investir em alguns dos mercados mais descontados no mundo emergente.

A gestora sediada em Washington está aproveitando a liquidação que tornou o valuation das ações brasileiras uma das mais baixas em mercados emergentes, disse Thea Jamison, diretora administrativa da Change Global. Ela quer aumentar a exposição ao país para 15%, dos atuais 7%.

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“Estou otimista, não posso deixar de estar com esse tipo de valuation”, disse Jamison em uma entrevista em São Paulo. “Hoje não há nada parecido com o que estamos vendo no Brasil em outros lugares.”

  Fonte: Bloomberg

O mercado brasileiro está sob pressão com o questionamento dos investidores sobre o compromisso do governo em controlar um déficit orçamentário crescente. Os ativos do país ficaram atrás de todos os principais pares em 2024, com o real em queda de 21% em relação ao dólar e queda de 10% do Ibovespa.

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O Ibovespa é negociado a 6,79 vezes os lucros estimados, em comparação com uma proporção de 11,72 para o indicador MSCI de ações de mercados emergentes. O desconto para ações brasileiras atingiu o maior nível em quase 20 anos em janeiro. Ao mesmo tempo, o dividend yield do índice está em 7,45% enquanto as empresas aumentam os pagamentos aos acionistas.

A convergência dos dois indicadores torna o caso do Brasil ainda mais atrativo, disse Jamison, acrescentando que as ações do país são mais atraentes do que as da China.

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Ela gosta de exportadores, que se beneficiam de uma moeda mais fraca, como um hedge para companhias mais expostas ao consumo doméstico, como as empresas de atacarejo, varejistas e provedores de serviços de alimentação. A expectativa de que a Alpargatas comece a pagar dividendos até o final do ano também a torna uma ação atraente, ela acrescentou.

O amplo pessimismo entre investidores locais e grandes resgates vistos em todo o setor de fundos como resultado do aumento das taxas de juros amplificaram o pessimismo, disse ela.

Os investidores estrangeiros, que retiraram US$ 5,3 bilhões de ações do país, estão sub-alocados em Brasil conforme o país foi perdendo relevância nos últimos anos — as ações da Argentina, um mercado muito menor, têm aproximadamente o mesmo tamanho no portfólio de Jamison que sua alocação no Brasil.

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A dívida do Brasil “vai subir antes de cair”, mas há uma discussão ativa para fornecer medidas para controlá-la, disse Jamison. “Não acho que a situação seja tão ruim quanto se reflete no mercado.”

Em todos os mercados emergentes, Jamison também gosta de valuations na Arábia Saudita e na Argentina.

A gestora está se realocando para longe da China, que atualmente representa 12% de seu portfólio, pois alguns estados dos EUA emitem mandatos para que os gestores de ativos reduzam sua exposição ao país.

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