Bloomberg — Investidores em busca de uma maneira única de explorar o avanço da Inteligência Artificial (IA) no mercado de ações estão descobrindo uma oportunidade intrigante no que tradicionalmente é o setor mais estável do universo das ações: as empresas de serviços públicos, as utilities.
A IA é a palavra do momento, com empresas de tecnologia, fabricantes de computadores e até montadoras de automóveis tentando se associar a esse conceito promissor. A IA também impulsiona o rali mais recente do mercado de ações, como ficou claro na semana passada.
Na quinta-feira (25), as ações da Meta Platforms (META) tiveram seu pior desempenho desde outubro de 2022, após a empresa anunciar que gastaria muito mais do que o esperado no desenvolvimento de IA.
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No dia seguinte, por sua vez, a Alphabet (GOOGL), holding controladora do Google, ultrapassou a marca de US$ 2 trilhões em valor de mercado, enquanto as ações da Microsoft (MSFT) também subiram após ambas as empresas mostrarem progresso em IA nos resultados trimestrais.
Mas aqui está a questão sobre a tecnologia de IA: ela exige uma enorme quantidade de energia para ser desenvolvida e executada. E é aí que entram as empresas de serviços públicos.
“A demanda de energia dos centros de dados já era enorme, depois veio o hype da IA e a necessidade de energia disparou”, disse Manju Naglapur, vice-presidente sênior e gerente geral para soluções de nuvem, aplicativos e infraestrutura na Unisys. “Com todo o dinheiro gasto em centros de dados, o consumo de energia vai aumentar massivamente.”
O setor de serviços públicos do índice S&P 500 caiu 10% em 2023, seu pior ano desde 2008, e foi o subgrupo mais fraco no índice, que subiu 24% no geral.
Isso não foi exatamente um choque para investidores, considerando que as empresas tendem a ter um desempenho ruim durante períodos de taxas de juros persistentemente altas.
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As ações se recuperaram um pouco em 2024, subindo 4,4%, à medida que o controle de custos compensou despesas de refinanciamento mais altas e gastos recordes de capital.
No entanto a maior mudança no sentimento em relação às empresas de serviços públicos é a expectativa de aumento da demanda devido aos novos centros de dados sedentos de energia, necessários para a expansão da IA.
Driver para as ações
“A narrativa da IA está atraindo o interesse dos investidores”, disse Ryan Levine, que lidera a cobertura de empresas de serviços públicos no Citi. “Ela tem o potencial de ser o maior motor do setor.”
Em todo os EUA, empresas de serviços públicos estão se preparando para aumentos históricos na demanda por eletricidade impulsionados pelos centros de dados e pela IA.
Mesmo fora do Data Center Alley na Virgínia do Norte, onde a Dominion Energy pausou temporariamente novas conexões de centros de dados em 2022 devido a restrições na rede, empresas estão planejando novas usinas e linhas de transmissão.
A inteligência artificial pode ser responsável por um aumento de 900% na demanda por energia de centros de dados na região de Chicago, que poderá exigir tanta eletricidade quanto quatro usinas nucleares, disse Calvin Butler, CEO da Exelon Corp., recentemente.
A Southern Co. prevê que suas vendas de eletricidade aumentarão para um ritmo anual de 6%, sendo cerca de 80% decorrentes de centros de dados.
Isso explica por que o Goldman Sachs (GS) criou duas cestas de investimento – Power Up America e Data Center Equipment – para clientes que buscam alternativas para participar do próximo boom da IA.
Embora o banco de investimento não revele as ações que compõem as suas cestas, ele escolhe empresas com base em quatro categorias: serviços públicos regulamentados e não regulamentados, infraestrutura de redes inteligentes e materiais para geração de energia.
“Consideramos esses temas, juntamente com a cesta Broad AI do Goldman, como os mais populares nos próximos anos”, disse Faris Mourad, vice-presidente de cestas customizadas nos EUA do banco, em uma entrevista por telefone à Bloomberg News.
Até agora neste ano, a cesta Power Up subiu quase 28%, e a Data Center Equipment , mais de 18%. Esses são números impressionantes, considerando que o setor de tecnologia do S&P 500, geralmente o mais forte, subiu “apenas” 8,3% em 2024, enquanto o setor de serviços de comunicação, que inclui empresas de mídias sociais, é o grupo com melhor desempenho no índice, com uma alta de 17%.
Enquanto isso, Mourad prevê que o lucro do final do ano de 2024 da cesta Power Up America será 21% maior do que o originalmente previsto em janeiro de 2023. E ele vê mais ganhos pela frente.
Fortalecimento das redes
A disponibilidade de energia é uma fator-chave levado em conta quando os operadores de centros de dados decidem onde construir. Normalmente, eles consultam uma empresa de serviços públicos local para discutir quanto de energia precisam, e então essa empresa de utilities busca aprovação para construir uma nova usina ou comprar eletricidade de terceiros.
Por exemplo, a Georgia Power, a maior subsidiária da empresa holding de serviços públicos Southern, ganhou recentemente a aprovação da Comissão de Serviço Público da Geórgia para expandir sua capacidade em 1,4 gigawatts para atender à demanda de centros de dados e outros negócios.
“Estamos recomendando a compra da Southern com base nesta tese”, disse Levine, do Citigroup.
O acesso a fontes de energia renovável também é uma vantagem.
Aaron Dunn, co-chefe de ações de valor e gestor de portfólio na Morgan Stanley Investment Management, disse gostar da ação da NextEra Energy porque ela constrói geração renovável para sua própria unidade de serviços públicos e desenvolve renováveis para outros.
“Acreditamos que as renováveis e o armazenamento são um facilitador fundamental para atender a essa demanda crescente”, disse o CEO da NextEra, John Ketchum, durante a teleconferência dos resultados do primeiro trimestre da empresa na terça-feira (23).
“A oportunidade do mercado de renováveis e armazenamento nos EUA tem o potencial de ser três vezes maior nos próximos sete anos em comparação com os últimos sete.”
Com os desenvolvedores de centros de dados à procura de locais mais baratos, Dunn espera que o Meio-Oeste se torne um centro de atividade, já que a terra é mais barata do que em outras partes do país. “Isso também beneficia uma empresa como a CMS Energy, que opera no Michigan”, disse ele.
De fato, a CMS disse em sua teleconferência de resultados na quinta-feira que assinou um contrato para um novo centro de dados de 230 megawatts e que outras empresas estão interessadas em construir no estado.
Toda essa demanda só poderá beneficiar as empresas de serviços públicos se elas puderem produzir a eletricidade para atendê-la.
Muitos especialistas em energia estão preocupados de que a rede elétrica dos EUA não esteja preparada para lidar com a onda que está chegando. E isso tem feito com que alguns investidores procurem empresas que serão chamadas para fortalecer a rede, para que as utilities possam se adaptar ao novo ambiente de alta demanda de energia.
“Isso vai ser um desafio real para as empresas de serviços públicos tradicionais”, disse Walter Todd, diretor de investimentos da Greenwood Capital Associates, que possui ações como Eaton e Hubbell. “Os verdadeiros beneficiários desse uso de eletricidade por centros de dados são aqueles que se beneficiarão do dinheiro gasto para atualizar a rede.”
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