Popularização de medicamentos como Ozempic afeta ações de empresas de lanches

Nos últimos dias, Walmart alertou sobre impacto dos medicamentos para perda de peso em seus negócios; setor também sofre com inflação elevada

Salgadinhos
Por Lisa Pham e Katrina Compoli
07 de Outubro, 2023 | 06:40 PM

Bloomberg — As más notícias continuam se acumulando para fabricantes de alimentos, bebidas e produtos relacionados, desde lanches até chocolate e bebidas alcoólicas.

O golpe mais recente veio na forma de comentários do Walmart (WMT), que disse nesta semana que já está vendo um impacto na demanda por compras de pessoas que estão tomando medicamentos usados para perda de apetite como Ozempic, Wegovy e outros. Isso levou à queda das ações de empresas do setor.

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O índice “S&P 500 Consumer Staples” de ações de bens de consumo caiu 0,5% na sexta-feira (3), estendendo as perdas após sua pior sessão desde janeiro.

A fabricante da cerveja Modelo, Constellation Brands, e a Kellanova, a empresa por trás de produtos como Cheez-It e Pringles, tiveram quedas na sexta-feira, enquanto a fabricante da Oreo, Mondelez International, fechou no nível mais baixo desde novembro.

O índice de bens de consumo sofreu sua pior semana desde maio, com varejistas como Walmart, Costco Wholesale e Kroger também registrando perdas.

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“Quando o Walmart mencionou isso, ficou na mente dos investidores que os medicamentos para perda de peso estão realmente tendo um efeito mais amplo nessas empresas”, disse Steve Sosnick, estrategista-chefe da Interactive Brokers.

Na Europa, as empresas de alimentos e bebidas também sofreram pressão. A fabricante de chocolates Lindt e a Anheuser-Busch InBev caíram, enquanto a Nestlé recuou 2,5% na bolsa, a maior queda desde maio.

É importante destacar que as ações de bens de consumo têm caído há algum tempo, principalmente à medida que a inflação aperta a renda das famílias.

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A indústria também tende a pagar dividendos substanciais que parecem menos atrativos para os investidores em comparação com os juros de 5% de títulos públicos.

Juros pressionam setor

Em uma nota para clientes na sexta-feira (6), analistas do Barclays argumentaram que o aumento das taxas de juros, e não os medicamentos para perda de peso, tem impulsionado a recente queda nas ações de bens de consumo.

O índice S&P 500 Consumer Staples tem apresentado um desempenho significativamente inferior ao mercado em geral em 2023, e está sendo negociado no nível mais baixo em um ano após três semanas seguidas de perdas.

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Dado o rápido crescimento da popularidade dessa nova classe de medicamentos para perda de peso e um aviso antecipado de uma das maiores varejistas, isso foi o suficiente para desencadear outra rodada de selloff.

Ações de bens de consumo têm pior semana desde maio

Uma pesquisa recente realizada pelo Morgan Stanley (MS) descobriu que os pacientes tendem a reduzir refeições e lanches enquanto tomam medicamentos para perda de peso, e também consomem menos álcool e refrigerantes.

No entanto, há algum ceticismo sobre se os medicamentos realmente causarão mudanças significativas nos hábitos de compra dos consumidores. Investidores como Richard Saldanha, gestor de fundos de ações globais da Aviva Investors, alertam contra a leitura exagerada das oscilações do mercado de ações.

“Embora saibamos que esses medicamentos tendem a resultar em apetite suprimido, acreditamos que as movimentações nos preços das ações parecem um tanto exageradas”, disse ele. “É muito cedo para tirar conclusões amplas sobre o que isso pode significar para os hábitos dos consumidores.”

Busca por produtos mais saudáveis

No mês passado, o diretor financeiro em saída da Nestlé, Francois-Xavier Roger, minimizou os temores de que os novos medicamentos afetariam as grandes empresas de alimentos, afirmando que a maioria das categorias da Nestlé estava protegida.

Produtos de confeitaria, leite e derivados, além de pratos congelados representam cerca de um terço das vendas da Nestlé. Grupos de acionistas criticaram a companhia nos últimos dias por não ser ambiciosa o suficiente para tornar seu portfólio mais saudável.

Enquanto isso, o CEO da Kellanova, Steve Cahillane, disse no início desta semana que a empresa de lanches estava estudando o potencial impacto do Ozempic em comportamentos dietéticos para poder responder, se necessário.

A Conagra Brands também disse em teleconferência de resultados nesta semana que está preparada para se adaptar a possíveis mudanças nos padrões de alimentação dos consumidores, como uma mudança para tamanhos de porções menores.

Analistas do Bank of America (BAC) disseram na sexta-feira (3) que, no setor de alimentos e bebidas, empresas de álcool, lanches e bebidas não alcoólicas são as mais vulneráveis com a ampla adoção de medicamentos GLP-1, uma categoria que inclui o Ozempic.

“Produtos de gerenciamento de peso (shakes, refeições congeladas) também podem estar em risco se sua função não for mais relevante”, escreveram os analistas em uma nota aos clientes. Eles acrescentaram que é muito cedo para entender claramente o impacto a longo prazo no consumo para os pacientes que usam os medicamentos.

A PepsiCo será a primeira grande empresa do grupo a divulgar os resultados do terceiro trimestre na próxima semana.

Sosnick, da Interactive Brokers, espera que os analistas de Wall Street questionem as empresas de alimentos e bebidas nesta safra de balanços sobre o potencial impacto dos medicamentos para perda de peso em seus negócios.

“É difícil acreditar que esse tema não terá abordado por pelo menos um analista”, disse ele. “Isso está muito em evidência agora.”

-- Com a colaboração de Dasha Afanasieva, Jeremy Herron, Janet Freund e Rheaa Rao.

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