Bloomberg — O investidor Rajiv Jain se tornou o maior acionista minoritário da Petrobras (PETR3; PETR4), muitas vezes abocanhando ações quando outros investidores fugiam do papel. Agora, sua confiança na estatal brasileira passa por um dos maiores testes.
A GQG Partners, empresa de investimentos que Jain ajudou a fundar em 2016, possui cerca de 6% da petrolífera e se beneficiou de um salto de 59% no preço da ação desde meados de dezembro.
A continuidade desse rali será influenciada, em grande parte, pelo plano estratégico de cinco anos que a Petrobras anunciará nas próximas semanas.
Um aumento maior do que o previsto nos investimentos, ou pior ainda, um disparo nos gastos em projetos menos rentáveis poderia ameaçar os ganhos. Mas Jain, acostumado a montar posições que desafiam o consenso, não se deixa abalar.
“A ação subiu muito nos últimos 12 meses, mas os riscos também foram reduzidos”, disse Siddharth Jain, analista de investimentos da GQG e filho de Rajiv Jain.
“Temos aumentado a nossa posição nos últimos meses porque, mesmo depois do rali, esta ainda é, na nossa opinião, a ação ‘large cap’ mais barata do mundo”, Jain disse em entrevista à Bloomberg News.
Ele tem um ponto. Mesmo depois de a Petrobras ter visto seu valor de mercado subir R$ 176 bilhões desde as mínimas de dezembro, a ação atualmente negociada a 3,8 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses, o papel mais barato em uma cesta de 20 pares globais monitorados pela Bloomberg. O múltiplo para a estatal argentina YPF é o dobro disso.
A Petrobras divulga seu balanço do terceiro trimestre após o fechamento desta quinta-feira (9).
Novo CEO
A GQG, que também construiu posições significativas em nomes como o conglomerado indiano Adani, anunciou pela primeira vez uma participação de 5% na Petrobras no final do ano passado, quando muitos estavam preocupados com a vitória nas urnas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que constantemente criticava a condução da empresa — desde a política de preços dos combustíveis até a distribuição de bilhões de reais em dividendos.
E, embora a Petrobras pareça barata, muitos investidores continuam ansiosos com o primeiro plano de investimentos elaborado por Jean Paul Prates, indicado para a presidência da estatal pelo governo Lula.
Analistas do Goldman Sachs liderados por Bruno Amorim disseram esta semana que veem o anúncio como um “risco potencial de curto prazo”.
Prates já começou a fazer mudanças. A produtora de petróleo revelou uma nova política em julho que reduziu o pagamento de dividendos. O conselho também propôs alterações no estatuto social da Petrobras que poderiam reduzir o espaço para futuros pagamentos extraordinários.
Para a GQG, essa não é uma mudança radical o suficiente para fazer o fundo voltar atrás na aposta. “Houve algumas mudanças com as quais não concordo necessariamente, mas as coisas não estão tão ruins”, disse Siddharth Jain.
Agora, com o plano plurianual, vem o verdadeiro teste.
O plano
Os investidores esperam que o capex seja superior ao valor de US$ 78 bilhões do plano anterior, com estimativas de analistas de bancos e gestoras variando entre US$ 85 bilhões e US$ 95 bilhões, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Prates sinalizou que a Petrobras pretende destinar até 15% de seus investimentos totais para projetos de energia renovável e baixo carbono.
“O capex vai subir, mas não esperamos nenhum aumento enorme, como dobrar os investimentos – leva muito tempo para que esses projetos passem pelo processo de aprovação”, disse Jain.
Embora uma aquisição em grande escala ou um aumento mais agressivo no investimento sejam preocupantes, o fundo está dando à Petrobras “o benefício da dúvida por enquanto”, disse ele.
Outros investidores também apostaram fortemente na Petrobras.
Andrew Keiller, sócio da Baillie Gifford & Co que supervisiona o fundo Baillie Gifford Emerging Markets Equities, começou a montar sua posição em Petrobras por volta de 2016 e 2017.
A ação agora representa 5,6% do fundo, sua terceira maior posição, o que levou Keiller a fazer “pequenas reduções” recentemente. A aposta em Petrobras foi a maior contribuidora para os ganhos do fundo nos últimos cinco anos.
Alguns investidores citam lições aprendidas com a Lava Jato. O espaço para mudanças dramáticas diminuiu, segundo André Lion, gestor de portfólio da Ibiuna Investimentos e veterano de três décadas do mercado brasileiro.
“Essa alteração do estatuto é boa? Claro que não é boa. Mas é o fim da tese? Não é”, disse Lion. “A Petrobras era uma aluna nota 9,5 e vai terminar o mandato nota 6.”
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